O cipoal de controvérsias em torno do Hospital Regional de Santa Maria surgiu antes mesmo que o primeiro tijolo fosse assentado. Idealizado ainda em 2003, a unidade de saúde contabiliza 15 anos de história na qual já se viu de quase tudo – menos o início dos atendimentos.
Nos idos de 2004, o local de construção foi alvo de queda de braço entre Estado e prefeitura. Em 2007, quando se definiu o espaço – após cinco áreas serem colocadas em pauta –, a data de início das obras ocupou o posto de entrave. Dali em diante, foram necessários mais três anos para que, em 2010, fosse dada a largada à edificação.
Entre idas e vindas, serviços parados e retomados após a liberação de aditivos financeiros, a obra foi dada como entregue em setembro de 2016. Ao longo de todo o ano passado, o governo sinalizou com prazos de abertura – que não se confirmaram.
Ainda em 2017, a Secretaria Estadual de Saúde buscou sete instituições ligadas à área para assumir a gestão do Hospital Regional, mas todas declinaram. Último a ser consultado, o Instituto de Cardiologia, de Porto Alegre, aceitou o desafio – e o anúncio feito pelo governador José Ivo Sartori no começo deste ano.
Até o momento, as ruas do entorno do Regional, no bairro Parque Pinheiro Machado, foram asfaltadas pela prefeitura, e a promessa do quarto inquilino do Palácio Piratini desde que projeto foi idealizado é romper os cadeados do hospital ainda neste semestre.
LINHA DO TEMPO
Os 15 anos de espera
2003
- Em maio, o então governador Germano Rigotto (PMDB) anuncia que Santa Maria receberá um Hospital Regional e ainda terá, junto a ele, uma unidade da Rede Sarah.
- À época, o Estado afirma que a escolha por Santa Maria "é considerada a mais adequada não só pela posição geográfica, mas também por ser dotada de uma rede de serviços".
- O anúncio, naquele momento, cita que a Rede Sarah trará para Santa Maria o atendimento a pacientes com problemas ortopédicos, neurológicos e traumatológicos.
2004
- O então secretário de Saúde do RS, Osmar Terra, diz em março que o Estado tem R$ 4 milhões para o início das obras.
- Naquele momento, havia uma área reservada junto ao Distrito Industrial de Santa Maria para que o hospital fosse construído. Uma vez iniciada a obra, o prazo de conclusão seria de 18 a 24 meses.
- Ao longo de todo o ano, a área onde será construído o hospital vira tema de um embate político-partidário protagonizado por Osmar Terra e pelo então prefeito de Santa Maria, Valdeci Oliveira (PT, atualmente deputado estadual).
2005
- Em janeiro, o vice-governador Antonio Hohlfeldt participa, em Santa Maria, do ato de assinatura para a construção do Hospital Regional.
- A assinatura representa a contratação de uma empresa que ficará responsável pela elaboração do projeto arquitetônico do hospital.
- Nesse período, o Estado divulga que a unidade, será ligada à Rede Sarah, e terá 200 leitos – sendo que 60 deles serão para reabilitação física.
- Ainda neste ano, ficam prontos os projetos (arquitetônico, executivo e complementares) que envolvem a parte estrutural, elétrica hidrossanitária, climatização e gases medicinais, entre outros.
- O Ministério Público (MP) ingressa com uma ação para impedir a construção do hospital junto à área do Distrito Industrial.
- Conforme o MP, de acordo com o projeto inicial, o hospital seria construído próximo a uma fábrica de baterias e à usina de asfalto da prefeitura, o que poderia implicar prejuízo à saúde da população.
2006
- O endereço do hospital volta à tona. Deste vez, nova queda de braço envolvendo o Estado e a prefeitura.
- O endereço do empreendimento muda novamente. Em uma reunião, no mês de março, Osmar Terra recebe a proposta da doação de cinco áreas. Uma delas é próxima ao bairro Camobi. Outras três em áreas no entorno da BR-287 (próximo da Ulbra) e a quinta área é na BR-158 (perto do bairro Tancredo Neves).
- No mesmo ano, o Estado anuncia a liberação de R$ 11,5 milhões para o início das obras.
- Osmar Terra informa, no mesmo ano, que a construção será feita por etapas. Sendo que a primeira delas seria concluída ainda em 2006, o que possibilitaria o início do atendimento ambulatorial e, inclusive, a disponibilização de alguns leitos na área de reabilitação quanto no atendimento geral.
2007
- Consegue-se, então, definir o endereço em que será construído o hospital. O médico-veterinário e professor da UFSM José Antônio Barão Schons (já falecido) doa uma área de 6,4 hectares ao município para a construção da unidade.
- A área fica no bairro Parque Pinheiro Machado, zona oeste da cidade.
2008
- O Ministério da Saúde empenha R$ 19 milhões para a construção da unidade.
- Prazo inicial de começo das obras é março, o que não se concretiza.
