Seis dias após a tempestade que atingiu o Rio Grande do Sul, 8 mil clientes da RGE ainda estavam sem energia elétrica no final da tarde desta segunda-feira (22). O contingente se concentra principalmente em Canoas, Cachoeirinha e Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, maiores municípios sob o escopo da concessionária.
A despeito da impaciência dos consumidores, a companhia evita estipular um prazo para o retorno do abastecimento, alegando que os pontos afetados são justamente aqueles em que a rede foi mais danificada, sobretudo em razão da queda de postes e da queda de árvores sobre a fiação. Um desses casos é o de uma idosa de cem anos e a filha, de 71, que até esta segunda se socorriam de um lampião a querosene para iluminar a casa em Morungava, distrito de Gravataí.
A demora para o retorno da energia irritou os prefeitos de municípios atingidos e foi parar na Justiça. Ao menos três prefeituras — Cachoeirinha, Estrela e Venâncio Aires — conseguiram liminares ordenando a religação da energia em até 24 horas, sob pena de multa à companhia. A RGE diz que está prestando informações às autoridades, mas não confirma o cumprimento do prazo estipulado.
Em Cachoeirinha, a prefeitura contabilizou ao menos 800 árvores caídas, parte delas sobre a rede elétrica. Na tarde desta segunda, o prefeito Cristian Wasem (MDB) disse que ainda havia pessoas sem energia na cidade, mas ponderou que a decisão judicial teve efeito positivo na atuação da RGE.
— Percebemos claramente que houve um aumento de equipes na cidade e, por consequência, já diminuíram os pontos sem luz. A população já estava impaciente, bloqueando ruas e colocando fogo em galhos de árvores para protestar —relatou Wasem.
O prefeito diz que não costuma encontrar dificuldades de comunicação com a RGE, mas buscou a Justiça por não enxergar alternativa diante da demora no restabelecimento da energia.
Nesta segunda, o Ministério Público Estadual ajuizou outra ação, em que solicita que a obrigatoriedade de retomada do fornecimento em 24 horas se estenda aos municípios de Lajeado, Marques de Souza, Progresso, Cruzeiro do Sul, Santa Clara do Sul, Sério e Canudos do Vale, no Vale do Taquari.
Em outra frente, a companhia foi incluída no pedido de CPI da Assembleia Legislativa, que antes tinha apenas a CEEE Equatorial como alvo. O requerimento do deputado Miguel Rossetto (PT) ainda não obteve o número de assinaturas necessário para a abertura da comissão.
Conforme o gerente de Serviços Comerciais da RGE, Fábio Calvo, a companhia tem trabalhado com "mobilização total" para concluir os reparos no menor prazo possível. Calvo, no entanto, evita estimar quando todos os clientes voltarão a ter luz.
— Em boa parte dos casos, temos muito vegetal sobre as redes. Passamos mais tempo limpando o local para depois atuar no conserto ou na reconstrução da rede. Árvores de grande porte destruíram redes novas, que há pouco tempo haviam recebido investimentos — afirma.
Segundo ele, em alguns casos, é preciso substituir o poste e fixar novamente todos os cabos de energia na estrutura, o que aumenta o tempo necessário para o conserto.
Pico teve 714 mil afetados
Responsável por distribuir dois terços da energia elétrica consumida no Rio Grande do Sul, a RGE atende mais de três milhões de clientes em 381 municípios. De toda a extensão da rede, 84% fica localizada em áreas rurais.
Na terça-feira passada (16), a tempestade varreu a área de atuação da concessionária, avançando a partir da fronteira oeste e o centro do Estado, passando pela região dos Vales até chegando até a Região Metropolitana. No auge do temporal, perto da meia-noite, 714 mil imóveis ficaram sem energia na área da RGE.
Seis dias depois do evento climático, a companhia tem mais pontos desabastecidos na comparação com a CEEE Equatorial, outra concessionária que atua no RS (8 mil contra 7,1 mil).
Apesar da demora na normalização do abastecimento, a RGE garante que fez o maior esforço possível para atuar nos efeitos da tempestade, deslocando equipes de diferentes regiões do Estado para as áreas mais afetadas. Para a Região Metropolitana, foram enviados mil eletricistas para atuar na recuperação da rede elétrica, triplicando o contingente habitual.
De acordo com Fábio Calvo, o fator que amplifica o tempo para o restabelecimento da energia é a extensão de danos provocados por árvores que caíram sobre a fiação. Houve casos de vegetais que estavam a até 40 metros de distância e caíram sobre os fios, interrompendo o abastecimento. Pelas regras atuais, a concessionária pode manejar árvores que estejam em um raio de até 7,5 metros na rede elétrica.
— Todos nós, como sociedade, precisamos refletir sobre a arborização dos municípios. Não estamos falando que não tem que ter árvore, pelo contrário. Mas precisamos ter um planejamento de arborização que consiga conviver em harmonia com a rede elétrica — argumenta o gerente da RGE.
Para os próximos anos, a empresa planeja uma série de medidas para atenuar os efeitos das tempestades. Dentre elas, está um investimento de 9,3 bilhões no período 2024-2028, 30% maior do que os cerca de R$ 7 bilhões aportados no quinquênio anterior.
Outra providência será substituir todos os postes de madeira (hoje 19% do contingente) por estruturas de concreto, além de ampliar o volume de redes protegidas, mais resistente do que a convencional, em pontos de maior contato com a vegetação.
Chance de punição
A agência estadual responsável por fiscalizar a atuação das concessionárias de energia elétrica abrirá procedimento de investigação sobre a atuação da RGE e da CEEE Equatorial desde a tempestade da semana passada. Isso ocorrerá após a normalização do fornecimento de luz.
A informação foi repassada pela presidente da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos (Agergs), Luciana Luso de Carvalho, em entrevista o programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha.
— Não abrimos ainda o processo de fiscalização pelo seguinte: as concessionárias têm neste momento a prioridade número um de restabelecer os serviços. A Agergs iniciando neste momento uma fiscalização atrapalha a operação que deve ser prioritária — disse Luciana.
Nesta quarta-feira (24), o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Sandoval Feitosa, viajará ao Estado e se reunirá com as concessionárias para cobrar explicações sobre a demora.
Desempenho ao longo do tempo
Diferente do caso da CEEE Equatorial, a RGE tem conseguido cumprir os indicadores estipulados pela Aneel para o fornecimento de energia. São dois indicadores principais, identificados pelas siglas DEC e FEC.
O DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora) aponta a média de horas que consumidores ficaram sem energia ao longo do ano, enquanto o FEC (Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora) registra quantas vezes, em média, os consumidores ficam sem o serviço. Veja os resultados:
DEC
FEC
Como contatar a RGE
- SMS: envie mensagem com o SEU CÓDIGO (número que consta na conta de energia elétrica) para o número 27350
- WhatsApp: (51) 99955-0002
- Site
- App: CPFL Energia (disponível para Android e iOS)
- Call Center: 0800-970-0900