A comissão parlamentar de inquérito (CPI) que apura as causas da morte de seis pacientes no Hospital Lauro Réus, em Campo Bom, colheu nova rodada de depoimentos na terça-feira (20). A tragédia aconteceu um mês antes, em 19 de março, e os doentes, todos com covid-19, morreram por asfixia, segundo perícias.
Prestaram esclarecimentos aos vereadores dois funcionários do hospital: um do setor de compras da casa de saúde e o outro do setor de manutenção. A terceira testemunha chamada para participar da oitiva não compareceu e será novamente convocada.
O auxiliar de manutenção explicou que, entre outras tarefas, cabia a ele fazer as medições de quantidade de oxigênio nos tanques armazenados no hospital. Ele disse que, na manhã de 18 de março (dia anterior às mortes), a marcação estava em 39% da capacidade, próximo ao nível baixo, que é de 30%. No final da tarde, olhou e estava em 23%, um indicador crítico. Foi para casa e no dia seguinte, por volta das 7h15min, o oxigênio marcava 0,06% de oxigênio e o tumulto começou em seguida. A testemunha afirmou que o antigo técnico do oxigênio – dispensado dias antes do incidente – foi chamado e apareceu para tentar fazer o ar ingressar na UTI onde estavam os pacientes.
O auxiliar de manutenção também declarou que não sabe se o hospital tinha plano de contingência e que não teve treinamento sobre o que fazer em caso de falta de oxigênio. Estava acostumado a consertar chuveiros e portas, não equipamentos de saúde.
O outro depoente, funcionário do setor de compras do hospital, disse que foi informado da falta de oxigênio nos tanques às 8h da manhã da tragédia. Então disse ter contatado o antigo técnico responsável pela manutenção do hospital, que foi a Campo Bom auxiliar na tentativa de fornecer oxigênio à UTI.
Essa testemunha declarou que a administração do hospital tinha há algum tempo conhecimento da necessidade de readequar a programação de consumo do ar. E que o valor que era repassado pelo município ao hospital já não era suficiente, em razão do alto custo de manter os serviços. Ele descreveu que os funcionários tentaram utilizar cilindros de emergência durante a tragédia.
A CPI é presidida pelo vereador Jerri Moraes (MDB), que considera bastante satisfatórios os depoimentos. Novas testemunhas serão ouvidas nesta quinta-feira (22).
— Vamos esclarecer os fatos, trazer uma resposta para a sociedade — sintetiza Jerri.
A comissão tem 90 dias para ser finalizada, mas há possibilidade prorrogação por mais um mês.
Entenda o caso
Na manhã de 19 de março, problemas no sistema de abastecimento de oxigênio do Hospital Lauro Reus ocasionaram a falta do suprimento em diversos setores da casa de saúde e teriam sido um dos fatores que levaram à morte de seis pacientes que estavam internados em tratamento contra a covid-19.
CONTRAPONTOS
GZH tentou contato com a direção do Hospital Lauro Réus e com a prefeitura, mas não obteve resposta até a hora de publicação.
Desde o dia da tragédia, o hospital sustenta que não houve em momento algum falta de oxigênio aos pacientes, devido à rápida ação da equipe assistencial, que teria acionado imediatamente o Plano de Contingência. Eles teriam morrido em decorrência de uma instabilidade na rede central de distribuição de oxigênio, que durou aproximadamente 30 minutos.
Já a prefeitura informou que transferiu, em média, R$ 2,3 milhões por mês ao hospital, sendo R$ 608 mil de verbas federais, R$ 89 mil de verbas estaduais e R$ 1,6 milhão em recursos próprios.