A comitiva de representantes de 10 prefeituras gaúchas, entre prefeitos, vices, secretários e assistentes sociais desembarcou às 18h deste domingo (16) em Boa Vista, capital de Roraima. Eles participarão, nesta segunda-feira (17), da seleção dos venezuelanos que serão acolhidos em seus municípios.
A viagem é uma peregrinação: para completar o trajeto de 5.824 quilômetros entre Porto Alegre e Boa Vista, a aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) fez duas paradas para reabastecer. A primeira na base aérea de Brasília e a segunda na Serra do Cachimbo, no Pará.
No total, 9.100 litros de querosene de aviação foram consumidos para atravessar o país, da capital mais ao sul até a capital mais ao norte do Brasil. A autonomia é de cerca de 3h30min, a uma velocidade média de 850 km/h, segundo o capitão da Esquadra Condor, Olívio Marangon, que comandou as cerca de seis horas de voo.
Previamente confirmados em mais uma etapa do processo de interiorização estão dois municípios que ainda não receberam venezuelanos, desde o início da crise no país : Viamão, na Região Metropolitana, e Santo Antônio da Patrulha, no Litoral Norte, que terão 40 migrantes cada. Outros 17 irão para Porto Alegre, que já conta com 70 estrangeiros que fugiram da Venezuela.
– Estamos sensibilizando os prefeitos para que eles acolham mais pessoas, pois há muita mão de obra qualificada – defende o ministro do desenvolvimento social, Alberto Beltrame, que acompanha o grupo desde Porto Alegre.
O clima entre os prefeitos se divide, entre sorrisos constantes e outros mais amarelos, desconfiados com o impacto que os estrangeiros podem ter na população – e no eleitorado – de suas cidades.
- É uma época de arrocho. Difícil até pelos repasses atrasados. As vezes não tem nem emprego “para os nossos”. Vamos lá para conhecer e pensar sobre - afirmou o vice-prefeito de Seberi, Marcelino Galvão Bueno.
Já em Brasília, o prefeito de Três Palmeiras, Silvanio Antônio Dias, se mostrou confiante com a possibilidade de encontrar mão de obra qualificada:
- Temos expectativa de chegar lá e de repente acolher duas a três famílias. Temos capacidade de receber até umas 10 pessoas. Precisamos de soldadores especializados e acreditamos que teremos venezuelanos nesse perfil – acenou Dias.
O mesmo ideal é compartilhado pelo prefeito da pequena Pinhal, de 2,6 mil habitantes. Além de buscar profissionais, Edmilson Pelizari acrescenta:
- Vejo como uma questão humanitária.
Presidente da Associação dos Municípios da Zona da Produção (Amzop) e prefeito de Liberato Salzano, Gilson de Carli, acredita que a região têm empregos para acolher principalmente profissionais que se interessem por dar continuidade à agricultura familiar.
- O êxodo rural é muito grande. Alguns que moram na cidade tem interesse em ceder as propriedades tendo um percentual dos rendimentos.
Edinaldo Rupolo Rossetto, prefeito de Novo Barreiro, município com 4,2 mil habitantes, espera levar para as reuniões da Amzop o que presenciará nos abrigos. Mas é cauteloso ao afirmar que vai consultar a comunidade antes de tomar alguma decisão.
- Há uma condição muito grande de colocar essas famílias. Se cada município da região conseguir receber cinco famílias já dariam mais de 200 pessoas. Temos que conversar com as comunidades. Mas acho importante a gente ajudar agora.
No Brasil, quase 50% dos migrantes interiorizados que têm acima de 18 anos e menos de 65 estão empregados, segundo o governo federal. Em Boa Vista será feito um cruzamento de dados das família abrigadas e do perfil que cada cidade busca. No total, 5.719 venezuelanos vivem nos 13 abrigos de Roraima, segundo o IBGE.
A aeronave que veio da capital gaúcha é de pequeno porte, modelo Embraer 145, com capacidade para 50 pessoas. Ela vai fazer um “bate e volta”, regressando com 12 venezuelanos para São Paulo e mais 28 para o Rio de Janeiro nesta segunda-feira (17).
A expectativa é que os gestores gaúchos voltem na terça-feira (18), em outro avião da FAB, com capacidade superior a 200 pessoas, trazendo junto os venezuelanos.