O conserto dos sistemas de ar-condicionado que abastecem as Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) do Hospital de Pronto-Socorro (HPS) de Porto Alegre será finalizado até a próxima segunda-feira, dia 3 de novembro. A garantia é do secretário de Saúde da Capital, Carlos Henrique Casartelli.
Ele disse que analisou a situação dos ares nesta quinta-feira e que o problema vem afetando o HPS desde 24 de setembro. Porém, médicos e enfermeiros que trabalham na UTI de Traumatologia, no 4º andar, afirmaram ontem a Zero Hora que as unidades estão sem climatização há seis meses.
- Os equipamentos estão em processo de conserto. A empresa já está trabalhando, mas ainda não há um contrato assinado. A Procuradoria-Geral do Município (PGM) deu parecer positivo e o contrato será confirmado.
Temperatura ultrapassou os 30ºC na UTI na 4ª (Mauricio Tonetto / Agência RBS)
Casartelli explicou que o processo licitatório para manutenção do ar-condicionado do HPS atrasou. Mesmo correndo risco de sofrer alguma sanção do Tribunal de Contas do Estado (TCE), ele resolveu ordenar o conserto emergencial depois de reclamações dos funcionários do HPS, divulgadas por Zero Hora.
Na tarde de ontem, a reportagem visitou a UTI de Traumatologia e verificou que os internados usavam até mesmo papelões e leques para espantar o calor na tarde mais quente de outubro deste ano. Os profissionais de saúde deixaram as janelas abertas durante todo o dia - o que pode expor ainda mais as pessoas, que já estão em estado grave.
- São pacientes com queimaduras, fraturas e diversos traumas, suscetíveis a várias coisas. As janelas abertas permitem a entrada de insetos que podem transmitir infecções entre eles. Não conseguimos usar os equipamentos de proteção por causa do calor excessivo - ressaltou o médico intensivista Cristiano Franke.
Janelas foram abertas para diminuir o calor (Mauricio Tonetto / Agência RBS)
Uma norma da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina que as UTIs devem ser mantidas com sistema de climatização, e que está proibida a instalação de ventiladores para evitar o trânsito de "material particulado indesejável" por meio de correntes de ar.
- Os internados com febre, por exemplo, se desidratam, perdem muito líquido e ficam vulneráveis. Todos cansam e se estressam mais - relata a auxiliar de enfermagem Lúcia Fontana.
Para Simers, ambiente climatizado é necessidade básica
O presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Paulo de Argollo Mendes, classifica como "condição primária" a manutenção de ambientes climatizados em "UTIs de hospitais de qualquer parte do mundo".
Em pessoas queimadas, argumenta, o monitoramento das condições de temperatura, hidratação e equilíbrio de substâncias no corpo tem de ser constante. Sem ar-condicionado, "isso fica fora do controle":
- Não tem mais cabimento imaginarmos uma UTI sem climatização, faz parte do tratamento. Com esse calor, a janela tem que ficar aberta, e isso expõe pacientes a riscos. Uma zona queimada, por exemplo, está sem pele, então qualquer bactéria pode cair ali e causar infecção. Está tudo errado.
Para Mendes, o HPS passa por uma "reforma que mais parece uma comédia de erros":
- Desde o início, a reforma do HPS é completamente atrapalhada, anárquica, desordenada, patética. Quando se faz uma reforma em hospital, tem que ser planejado, porque hospital não pode parar. Aqui, foi uma coisa absurda, que ninguém faria na reforma do banheiro de casa.