A Rua Dona Cristina, no bairro Cristal, em Porto Alegre, ganhou uma nova referência em primeiros socorros. E não se trata da abertura de nenhuma Unidade de Saúde ou Pronto-Atendimento na região, mas de uma jovem escoteira que se tornou a salvadora da rua nesta semana. Na segunda (17), por volta das 21h, a estudante Anaclara Diaz, 17 anos, escutou uma gritaria vinda da viela que passa pelo lado de sua casa. De lá, descia a vizinha e avó do bebê de 10 meses Anthony, Mariângela Machado, de 42 anos. Desesperada, a avó pedia ajuda dos vizinhos para socorrer o neto, que estava engasgado com um pão.
— Demos um pãozinho e colocamos ele no carrinho. Quando vi, ele estava tremendo, achei que era convulsão. Foi então que minha mãe pegou ele e saiu correndo pela rua — conta a mãe do bebê, Larissa Machado Bica, 18 anos.
Apesar do receio, ao ver Mariângela com a criança no colo, a mãe de Anaclara pediu para que a filha ajudasse. Há 10 anos, Ana participa de grupos de escoteiros e quando tinha sete anos conheceu algumas técnicas em um curso de primeiros socorros. Na época, aprendeu procedimentos simples, como cuidar de um machucado, mas também a atuar em situações semelhantes.
— Fiz o que tinha que fazer, fiz o procedimento de desengasgo. Tinha muita gente mais velha do que eu olhando e sem fazer nada, eu tinha que ajudar — lembra.
No lugar certo, na hora certa
Seguindo o lema do escoteirismo: sempre alerta, Ana conta que pegou Anthony no colo, virou o bebê de bruços, abriu sua boca e bateu algumas vezes na costas (a chamada Manobra de Heimlich). Assim que ele desengasgou e voltou a respirar normalmente, imediatamente, a família pediu carona para um vizinho e correu para o Postão da Cruzeiro, minutos dali. Lá, ele ficou em observação por algumas horas. O médico disse que em função da obstrução, ele teve uma crise respiratória.
— Depois de Deus, foi a Anaclara que entrou no nosso caminho. Deus colocou ela lá para ajudar o meu bisneto — declara Angela Maria Xavier, 65 anos.
Ana e Larissa são vizinhas e amigas há anos. E essa não foi a primeira vez que Ana ajudou alguém em situação de risco. Há algum tempo, ela não sabe precisar quanto, um motociclista se acidentou na esquina da sua casa. Foi ela quem o ajudou na imobilização, evitando que ele se mexesse e, por consequência, tivesse outras complicações.
Ana já sabe: vai ser enfermeira
A cena dessa semana deixou todos apavorados, mas aliviados. Uma cena revivida pela avó de Anthony, Mariângela, que já tinha passado por situação semelhante com um filho há 15 anos.
— Lembrei de tudo que aconteceu aquele dia, parecia que eu estava vivendo tudo de novo. Na outra vez, também, tive que pedir ajuda a um vizinho — detalha.
Hoje, Ana integra o Grupo de Escoteiros Ubuntu, mas foi no Grupo Bento Gonçalves que ela aprendeu as primeiras técnicas. A experiência vivida a alguns passos da porta de casa levou a jovem, prestes a concluir o Ensino Médio, a uma escolha, a da nova profissão: agora já sabe que vai ser enfermeira.