Trazer os princípios do ESG para o coração das empresas vai além do discurso ao se transformar em oportunidade de negócio. De Feliz, no Vale do Caí, para o mundo, a Plastiweber se coloca no mercado como uma referêncina na economia circular de embalagens para a indústria. A pauta ambiental é a essência nas suas estratégias, mas vem embalada por um forte comprimisso social e empresarial.
— Precisamos de provocação para que tome corpo. Porque, efetivamente, tem muito a ser feito. A oportunidade na gestão de resíduos é gigantesca — diz o CEO da companhia, Moisés Weber.
Nesta seção, o Retoma RS traz depoimentos de empresários que adotaram as práticas e já colhem resultados nas suas companhias. Confira a entrevista com o gestor da Plastiweber:
Como começou a implementação das práticas ESG?
Não buscamos o ESG, porque, de certa forma, crescemos dentro dele. Muito por princípios de uma empresa familiar que acabaram nos levando para esse caminho. Depois é que fomos descobrir o conceito. Começamos a vender filme para estufas, aquele material que faz a cobertura. E, aí, em algum momento, o Lauro, nosso pai, recomentou que o fabricássemos. Começamos uma fábrica muito pequena, e, no ano seguinte, os agricultores já nos perguntavam o que fazer com o filme usado.
Então, um ano depois, surgiu esse problema/oportunidade e fomos atrás de uma solução para reciclar. Trata-se de um plástico flexível, diferente do PET, que é rígido. É mais difícil de reciclar, mas começamos. Só que não se podia mais fazer com ele um novo filme de estufa. Ficou então para embalagens, e começou a dar certo. Viramos uma inovação muito legal, que, até hoje, nos orgulhamos. Conseguimos fazer uma embalagem secundária que atende aos requisitos mais exigentes da indústria alimentícia.
A sustentabilidade, então, virou o negócio da empresa?
Sim. Conseguimos fazer a transição de uma embalagem reciclada só por custo, e, hoje, praticamente a metade dos nossos clientes são grandes empresas e grandes marcas como Ambev, Unilever, Nestlé, M. Dias Branco... que embalam os seus produtos na embalagem secundária. Somos o maior fabricante de plástico bolha do Brasil, 100% reciclado. Nossas demais embalagens, em média, são 85% matéria-prima reciclada pós-consumo. Isso é extremamente importante porque todo o problema ambiental está relacionado ao pós-consumo, não ao pós-industrial.
Como vê a evolução deste negócio?
Na reciclagem do PET já há um grande avanço. Em qualquer garrafinha de refrigerante ou água a chance de ser PET reciclado é muito grande, cerca de 60% no Brasil. É um case de muito sucesso. No flexível, porém, talvez a gente recicle 5%. Por ser mais difícil, e também por questões de projeção de negócio, pois ainda não estamos tão avançados.
Onde mais está o ESG na corporação?
Tenho tranquilidade em dizer que estamos muito bem embasados nos três pilares. A Plastiweber tem um impacto social muito grande à medida que assume um papel de educadora ambiental. Na parte ambiental, aliás, está a nossa essência. Temos hoje 80 pessoas classificando o material na linha, sendo reciclado com tecnologia de primeiro mundo, que vira uma resina reciclada, que vai para outra fábrica e que vira uma nova embalagem.
Não é somente colaborar com o tirar o plástico do meio ambiente, mas de todos os efeitos positivos disso. Se para cada tonelada de plástico reciclado você reduz duas toneladas de gases de efeito estufa, você deixa de consumir uma quantidade enorme de água e de energia elétrica também. E, na governança, nos adequamos para ser uma empresa segura para os nossos clientes. As certificações nos deram métricas e um compliance para que empresas globais pudessem comprar de nós tranquilamente.
Quais resultados já puderam ser alcançados com as práticas?
Somos amplamente certificados, a primeira empresa brasileira com a certificação Eucertplast, que é a mais importante certificação mundial para recicladores, e também a primeira recicladora do Brasil a ter a certificação Smeta, que é basicamente uma certificação global de ESG. Quando nos certificamos pela a primeira vez, oito anos atrás, mal se falava no termo ESG. Então, fomos pioneiros nisso.
Como é fazer do ESG uma oportunidade de negócio?
Para nós, era um princípio. Então, vira um negócio que se sustenta. Mas essa visão de longo prazo, de virar um negócio relevante, veio muito dos parceiros comerciais que tinham essa visão e a gente entendeu e apostou. Por muito tempo era só discurso. Hoje, as empresas estão começando a valorizar mais. Há muitas empresas que pagam mais caro pelo plástico reciclado e não querem nem saber. Onera, mas as empresas pagam o preço porque têm o papel fundamental de serem fomentadores da economia celular.
Se para cada tonelada de plástico reciclado você reduz duas toneladas de gases de efeito estufa, você deixa de consumir uma quantidade enorme de água e de energia elétrica também.
Como esta pauta ainda pode evoluir? Quais os próximos passos?
Estamos num momento econômico, global, crítico. São questões geopolíticas, climáticas, e as pessoas precisam se lembrar que, por mais que precisemos olhar o curto prazo, a maior parte dos problemas que nos afetam hoje são porque não olhamos para isso há mais tempo.