Até a escolha do nome da instituição que ficaria à frente da gestão do Hospital Regional de Santa Maria, a Secretaria Estadual de Saúde consultou, em 2017, sete entidades ligadas à área dentro e fora do Estado, mas nenhuma demonstrou interesse. A última cartada foi dada ao Instituto de Cardiologia, de Porto Alegre, que também presta serviços às prefeituras de Alvorada e Cachoeirinha.
— O Instituto de Cardiologia tem expertise de longa data na prestação de um serviço público com qualidade e excelência — resume o secretário estadual da Saúde, João Gabbardo dos Reis, que foi diretor de uma unidade do instituto no Distrito Federal até 2014 e, atualmente, não tem mais vínculo.
Gabbardo avalia que o avanço mais significativo na escolha do Cardiologia é o "já reconhecido e eficiente serviço" prestado junto ao SUS.
— Houve muito rumor e boataria de que estaríamos entregando o Regional à iniciativa privada, que não haveria atendimento SUS. Mostramos que, sim, essa é uma prioridade do governo do Estado.
Desde o fim da década de 1990, a instituição faz a gestão de unidades de saúde na Região Metropolitana. O Hospital de Alvorada é de média complexidade, atende 100% SUS e oferta 99 leitos. O de Cachoeirinha, com 91 leitos, também oferece serviços totalmente gratuitos.
— O Regional será referência para todo o Estado. O Instituto de Cardiologia tem um histórico que, por si só, dá a dimensão de sua credibilidade — afirma Gabbardo.
O instituto deve receber valores do Ministério da Saúde conforme os serviços prestados, observando a tabela SUS. O custo para manter o hospital em funcionamento – levando em conta folha de pagamento e outras despesas – deve girar em torno de R$ 8 milhões a R$ 10 milhões por mês.
Um hospital "no limite"
Enquanto o Regional não abre as portas, o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) segue sobrecarregado e atuando "no limite", conforme a diretora da instituição, a médica Elaine Resener. Ainda no fim de 2014, o então governador Tarso Genro (PT) assinou termo de cooperação para que a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que administra o Husm, fizesse a gestão da nova unidade:
— Sempre tivemos disposição e, mais do que isso, pessoal e profissionais qualificados para colocar em funcionamento o Regional com a estrutura do Husm e com o suporte da Ebserh — garante Elaine.
Voz em defesa da opção do governo de José Ivo Sartori é a do correligionário e ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra (PMDB), que acompanha o tema desde os tempos de deputado federal (2001-2003 e 2006 até o momento) e secretário estadual da Saúde (2003-2010).
— O Regional não foi pensado para ser um hospital-escola. Seria um erro. O Husm cumpre com o seu papel. Deixem eles, Universitário e Ebserh, lá. O Regional terá gestão eficiente.
Enquanto isso, o Husm segue atendendo 45 municípios das regiões central e da fronteira-oeste. Considerado um hospital geral, a unidade ainda presta serviços de emergência e de alta complexidade. Ao todo, são 403 leitos, segundo Elaine, todos preenchidos:
— A taxa de ocupação é 104%. Sabe o que isso significa? Enquanto o paciente está saindo do leito, o outro (paciente) já está subindo na cama. Praticamente não dá tempo de higienizar.
Aperto no Husm
No aguardo da abertura do Hospital Regional, o Universitário enfrenta demanda em excesso. Confira números de 2017:
- 237 mil consultas
- 16 mil internações
- 7,7 mil cirurgias de emergência, de câncer e eletivas (que não são de urgência).
- 1,8 mil servidores nas áreas médica, de enfermagem, assistência social e administrativa
- R$ 94 milhões de orçamento