Depois de fechar o primeiro trimestre com a assustadora soma de 12 mortes de motociclistas em acidentes, Porto Alegre conseguiu reduzir esse número em 41% de abril a junho, período em que houve sete vítimas fatais. Mesmo assim, os números totais de mortes no trânsito seguem maiores do que no ano passado – foram 45, contra 38 nos primeiros seis meses de 2016 – e, agora, são liderados por pedestres. No total, ocorreram 21 óbitos por atropelamento.
Os dados são do balanço de acidentalidade do primeiro semestre, realizado pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). Para diminuir as mortes no trânsito, o órgão pretende intensificar campanhas de conscientização com esses dois públicos, considerados de maior risco nas relações da mobilidade urbana.
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Do total das vítimas fatais deste ano, 88,8% eram motociclistas e pedestres. Em outras palavras, nove em cada 10 mortos andava a pé ou de motocicleta.
– Nosso foco é insistir no público mais vulnerável – afirma o diretor-presidente da EPTC, Marcelo Soletti. – Acredito que vamos conseguir fazer a recuperação desses números e terminar o ano com menos mortes do que no ano passado.
Soletti ressalta a postura ostensiva adotada na gestão de Nelson Marchezan – a nova orientação na EPTC é para que os fiscais de trânsito deixem os radares móveis o mais visível possível. E também rechaça a possibilidade de a mudança ter relação com o aumento de óbitos, acrescentando que a empresa vem realizando blitze e intensificando ações, em parceria com Brigada Militar, Guarda Municipal, Polícia Civil, Força Nacional, Exército e Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Sul (Detran-RS).
– Quando o condutor vê o agente, deixa de falar ao celular e põe o cinto. (O trabalho) também é educativo – explica.
Em decorrência do aumento de mortes em acidentes envolvendo motociclistas no começo do ano, a EPTC investiu em campanha envolvendo essa categoria, com material para distribuição, blitzE específicas para motos, abordagens na rua e parceria com sindicato da categoria, relata Soletti. A redução significativa de óbitos entre motociclistas é considerada uma conquista, mas os acidentes envolvendo motos ainda não diminuíram – foram 599 no primeiro trimestre do ano e 638 no segundo. Quando o número de mortes de motociclistas e caronas é somado ao número de atropelamentos em acidentes com motos, ainda representa 60% dos acidentes com vítimas fatais no primeiro semestre, sendo que, no ano passado, o percentual era de apenas 34,21%.
"Piloto tem de treinar", defende motociclista
O presidente do Sindicato dos Motociclistas do Rio Grande do Sul (Sindimoto-RS), Valter Ferreira da Silva, afirma que, entre a categoria, são distribuídos materiais de orientação e, frequentemente, feitos trabalhos para salientar a importância do uso não só do capacete, mas também de cotoveleira, caneleira e colete refletivo. Silva acredita que "o bom piloto tem de treinar, não só ler". Para ele, o ideal seria a disponibilização de cursos de capacitação, a serem realizados depois que o condutor conquista a habilitação para dirigir.
– O motociclista faz formação em um circuito pequeno e fechado, sem gente, sem carro, sem cachorro e, quando sai para a rua, é outra coisa – argumenta.
– O ideal seria a realização de um curso, mas, daí, teria de entrar EPTC, Detran, pois nós (Sindimoto-RS) não teríamos condições de arcar com esse custo.
ZH esteve em trecho da Rua General Câmara, utilizado como estacionamento de motos, no Centro, para conversar com motociclistas. Além de ressaltar que a moto deixa o condutor mais vulnerável e é menos visível no trânsito do que carros, eles atestam que há muita imprudência, tanto por parte dos motoristas de veículos maiores, quanto de motos.
– A gente tem de se cuidar, cuidar os carros e cuidar dos próprios motoqueiros, naquelas ultrapassagens pelo meio – diz a estagiária de Direito Suelen Farias, 23 anos, que usa a motocicleta como meio de locomoção. O autônomo Wagner da Silveira, 37 anos, relata que passou a ter mais cautela depois que um amigo morreu em um acidente ao bater com a cabeça em um poste – a vítima não havia afivelado bem o capacete.
– É uma coisa tão simples, mas muitos motoristas não afivelam o capacete _ admite.
A tragédia das ruas em números
5.772
acidentes de trânsito foram registrados na Capital no primeiro semestre
16,2%
é a queda no total de ocorrências em relação ao mesmo período de 2016
18,4%
é o aumento no total de vítimas fatais em relação a 2016
45
pessoas morreram no primeiro semestre de 2017 – em 2016, foram 38 vítimas no período
46%
das vítimas fatais no primeiro semestre eram pedestres (21)
42%
das vítimas fatais eram motociclistas e caronas (19)
Nenhum
ciclista morreu no trânsito de Porto Alegre no primeiro semestre