Mais de 200 mil veículos foram atingidos pela enchente que abateu o Rio Grande do Sul, conforme estimativa da empresa Bright Consulting. O cálculo aponta para prejuízos estimados de aproximadamente R$ 8 bilhões entre automóveis. O número aumenta significativamente se consideradas as perdas com residências e outros bens. Consequentemente, esses impactos devem se refletir na economia do Estado como um todo, o que inclui o preço do seguro — especialistas apontam que os valores devem ser reajustados.
Um levantamento realizado pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) aponta que a população gaúcha atingida pela enchente já registrou 23.441 avisos de sinistros, somando R$ 1,6 bilhão em indenizações que serão pagas pelas empresas de seguro. Para o advogado e professor da Unisinos Manoel Gustavo Neubarth Trindade, a tendência é que o valor relatado pela CNseg ainda aumente muito. Ele sublinha que a catástrofe também propiciou o que está sendo considerado o maior sinistro já enfrentado por seguradoras no Brasil e um dos maiores no mundo.
Manoel ressalta que após desastres naturais — como enchentes, inundações, terremotos, entre outros — é comum que o mercado de seguros de automóveis sofra ajustes, especialmente nas regiões diretamente afetadas. Então, é esperado o aumento dos prêmios de seguro, como realça o professor, pois as seguradoras tenderão a aumentar os prêmios dos seguros de automóveis em resposta ao aumento das indenizações pagas decorrentes dos danos causados pelas chuvas.
— Assim, as enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul provavelmente levarão a um aumento nos preços dos seguros de automóveis e a uma reavaliação das coberturas por parte das seguradoras. isso não só no Estado do Rio Grande do Sul, mas quiçá até mesmo no Brasil. — diz o advogado. — Aliás, já se espera que os resultados econômicos e financeiros das seguradoras sejam afetados de modo significativo.
Gustavo Inácio de Moraes, professor da Escola de Negócios da PUCRS, corrobora. Se as seguradoras estão levando um grande prejuízo neste momento em exigências de capital para indenizações, como ele observa, o próprio risco Rio Grande do Sul tem se apresentado maior. O professor de economia frisa que o Estado enfrentou uma sucessão de eventos climáticos nos últimos anos, como enxurradas e secas. Portanto, pode-se esperar um reajuste no preço do seguro nos próximos exercícios.
— É inevitável que nas próximas renovações, a partir do segundo semestre, haja esse efeito precificado. Naturalmente, a última enchente traumatizou demais o Estado, mas os eventos anteriores já justificavam uma elevação nos preços de seguro — projeta Gustavo. — O que deve aumentar o drama da recuperação econômica. Para viabilizar uma frota ou um estabelecimento comercial, você vai pagar um seguro significativamente mais alto, independente da região que você esteja na cidade.
Para viabilizar uma frota ou um estabelecimento comercial, você vai pagar um seguro significativamente mais alto, independente da região que você esteja na cidade.
GUSTAVO INÁCIO DE MORAES
Professor da Escola de Negócios da PUCRS
O professor da PUCRS acrescenta que a região que foi alagada deve receber um impacto maior no sentido de preços de seguro. Manoel ainda completa que o aumento esperado serviria para compensar as perdas sofridas e ajustar os cálculos de risco futuros, inclusive porque a percepção dos riscos relacionados às mudanças climáticas estará mais aguçada.
De acordo com Manoel, é esperado que haja revisão das coberturas para novos contratos, especialmente em relação a danos causados por enchentes e outros eventos naturais. Por outro lado, ele pondera que pode haver um aumento na demanda por seguros em resposta aos danos sofridos por grande parte da população.
Ainda, o advogado crê em um aumento de preços motivado pela demanda crescente por seguros de automóveis, sobretudo para as coberturas que incluem proteção contra desastres naturais. Proprietários de veículos que não tinham seguro ou que tinham coberturas limitadas podem buscar coberturas mais amplas.
Agir agora
Para Gustavo, a recomendação ao consumidor é ter transparência com seu corretor ou com seu gerente do seguro. Aconselha também a renegociação das apólices de seguro imediatamente, visando trabalhar os descontos.
— Quem puder antecipar, que antecipe a renovação de suas apólices — diz Gustavo. — Talvez o consumidor não esteja acostumado, mas a ambição de todas as empresas de seguro é que o segurado renove seu pacote com a empresa. Por isso são oferecidos descontos na renovação de carteira, mesmo que tenha ocorrido um sinistro. No limite, a seguradora vai querer aplicar um reajuste de preço no seguro. Mas essas instituições se beneficiam com a renovação, pois conhecem o comportamento do cliente.
Manoel indica que é pertinente também avaliar a possibilidade de ajustar a franquia, o que pode reduzir o prêmio do seguro, embora implique um custo maior em caso de sinistro. Por fim, ele complementa que é importante ser ponderada a adoção de medidas de proteção, como as que reduzem riscos de danos decorrentes de eventos climáticos adversos como enchentes. Por exemplo, estacionar o veículo em áreas elevadas e evitar dirigir em áreas suscetíveis a alagamentos.
— Agir agora, antes que os preços aumentem ainda mais, pode ser uma estratégia financeira prudente — aconselha Manoel.
Para André Thozeski, presidente do Sindicato dos Profissionais Corretores de Seguros (Sincor-RS), o consumidor deve buscar um corretor de seguros profissional para aconselhá-lo e construir a melhor solução de seguro para a sua necessidade e capacidade de investimento.
— O corretor sempre buscará a melhor cobertura possível e disponibilizará opções de pagamento parcelado. Acompanhará todo o ciclo de vida do contrato, assessorando o cliente — garante.
Sem registros de queixas
Conforme o Procon-RS, ainda não há registro de reclamações sobre preços abusivos em relação ao seguro automotivo. “Não há expectativa de que ocorra aumento abusivo”, diz o departamento em nota. “O que não significa dizer que dentro do cálculo atuarial não possa ocorrer aumentos justificados. Contudo, o setor de seguros em reunião com o Procon RS, comprometeu-se ao melhor andamento das relações de consumo, inclusive na agilidade na análise das indenizações securitárias, decorrentes do evento climático que atingiu o RS”, conclui o comunicado.