No Palácio do Planalto, na Esplanada, nas lideranças do PT ou de partidos aliados ninguém se arrisca a bancar o tamanho exato da base de Dilma Rousseff. Entre listas de parlamentares, estimativas de cargos no governo e outras variáveis, sobram dúvidas e ficam três certezas:
1 - A base de Dilma é frágil, em especial na Câmara.
2 - A situação no Senado é mais confortável.
3 - Os presidentes da Câmara e do Senado têm suas bancadas e são decisivos em cada votação.
Eis um resumo da situação de um governo que passa de calculadora na mão e com seu núcleo político imerso em reuniões. Fragilizado, o Planalto tenta construir a maioria capaz de sepultar as ameaças de impeachment e de aprovar medidas de equilíbrio da economia.
Na Câmara, as projeções indicam que o apoio consistente do governo varia entre 150 e 200 deputados. A coalizão dos sonhos teria 360, confortável para reunir os 308 votos que aprovam uma proposta de emenda à Constituição (PEC). A cifra é utópica, já que as bancadas dos nove partidos com ministérios totalizam 310 parlamentares. Aliados tratam 280 como uma boa base para encerrar o mandato de Dilma. A soma garante vitórias em votações por maioria simples, mantém vetos presidenciais, barra PECs contrárias ao Planalto e o impeachment.
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Ex-ministro das Relações Institucionais, o deputado Pepe Vargas (PT-RS) destaca que a base oscila conforme o tema em votação e o cenário político. Pesa em plenário a posição do parlamentar em seu Estado, a pressão do eleitor e dos grupos econômicos que representa.
- O clima é mais favorável do que alguns meses atrás, embora o governo ainda tenha de trabalhar para estabilizar uma base - diz Pepe.
O diagnóstico é preciso. Em fevereiro passado, a base ficou nos 136 que votaram em Arlindo Chinaglia (PT-SP) na disputa pela presidência da Câmara. Eleito, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) recebeu 267 votos, mas seu apoio minguou com o escândalo das contas na Suíça. Sua atual bancada é estimada entre cem e 130 membros - grupo com campanhas irrigadas pelo peemedebista.
- Eduardo jamais opera com menos de cem nomes - diz um aliado.
O Planalto tentou minar a força de Cunha em seu próprio partido ao acertar com os deputados do PMDB duas vagas na Esplanada. Composta por 67 integrantes, a maior bancada da Casa é rachada. Um terço está na oposição e o restante oscila entre Cunha e o líder Leonardo Picciani (RJ), que se aproximou do Planalto.
- O governo não perde mais votação de maioria simples. No PMDB, temos entre 40 e 45 deputados votando com o governo - afiança Picciani.
Incertezas rondam a pauta econômica
A vida de Dilma é facilitada quando Cunha (PMDB-RJ) pende ao governo, como ocorreu no ajuste fiscal. Ameaçado de cassação, o presidente toca uma pauta marcha lenta, o que dificulta testar a força da coalizão. Petistas dizem que, depois do fiasco da falta de quórum na votação dos vetos, a "nova base ainda não jogou". E os treinos preocuparam.
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Na quarta-feira, o plenário adiou a votação do projeto sobre a repatriação de recursos no Exterior. Governo, PT e PMDB orientaram seus deputados a manter a votação, porém foram derrotados.
No Planalto, as avaliações são positivas, mas considera-se cedo para cravar se a reforma ministerial teve o efeito desejado. Pelo menos um partido voltou à base, o PDT, que trocou o Trabalho pelas Comunicações. Apesar do reforço, não há certeza se o governo terá força para aprovar a pauta econômica. Apenas a prorrogação da DRU - permite ao governo usar livremente 20% de todos os tributos federais - parece encaminhada. Aliados consideram que o orçamento só será votado em março.
- O prazo é curto e existem muitas indefinições, principalmente sobre como resolver o déficit - diz Afonso Motta (RS), líder do PDT.
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Tabelinha com Renan garante tranquilidade
Se a relação com Renan Calheiros (PMDB-AL) vai bem, a vida de Dilma Rousseff no Senado é serena. Apoiada pelo presidente da Casa, após uma breve separação, a petista reúne base suficiente para aprovar MPs e projetos que exigem o mínimo de 41 votos.
- O papel que o Renan desempenha é decisivo nas votações. Ele tem aliados no PMDB e em outros partidos. É um político muito habilidoso - reconhece Delcídio do Amaral (PT-MS).
Líder do governo no Senado, Delcídio avalia que a base garante maioria, ainda que apertada. As bancadas dos nove partidos com cadeira na Esplanada dos Ministérios totalizam 56 senadores, porém a coalizão é estimada entre 41 e 45 membros, próximo dos 49 que aprovam PECs.
A situação mais confortável em relação à Câmara advém da tabelinha com Renan, em uma relação de mão dupla. O alagoano foi reeleito presidente do Senado graças ao empenho do PT. Somou 49 votos, porém as projeções indicam que ele reúne em sua órbita cerca de 28 senadores, maior parte do PMDB. Auxiliado pelo líder Eunício Oliveira (CE), Renan desfruta da lealdade de 14 dos 18 membros da bancada do seu partido.
Petistas calculam ter entre 15 e 20 votos a favor do governo. Ao somar os grupos de Renan e do Planalto, Dilma constrói um arranjo que faz do Senado um escudo contra ameaças de impeachment.
- Se abrirem o processo de impeachment na Câmara, a situação no Senado é favorável à presidente Dilma. Na pauta econômica é que fica mais disputado, com o PMDB de fiel da balança - aponta Paulo Paim (PT-RS).
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A situação amplia a dependência de Renan. Em março, após figurar na lista de parlamentares investigados na Lava-Jato, ele rompeu e inviabilizou as pautas governistas. O namoro foi reatado, e o alagoano reforçou sua importância.