Depois de cinco meses de articulações, os primeiros venezuelanos que integram o projeto de interiorização do governo federal desembarcam nesta quarta-feira (5) em solo gaúcho. Formado por 125 pessoas, o grupo parte de Boa Vista, capital de Roraima, em um Boeing 767 da Força Aérea Brasileira (FAB) pela manhã e, depois de duas escalas, deve aterrissar à noite no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.
Em seguida, os imigrantes serão encaminhados para um alojamento de Esteio, onde terão a oportunidade de recomeçar suas vidas longe da grave crise no país vizinho.
Na primeira de quatro etapas de viagens com destino ao Rio Grande do Sul, todos são homens. Isso se deve ao fato de que o prédio no bairro Tamandaré tem quartos com até sete camas.
Como não há muitas famílias tão grandes em Roraima, a força-tarefa federal selecionou pessoas do mesmo sexo e que estejam sozinhas nos abrigos próximos à fronteira para que possam compartilhar as acomodações.
— Não significa que são todos solteiros. Na verdade, a maioria tem familiares que ficaram na Venezuela ou que já foram para outros Estados. O que é certo é que todos quiseram ir para o Rio Grande do Sul para construir uma nova vida lá — afirmou o prefeito de Esteio, Leonardo Pascoal (PP), que foi até Boa Vista na terça-feira (4).
Com a secretária municipal de Cidadania, Trabalho e Empreendedorismo, Tatiana Tanara, Pascoal visitou abrigos que reúnem cerca de 4 mil migrantes que fugiram da fome, da hiperinflação e da insegurança no pais de Nicolás Maduro.
Nesse primeiro grupo, os imigrantes têm entre 18 e 59 anos e a maioria concluiu o Ensino Médio. Há também advogados e engenheiros, entre outros profissionais com experiência como cozinheiro e segurança, por exemplo. Embora muitas empresas tenham manifestado interesse na contratação dos venezuelanos, o prefeito de Esteio afirma que não haverá "reserva de mercado" para eles.
— Vamos focar, primeiro, em estabilizá-los aqui e dar condições para disputarem vagas de emprego. Isso passa por aulas de português em primeiro lugar e também capacitações. Quando estiverem prontos, farão seleções como qualquer morador — esclarece Pascoal.
Na recepção em Esteio, estarão membros do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e do Ministério do Desenvolvimento Social. Ainda na primeira noite, será servido um jantar na Igreja Apostólica do Brasil, vizinha ao alojamento — mas nada de pratos gaúchos.
— A igreja ofereceu essa refeição e vai preparar um prato típico venezuelano, uma sopa com legumes e carnes, para que eles se sintam em casa — conta Karin Wapechoswki, coordenadora do Programa Brasileiro de Reassentamento de Refugiados da Associação Antônio Vieira (Asav), braço da Acnur no Estado.
Os alimentos doados pela Marinha do Brasil para abastecer o alojamento devem chegar somente nesta quarta-feira (5). Depois, a ideia é de que os próprios migrantes preparem sua comida.
Karin afirma que há uma demanda por doação de roupas, principalmente agasalhos quentes para homens, mas também calças e blusas masculinas. Quem quiser contribuir pode levar peças de roupas na Secretaria Municipal de Cidadania, Trabalho e Empreendedorismo (Rua Engenheiro Hener de Souza Nunes, 150) ou entrar em contato pelo telefone (51) 3433-8143.
Ainda haverá mais três voos para o Estado, até o dia 27 de setembro, totalizando 646 venezuelanos que irão para Esteio e também Canoas.