- Em dezembro, o secretário Osmar Terra afirma que as obras se iniciarão no primeiro semestre de 2009 e serão concluídas em até 18 meses.
2009
- Em agosto, a então governadora Yeda Crusius (PSDB) anuncia o aporte de R$ 35 milhões – com recurso da União e Estado – para iniciar as obras.
- À época, segue prevista uma unidade da Rede Sarah junto ao Hospital Regional.
- O edital, para a contratação de uma empresa para executar a obra, acaba sendo suspenso. Isso porque à época uma das participantes ingressou com um recurso questionando o certame.
2010
- Em março, Yeda Crusius assina o contrato com a ordem de serviço para o início das obras.
- Ao longo do ano, a obra para por vários momentos. A empresa à frente dos serviços faz, em julho, solicitação de aditivo financeiro.
2011
- Já na gestão do governador Tarso Genro (PT), o prazo de conclusão é 12 de setembro. O que não se concretiza.
- Em novembro, o Ministério da Saúde sinaliza que haverá a liberação de R$ 15 milhões para a compra de equipamentos.
- A construtora, à frente da obram afirma que há atrasos nos repasses por parte do Estado.
- Pela primeira vez, o Estado admite que a obra atrasará. Entrega do hospital fica para o segundo semestre de 2012.
2012
- Estado chega a sinalizar que a obra poderia ser entregue até o primeiro trimestre do ano, o que não ocorre.
- Depois, o Estado dá um terceiro prazo: setembro, o que não se concretiza.
- A obra chega ao mês de dezembro com 70% dos serviços concluídos.
2013
- Governo sinaliza com o mês de março para a entrega da obra. Quarto prazo que não é cumprido.
2014
- Em fevereiro, o Estado diz não ser possível afirmar quando o Hospital Regional irá, de fato, iniciar os serviços.
- No mês de setembro, o governo Tarso assina um termo de cooperação para que a Ebserh, que administra o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), faça a gestão do Hospital Regional.
- Dezembro, agora, passa a ser o quinto prazo de entrega da obra. O que não é cumprido.
2015
- Muda o comando do Piratini, e a gestão de José Ivo Sartori (PMDB) anuncia que irá rever o termo de cooperação com a Ebserh.
- No mesmo ano, o Estado afirma que a entrega da obra ficará para o fim do ano. Esse é o sexto prazo que não se concretiza.
2016
- O Piratini assume que passa a tratar do assunto da gestão junto com instituições privadas de saúde do Estado.
- Em 19 de setembro, a Engeporto – construtora responsável pela obra – entrega o prédio ao Estado.
- No mês seguinte, a Secretaria Estadual de Saúde anuncia que o Hospital Regional abrirá em 2017. Esse passa a ser o sétimo prazo dado pelo Estado.
- Além disso, o Piratini adianta que a gestão do hospital contará com uma parceria entre os hospitais Sírio-Libanês (SP) e Mãe de Deus e Moinhos de Ventos (ambos de Porto Alegre).
- No fim do ano, uma comitiva de políticos – Osmar Terra (ministro do Desenvolvimento Social), Ricardo Barros (ministro da Saúde) e João Gabbardo (secretário de Saúde do RS) – vêm a Santa Maria e reforçam que o hospital abrirá ainda no primeiro semestre de 2017. Com esse, se tem o sétimo prazo de abertura.
2017
- Ao longo de todo o ano, o Estado procurou seis instituições com expertise na prestação de serviços na área da saúde para assumir a gestão do Hospital Regional.
- Uma a uma, todas elas acabam declinando do convite do Piratini para ficar à frente da gestão.
- Concomitante, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) analisa a possibilidade de uma instituição filantrópica de assumir a gestão.
- Após todas as negativas, o Estado busca a sétima entidade: o Instituto de Cardiologia, de Porto Alegre.
- Em agosto, o secretário adjunto de Saúde do RS, Francisco Paz, afirma ser necessário R$ 60 milhões para equipar o hospital.
- Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) afirma que somente voltará a tratar a possibilidade de assumir a gestão do Regional em 2019.
- Em novembro, o Estado afirma que obra do Hospital Regional foi entregue "inconclusa e com problemas".
2018
- Governador José Ivo Sartori anuncia em 17 de janeiro que o Instituto de Cardiologia, de Porto Alegre, ficará à frente da gestão do Hospital Regional.
- Secretário de Saúde, João Gabbardo dos Reis, anuncia no dia 19 de janeiro que o hospital será 100% SUS.
- Além disso, Gabbardo afirma que no prazo de 30 a 40 dias, devem ser concluídos os termos do convênio entre o Estado e o instituto para saber como se dará o funcionamento do regional.
- Ainda conforme anúncio do secretário, o hospital terá, em um primeiro momento, a abertura ambulatorial nas áreas de neurologia, da cardiologia, da ortopedia e também a pacientes hipertensos.
- Os primeiros atendimentos devem começar no prazo de 90 a 120 dias.