Um grupo do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina chegou nesta terça-feira (19) ao Vale do Taquari para reforçar as buscas a pessoas desaparecidas na região após as enchentes do começo do mês. Ao todo, 22 bombeiros se dividiram em dois grupos juntos a colegas militares gaúchos e paranaenses.
Enquanto um grupo realizou buscas em Encantado, outro se dirigiu a uma área entre Colinas e Roca Sales. O novo efetivo catarinense é especialista em buscas por terra, como áreas soterradas e deslizamentos.
Até a última semana, uma equipe de SC que estava na região executava trabalhos de buscas em águas, no rio e em áreas de inundação. Agora, o foco está em regiões de terra firme onde a água já baixou.
Mesmo que sempre se tenha a esperança de encontrar sobreviventes, as chances passam a ser cada vez menores.
— É muito remoto. É difícil a gente dizer impossível, mas, assim, muito improvável. Sendo bem realista quanto à magnitude do evento, durante esse tempo, houve toda uma abrangência de buscas, tanto com aeronave, como drone, como embarcação. Então, eu diria que é muito improvável — afirma o oficial de planejamento do Corpo de Bombeiros do RS na força-tarefa, capitão Emerson Ribeiro.
Segundo o capitão, estão sendo utilizados cães treinados especificamente para farejar o chamado “RBH”, que são os resíduos biológicos humanos.
— São cães que passam por rigorosos processos e são treinados para identificar o odor específico do ser humano — explica Ribeiro.
A reportagem de GZH acompanhou um grupo de 15 bombeiros, sendo sete de SC e oito do RS, que concentrou as buscas em uma área entre Roca Sales e Colinas. A região, com lavouras em uma área de várzea, recebeu a torrente do Rio Taquari.
Ao chegar a campo, por volta das 9h, as equipes já estabelecem qual será a dinâmica. Como são de uma área especializada, os batalhões possuem treinamento rotineiro em busca, salvamento e resgate, com cursos e simulações. Tudo isso é colocado em prática.
Separados em dois pequenos grupos, alguns homens caminham próximo da margem do rio, enquanto os outros focam em áreas chamadas de "engalhadas", que funcionam como uma peneira durante a enchente. São trechos em que há muitas árvores e galhos, e quando a água baixa, os detritos ficam retidos.
Com pé no barro e abrindo caminho entre lavouras e o matagal, as equipes caminham por 11 quilômetros. O trabalho árduo é comparado pelos membros da equipe como o de procurar agulha em palheiro, mas evidenciam o quanto é importante dar a resposta sobre o paradeiro dessas pessoas para suas famílias.
Para o comandante de SC na força-tarefa, Richard Stüpp, o testemunho da destruição no Vale do Taquari é surpreendente:
— Nunca vi nada parecido com isso. Não nessa magnitude ou extensão — ressalta.
Mesmo que eventos extremos como o que aconteceu não sejam tão frequentes, os batalhões estão sempre ativos, conforme Ribeiro:
— Anualmente o pessoal se reúne e faz simulados de eventos como esse aqui, de inundação, enchente, deslizamento. Então, essa atualização é constante. Há uma rotina diária de treinamento.
Ajuda canina
O protocolo das buscas terrestres prevê que a busca seja feita onde o cão sinalizou. Há pontos que acumulam mais material, como lama e galhos.
No percurso acompanhado por GZH, a dupla de labradores Marley e Shake indicaram os caminhos a serem investigados. Os dois seguem na frente dos grupos e só param para descansar quando os tutores mandam.
— Eles correm quatro vezes mais e trabalham por 20 homens. A área que eles abrangem é muito maior que a nossa — comenta um dos bombeiros, durante conversa com os colegas na pausa para o almoço.
Todos os cães utilizados no trabalho passam por um treinamento rígido e praticamente diário. A alimentação e cuidado médico é custeada pelo Estado, e os animais vivem junto dos treinadores, que se tornam também os seus tutores.
— A gente considera que eles são um auxílio ao trabalho. Isso porque são criados na natureza, tem contato com outros animais e respeitam esse ambiente — explica o sargento Alex Brum, tutor do cão Shake.
Nesta terça-feira, as equipes não encontraram vestígios nas buscas. Mesmo assim, o trabalho encerrado nesta terça-feira, por volta das 17h, segue pelos próximos dias, com áreas mais específicas a partir da marcação dos pontos que já foram vistoriados.
As buscas devem seguir no Vale do Taquari até que todos os desaparecidos sejam encontrados, ou que haja uma determinação por parte do Comitê de Crise do governo gaúcho.