Tirar a sobrecarga dos aterros sanitários pode começar com medidas simples adotadas em casa ou nas empresas, especialmente nos locais de grande quantidade de consumo, como refeitórios e restaurantes. O mercado já olha para isso, e cresce o número de empresas que se encarregam da gestão dos resíduos orgânicos. Algo que começa no prato do dia a dia, mas que planta uma ideia para a sociedade toda.
O caminho para adotar técnicas como a compostagem passa a ser facilitado por empresas que prestam consultoria nesta área. São iniciativas que se encarregam da destinação correta dos resíduos, devolvendo um material tratado que não só reduz o caminho do lixo, mas também se transforma em adubo orgânico.
Com sede no Paraná e dando exemplo para o Brasil todo, a Composta+ é uma referência no tema, auxiliando companhias de vários segmentos e numa modalidade de assinaturas, que conversa com os tempos atuais. A coleta dos resíduos é feita ponto a ponto e levada para um pátio de compostagem, onde é realizado o tratamento do material. Incorporado a outros insumos, o resultado é um adubo orgânico rico. Parte é comercializada e outra é doada, fechando o conceito de economia circular.
Ricardo Bruner, diretor comercial da Composta+, diz que o objetivo é desviar o material do aterro e trazer benefícios operacionais para as empresas. Toda matéria que seria descartada é coletada sem o saco do lixo, economizando água, produto de limpeza e mão de obra. Ou seja, são pelo menos quatro pontos de melhoria operacional, reduzindo custos e impacto das empresas.
Considerada uma das principais alternativas para tratar resíduos, a compostagem tem potencial para gerar cem vezes menos emissões de gases de efeito estufa, tornando-se uma garantia ambiental para as operações que lidam com matéria orgânica.
— É bem significativo para a redução de impacto. Considerando também o tema ESG, que está em alta, e a preocupação com questões ambientais, conseguimos atuar neste pilar com a melhor destinação dos resíduos — diz Bruner.
Além da compostagem, outras práticas simples adotadas pelas corporações trazem impactos ambientais positivos. Substituir o canudo plástico por um de papel ou o copo plástico pelo de vidro são iniciativas que incentivam o uso de produtos sustentáveis.
— O que puder evitar de plástico já é bem interessante. Boa parte desses novos itens tem um valor agregado de mercado maior. Mas se uma empresa tem uma operação que preza por esses princípios, o público que frequenta acaba preferindo, o que então vira um investimento. A conta fecha — diz Bruner.
Em Porto Alegre, uma iniciativa que começou como projeto de faculdade já impactou mais de 3 mil clientes com a prática sustentável. É o Projeto Raiz, desenvolvido pelo engenheiro ambiental e sócio-fundador Leonardo Quintela e que atende de escolas a condomínios e restaurantes da Capital. A partir de sistemas modulares adaptados à quantidade de pessoas nas residências ou da quantidade de resíduo gerado, o projeto mostra que é possível reduzir o impacto do lixo mesmo de maneira individualizada.
E, para isso, não preciso muito. Os sistemas são acessíveis financeiramente e resultam em adubo para jardinagem e outros usos.
— A compostagem desafoga os aterros, que cada vez têm menos espaço para armazenagem, e ainda encurta uma cadeia de transporte da coleta, associada a um impacto em transporte e em emissão de gases. Toda essa cadeia tem um caminhão rodando, enquanto poderíamos ter soluções simples em casa — diz Quintela.
Além de resolver uma parcela da reciclagem, o Projeto Raiz é ferramenta educacional. Em parceria com escolas de Porto Alegre, o sistema serve de exemplo para abordar com as crianças todo o ciclo da matéria orgânica ao longo do ano letivo.
Para o engenheiro ambiental, o tema vem evoluindo na esfera individual, com as pessoas percebendo a sua participação na gestão dos resíduos. Na gestão pública, no entanto, carece de avanços:
— Cada vez mais vemos que as pessoas têm se interessado e quebrado o paradigma de que o lixo é uma coisa fedorenta e que não há o que fazer com ele. Por outro lado, não vemos avanço na gestão pública — diz Quintela, mencionando planos de desenvolver projeto para sistemas subsidiados pela administração municipal.