Mesmo que em ritmo descendente, a violência no trânsito gaúcho preocupa autoridades pelo perfil das ocorrências. Nos três primeiros trimestres deste ano, quase quatro a cada 10 mortes em acidentes concentraram-se em dois dias da semana: sábado e domingo, com destaque para o período noturno.
Do total de 1.320 vítimas fatais, 512 perderam a vida em estradas, ruas e avenidas nesse período – o que equivale a 38,69%. Para especialistas, o resultado está relacionado ao consumo de álcool e ao excesso de velocidade.
— Essa combinação implica alto número de acidentes aos finais de semana, uma vez que o álcool redobra a influência de outros fatores de risco. O motorista que corre, quando bebe, corre mais — analisa Eduardo Biavati, sociólogo e consultor em segurança viária. — O Estado conseguiu controlar a violência no trânsito, mas não mudar qualitativamente as características da violência — acrescenta.
Desenvolvido pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS), o levantamento de acidentes também mostra que, durante os finais de semana, mais da metade das mortes ocorreu à noite e à madrugada. Segundo o arquiteto urbanista Fernando Lindner, consultor de mobilidade urbana e ex-diretor de trânsito na Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), os finais de semana, historicamente, são os momentos mais críticos na segurança viária. Por isso, devem, também, concentrar as ações de fiscalização.
— Nos finais de semana, o sistema está mais ocioso e as velocidades aumentam, especialmente à noite. Associando esses fatores ao consumo de bebida, ocorrem as fatalidades — avalia Lindner.
Para os especialistas, uma das explicações para a maior incidência de mortes nas noites e madrugadas dos finais de semana pode estar associada à falta de vigor da Balada Segura. Biavati e Lindner concordam que os motoristas perderam a percepção de que podem ser flagrados e punidos, destacando a necessidade de ações em volume mais expressivo do que o atual.
— As pessoas só irão mudar esse hábito cultural de beber e dirigir quando perceberem que o risco de serem flagradas é realmente alto, o que ocorre quando se cria a percepção de que em todos os lugares tem blitze. O condutor "escapa" porque sabe que só tem um ponto de fiscalização na cidade — critica Biavati.
O diretor-geral do Detran, Ildo Mário Szinvelski, reconhece que os finais de semana exigem reforço na fiscalização nas ruas e avenidas, a exemplo da operação Viagem Segura, desenvolvida em estradas durante feriados. Porém, nega que houve queda nas ações:
— Nunca se abordou tanto, mas, no início da Balada Segura, utilizava-se muito da questão midiática. Hoje, tornou-se rotineiro. Segue sendo uma operação de suma importância para a mudança de comportamentos.
De fato, os dados do Detran-RS indicam um incremento na Balada Segura. Entre janeiro e julho de 2016, ocorreram 916 blitze no Estado. No mesmo período deste ano, foram 1.156 — um aumento de 26%. Também subiu o número de veículos abordados nesse período, passando de 57 mil para 75,7 mil.
Mortes sobem 5,43%
Nos três primeiros trimestres de 2017, o Rio Grande do Sul registrou 1.320 mortes em acidentes. No mesmo período do ano passado, foram 1.252, o que representa um aumento de 5,43%. Para as autoridades, o número representa uma estagnação dos dados, que, desde 2010, vem caindo entre os gaúchos.