Já não há quase detritos nas ruas, o comércio volta a funcionar aos poucos e os prédios estão sendo reparados. A sensação de recomeço, porém, não é suficiente para tirar o desalento do semblante dos moradores do Vale do Taquari. Um mês após a enchente que matou 50 pessoas no Rio Grande do Sul, os afetados pelas cheias tentam voltar à normalidade buscando motivação para retomar a vida sem entrar em pânico toda vez que chove demais.
GZH voltou à região 30 dias após a tragédia para entender como está a vida de quatro famílias que perderam quase tudo na enchente. Confira as histórias:
- A angústia da mulher que foi arrastada pela correnteza por 18 quilômetros e agora busca novo lar em Muçum
- A esperança do motorista de app que perdeu o ganha-pão e torce por dias melhores em Muçum
- A solidão do morador de Roca Sales que perdeu a casa e o pai e tenta se reerguer após a enchente
- O otimismo do casal que abriu restaurante dias antes da enchente e recomeça servindo almoços em Roca Sales
Em Muçum, epicentro da enxurrada, 40 pessoas estão vivendo em um abrigo da prefeitura, à espera de moradias provisórias. Em Roca Sales, do outro lado do Rio Taquari, são mais 50. Ninguém sabe ao certo o total de gente alojada em casas de parentes.
Há muita comida estocada para ser distribuída — boa parte com validade perto do vencimento —, mas falta fogão, geladeira, até pratos e talheres a quem viu o patrimônio ser arrastado pela correnteza. Sem ter como preparar almoço ou esquentar café, a alternativa é recorrer às cerca de 1 mil marmitas entregues todos os dias nos dois municípios.
— Até dezembro fico por aqui, depois não sei mais — delimita Rosângela Ribeiro, que já dormiu em igreja, piquete e gruta desde o dia da enchente e agora passa as noites num quadrado delimitado por mesas na quadra de esportes do ginásio de Muçum.
Para marcar os 30 dias da tragédia, a Paróquia Nossa Senhora da Purificação celebra nesta quarta-feira (4) missa em homenagem aos 16 mortos do município. Na sequência, serão plantadas flores e distribuídas sementes e mudas a pequenos agricultores. As aulas serão retomadas em duas escolas ao longo do dia.
— É bom, porque passa o tempo e esquece a tristeza — diz Renan Zanchi, 13 anos, enquanto brinca com os amigos no playground da praça central, agora já despido da lama e dos entulhos que depredaram o brinquedo na fatídica noite de 4 de setembro de 2023.