Quando nasceu, há mais de 30 anos, a multinacional Thoughtworks já tinha o propósito de focar nas políticas de diversidade, equidade e inclusão. A consultoria de tecnologia tem escritórios distribuídos entre 19 países, sendo um deles em Porto Alegre, no Tecnopuc.
Segundo Grazi Pereira, head de people da organização (diretora de pessoas na América Latina), “pensar em soluções sob diversas perspectivas é um diferencial competitivo, além de promover um resultado positivo para as pessoas, para os times, para as clientes e para a sociedade”.
Confira, abaixo, a entrevista com ela:
A Thoughtworks já nasceu com o foco na diversidade, equidade e inclusão ou isso foi sendo implementado ao longo dos anos?
A Thoughtworks foi fundada em 1993, em Chicago, e já nasceu com o foco na diversidade, equidade e inclusão, isto não é algo novo para nós, está no nosso DNA. Desde lá entendemos a nossa responsabilidade em prol da mudança social positiva e defendemos um futuro tecnológico mais justo para todas as pessoas. Sabemos desde o princípio que não há como desenvolver soluções verdadeiramente inclusivas sem times diversos, isto é certo. Se a equipe for homogênea, a solução provavelmente terá apenas uma perspectiva, mas em times diversos, considerando raça, gênero, etnia, PCDs e geração, por exemplo, cada pessoa olhará para a solução usando a sua lente, a sua história e isto certamente contribuirá para uma solução mais inovadora, inclusiva e justa. Na Thoughtworks, levamos isto tão a sério que temos targets de diversidade, que são monitorados constantemente. Somos intencionais quando estamos fazendo recrutamento, com vagas afirmativas para pessoas com deficiência, ou processos de recrutamento para pessoas de recorte racial ou de gênero. Além disso, sempre que estamos analisando dados ou realizando processos internos as análises dos percentuais de diversidade estarão presentes, seja em processos de revisão salarial ou priorizando nomes para programas de capacitação, sempre monitoramos os reflexos das nossas decisões nos grupos de diversidade. É preciso ser intencional, não basta ser uma empresa diversa, é preciso gerar alavancas, políticas e processos que preservem esta diversidade. Também trouxemos ao Brasil o Thoughtworks University (TWU), um programa imersivo de aprendizagem para quem está começando na área de tecnologia, com o objetivo de alavancar a diversidade e aumentar o número de pessoas negras dentro da companhia. Durante um período de sete semanas, elas aprendem não apenas a criar software, mas também sobre valores e práticas da cultura da Thoughtworks. Assim como na versão global do programa, entregamos conteúdo prático, tecnicamente relevante e alinhado às prioridades do negócio, acelerando a adaptação e o impacto dos participantes do programa. Também contamos com grupos de afinidades dedicados a fomentar diálogos significativos sobre uma ampla gama de temas. Esses grupos incluem pessoas negras, a comunidade LGBTQIAP+, pessoas neuroatípicas, entre outras, funcionando como espaços de troca de experiências, feedbacks construtivos e sugestões. Os grupos se reúnem regularmente com o Conselho de Diversidade, Equidade e Inclusão, compartilhando o que tem funcionado, abordando eventuais dificuldades e apresentando ideias para ações e melhorias. Essa iniciativa reflete ainda mais o nosso compromisso de promover uma cultura inclusiva e inovadora, onde cada voz é valorizada.
Como se reflete a prática ESG, principalmente o “S”, no ambiente de trabalho e no atendimento aos clientes?
Na sigla ESG, o S significa Social e isto sem dúvida se reflete no dia a dia de todas as pessoas na Thoughtworks e de nossos clientes. Na Thoughtworks todas as pessoas são responsáveis por nosso compromisso com a transformação social. Acreditamos que independente de como as pessoas se identificam, todas elas merecem ser tratadas com empatia, respeito e igualdade de oportunidades. E, para isto, cultivamos um ambiente diverso, seguro e temos conversas complexas, pois acreditamos que assim crescemos e compreendemos as implicações sociais e isto nos inspira a agir em prol do nosso propósito. Quando temos ambientes diversos e seguros, as pessoas podem ser quem elas são no dia a dia e passamos a ter uma alta capacidade de resolução de problemas complexos, imagine isso sendo aplicado nos desafios de negócio dos nossos clientes! Nós sabemos que a tecnologia está ganhando cada vez mais espaço nos desafios e negócios e sabemos que temos a responsabilidade de questionar constantemente o impacto desta tecnologia na sociedade, de construir soluções éticas e responsáveis, sempre livre de vieses. E nestes casos os times diversos são novamente um diferencial. Não há como criar um ambiente seguro para um recorte se você não tem uma pessoa deste recorte trabalhando, guiando ou criando políticas para esta construção.
Quais são os benefícios de se ter uma equipe diversa? Pode citar resultados da implementação dessa prática nos negócios?
Um dos resultados de se ter uma equipe diversa é a construção de soluções realmente inclusivas. Temos clientes de várias áreas de atuação e muitos deles nos procuram para pensarmos em soluções que serão utilizadas por milhares de pessoas e, certamente este grupo de usuários não é homogêneo. Portanto, o time que o construirá também não deve ser, só assim será possível antecipar os diferentes pontos de vista daqueles que futuramente utilizarão a solução. Pensar em soluções sob diversas perspectivas é um diferencial competitivo, além de promover um resultado positivo para as pessoas, para os times, para as clientes e para a sociedade. Quando estamos trabalhando na construção de uma solução tecnológica temos que ter em mente que ela será estendida para muitas pessoas, às vezes milhares. E considerando que neste grupo de usuários poderá haver pessoas com deficiência visual, motora, auditiva, intelectual, pessoas de diferentes culturas, gêneros, raças, etnias, idades e que falam diferentes idiomas, por exemplo, a solução precisará antecipar isto, ou ela poderá não cumprir com o seu propósito, acabará sendo seletiva e inacessível. Pense em uma solução de venda de um produto que deixa de vender, pois o usuário não conseguiu ler a tela, não tinha o seu idioma como opção para seleção, ou um aplicativo que tem vídeos, mas não tem legendas, ou um algoritmo de busca que tem vieses e um possível cliente nunca encontra o que procura. Quando temos times diversos, a experiência destas pessoas, as histórias de vida, são valorizadas, fazem a diferença na solução final, seja melhorando um design da solução tornando-o acessível, seja garantindo um código responsável.
Em seu site, a Thoughtworks cita como um dos propósitos “ampliar a mudança social positiva e defender um futuro tecnológico mais justo.” Pode-se dizer que além de uma marca da empresa, o foco em diversidade, equidade e inclusão também se transformou no próprio negócio?
Sem dúvida este é um diferencial nosso, desde a nossa fundação, faz parte do nosso negócio, está nos nossos valores e no nosso porquê. Acreditamos verdadeiramente que temos uma responsabilidade e precisamos nos posicionar sobre como a tecnologia pode ser benéfica para toda a sociedade, e gerar um futuro mais igualitário. Isto exige que estejamos em constante aprendizado, sobre os tópicos importantes para as causas que acreditamos. Isto exige que tenhamos times cada vez mais diversos e que as pessoas possam ser elas mesmas no trabalho, para que toda a sua potencialidade possa ser aplicada em contribuir para soluções para os nossos clientes, para cultivar e apoiar o seu entorno, e que para elas cresçam e se desenvolvam pessoal e profissionalmente.