Estudioso da cultura e das questões que envolvem a cidadania italiana desde a década de 1990, o sociólogo e genealogista paulista Daniel Taddone atualmente é membro do CGIE (Consiglio Generale degli Italiani all’Estero - Conselho Geral dos Italianos no Exterior). Apesar da paixão pelos temas que envolvem a Itália, ele tem uma visão crítica sobre os rumos que os debates dos direitos dos descendentes têm tomado.
O recente aumento de taxas ilustra essa situação e, para ele, trata-se de uma clara reação do sistema político italiano, que entendeu que mudar a lei que rege a cidadania é algo complexo, e tratou de se movimentar de outra forma:
— É uma resposta que o sistema conseguiu elaborar para tentar, de alguma forma, primeiro, dissuadir as pessoas de entrarem com esses pedidos de cidadania, a fim de diminuir a quantidade de pessoas que têm pretensão de ter a cidadania reconhecida. E, depois, aqueles que ainda assim interesse, haverá com que exista uma seleção econômica, para que não sejam pessoas que queiram emigrar para a Itália, ou que de alguma forma se tornem um peso para a Itália no futuro.
Taddone é pessimista quanto à expectativa de que o aumento das tarifas possa significar uma melhoria geral dos serviços consulares. Isso era prometido quando da implantação da taxa de 300 euros em 2014, e ele entende que até hoje não aconteceu, pois não há instrumentos claros para a aplicação dos recursos.
O fato de o Rio Grande do Sul estar celebrando os 150 anos da imigração italiana também não é algo que possa significar uma mudança no quadro pois, em geral, a população italiana não tem ideia das questões que envolvem imigração e cidadania. Taddone entende até que a efeméride pode ser negativa nesse sentido, pois a distância temporal abre espaço para questionamentos sobre o que sobrou de “italianidade” nesses descendentes.
— Aqueles que tem uma consciência do tema lidam muito mal com isso. O italiano não entende a importância e o valor que é ter esses descendentes pelo mundo. Existe uma simpatia um pouco maior por aqueles que são de primeiro mundo, como Estados Unidos, Canadá e Austrália, pois não os veem como imigrantes em potencial, mas de maneira geral não nos consideram como italianos — aponta o conselheiro.
Apesar de, em tese, ser um órgão de consulta para as questões que envolvem os italianos no exterior, o CGIE não foi ouvido sobre o aumento das taxas. Esse descrédito à instituição, no entender de Taddone, é mais uma demonstração do pouco apreço pelas opiniões dos cidadãos que moram fora da Itália. Mesmo assim, ele defende a existência da entidade, pois não ter um órgão representativo seria muito pior.