Acessar o TikTok diariamente pode afetar o meio ambiente? Foi essa pergunta que uma análise da consultoria Greenly, divulgada pelo The Guardian, buscou responder. Segundo o relatório, nos Estados Unidos, França e Reino Unido, a rede social emitiu cerca de 7,6 milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) em 2023. Para especialistas, a pegada de carbono da empresa é alta.
As emissões de CO2e geradas pela rede social nesses três países equivalem a quase 10% do total emitido por todo o Rio Grande do Sul ao longo de 2020, segundo dados divulgados pela Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema). Não há dados atualizados deste levantamento.
O cálculo da Greenly levou em consideração as emissões de gases de efeito estufa geradas pelos data centers do TikTok e pelos usuários.
— É importante contextualizar que qualquer atividade vai ter alguma emissão de carbono associada. Algumas em maior intensidade, outras em menor. Às vezes a gente pensa que a emissão está ligada à atividade industrial, mas serviços, em geral, também proporcionam emissão para o meio ambiente. Empresas de tecnologia que disponibilizam as redes sociais são bem intensivas em uso de energia elétrica — avalia Eduardo Baltar, doutor em Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e CEO da consultoria Ecofinance Negócios.
Data centers
Os data centers são instalações físicas, equipadas de computadores potentes, onde as empresas armazenam dados e informações. Todo o conteúdo encontrado no TikTok, por exemplo, precisa estar em algum desses servidores. Vandersilvio da Silva, professor do curso de Sistemas de Informação da Universidade Feevale, afirma que o consumo de energia desses espaços depende do tamanho:
— Para que os dados estejam sempre disponíveis e seguros, é preciso guardar a mesma informação em dois ou mais servidores. Há sistemas de ar-condicionado e uma série de gastos. Os data centers pequenos vão até uns 500 quilowatts. Os médios, até uns cinco megawatts. Os grandes provedores consomem acima de 50 megawatts. É quase como se fosse uma cidade.
Baltar acrescenta que a forma com que a energia elétrica é produzida pode ter algum teor de emissão de carbono associado. Dependendo da localização, a pegada de carbono pode ser maior ou menor. Países que utilizam fontes de energia renovável, como o Brasil, tendem a emitir menos gases de efeito estufa do que locais que contam com fontes fósseis, como petróleo, carvão e gás natural.
Cerca de 75% do CO2e gerado no planeta é referente à geração energética.
CARLOS ALBERTO MENDES MORAES
Professor da Unisinos
Segundo a Greenly, as emissões de carbono dos data centers e dos dispositivos de carregamento dos aparelhos pessoais, utilizados para acessar o TikTok, fazem com que os usuários emitam, em média, 2,921 gramas de CO2e por minuto. Entre outras redes sociais, o TikTok fica atrás apenas do YouTube, plataforma que faz com que os usuários emitam 2,923 gramas de CO2e por minuto.
— Cerca de 75% do CO2e gerado no planeta é referente à geração energética. Então, quando se coloca que o TikTok consome essa quantidade de tempo das pessoas, consequentemente estamos consumindo energia para carregar os celulares e usar as mídias sociais — defende Carlos Alberto Mendes Moraes, professor da Escola Politécnica da Unisinos e ex-coordenador da graduação em Engenharia Ambiental.
Devido à grande quantidade de conteúdo disponível na plataforma e ao maior tempo de uso, os consumidores de TikTok têm as maiores taxas anuais. De acordo com a análise da Greenly, o usuário médio emite 48,49 kg de CO2e por ano no aplicativo. Neste ranking, o YouTube fica em segundo lugar, com um usuário médio emitindo 40,17 kg de CO2e. Os usuários do Instagram emitem apenas 32,52 kg.
Efeitos no meio ambiente
Uma pegada de carbono alta indica maior impacto ambiental, uma vez que os gases de efeito estufa podem ficar acumulados na atmosfera, impedindo que o calor se dissipe no espaço. Isso contribui diretamente para o aquecimento global e para as mudanças climáticas.
Baltar pontua que a concentração desses gases pode aumentar a frequência de fenômenos climáticos extremos e avanço do nível do mar.
— Aquilo que a gente vê no jornal e na televisão, de que em tal cidade choveu em um dia o que era para chover em um mês, vai ocorrer com mais frequência. Esses são alguns dos impactos dessas pegadas de carbono altas de empresas e da nossa sociedade em geral, do nosso modo de vida — ressalta o especialista.
Ainda assim, Baltar defende que as pessoas não devem se sentir culpadas. Ele sugere que os que buscam mudar essa realidade pressionem as empresas para que sejam adotadas fontes de energia renováveis e outras iniciativas que diminuam a pegada de carbono e promovam a sustentabilidade.
Procurado pela Zero Hora, o TikTok não se manifestou até o fechamento desta matéria.