Quase três dias após a tempestade que atingiu Porto Alegre, nesta sexta-feira (19) milhares de moradores ainda estão sem energia elétrica em diferentes pontos da Capital. Um dos motivos levantados para o colapso do sistema de abastecimento seria a proximidade de árvores com fios e postes, opinião contrária à de Odilon Duarte, coordenador do curso de Engenharia de Energias Renováveis da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Em entrevista ao Gaúcha Mais, Duarte destacou que o primeiro a se fazer é modernizar as redes elétricas para diminuir os danos do contato dos fios com as árvores. Conforme o professor, quando um galho encosta em dois fios ao mesmo tempo a energia é conduzida pela seiva da árvore, o que gera um curto-circuito e interrompe o abastecimento.
— O fio é nu, a rede trifásica, a mais barata. Se algum cabo ou galho encostar ele vai abrir a proteção e fechar um curto, vai ter algum problema. A primeira coisa a se fazer, por exemplo, é se pensar em cabos isolados. Eles podem passar pela copa das árvores sem nenhum problema, tem um revestimento especial. Ele é mais caro, mas a energia mais cara é aquela que a gente não tem — explicou.
Duarte foi sucinto e direto ao afirmar: — não, a culpa (da falta de energia) não é das árvores —. Apesar de reconhecer a força do evento climático que atingiu Porto Alegre, ele comparou a situação com a nevasca que ocorre nos Estados Unidos e no Canadá e a rede elétrica segue funcionando.
— A neve está aderindo ao cabo e ele segue fornecendo energia. É o mesmo fio, mas isolado, com sistema mais reforçado. Tem que podar (às arvores), mas retirar não. Pelo contrário, temos que plantar mais para a cidade não virar um caos, não morrer de calor — disse.
Além da fiação, Duarte ainda destaca outros pontos a serem melhorados na rede elétrica, como os postes de madeira – muitos apodrecidos, segundo ele – e a necessidade de manutenção preventiva, quando há avaliação constante das redes e seu funcionamento para evitar mais problemas no futuro.
Problemas x melhorias
Uma das alternativas para diminuir as adversidades causadas pelas mudanças climáticas seria uma rede subterrânea. No entanto, Duarte reforça que neste caso seria necessário um alto investimento além da rede, em profissionais qualificados e equipamentos.
— A fiação subterrânea é uma excelente medida, mas é muito mais cara que o sistema aéreo que nós temos. Na aérea, é mais fácil identificar um problema, passo na rua e vejo onde está rompido um cabo. Na subterrânea não, tem que ter pessoas qualificadas e equipamentos para não se perder tanto tempo identificando o problema — falou.
O professor ainda ressalta que é necessário mais atuação e fiscalização por parte de órgãos reguladores, como a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Segundo ele, com a tarifa de energia da Aneel poderia ser feito um estudo para a implementação de redes inteligentes, que apontam os problemas às concessionárias.