As crianças também foram apanhadas no turbilhão de dúvidas, incertezas e novidades que o coronavírus provocou. Se governantes, cientistas, pesquisadores e adultos andam na corda-bamba em relação ao futuro, o mesmo cenário se aplica aos pequenos que absorvem, como uma esponja, as sensações dos ambientes nos quais estão inseridos.
Denise Steibel, psicóloga infantil, explica que a captação do que ocorre no mundo pelas emoções é ainda mais intensa em crianças de idades menores:
— Elas não têm condições emocionais de ler e interpretar o mundo, então, fazem isso por meio do comportamento e das reações dos pais. Se os pais estão mais cuidadosos, a criança entenderá que é preciso ter cautela, mesmo que momentos de birra apareçam. Se os responsáveis estão mais desleixados com a questão do cuidado, a criança também será assim e vai querer ir para a rua, brincar na pracinha etc.
Pedro Víctor Santos, psiquiatra da infância e adolescência, acrescenta que meninos e meninas mais demonstram do que falam sobre suas angústias, e que isso pode ser feito de maneiras diferentes, conforme a idade:
— As menores podem apresentar mais resistência para se alimentar, para dormir, fazerem mais manha e birra. Já as maiores podem ficar mais irritadiças. Isso não é necessariamente comportamento de algum tipo de problema ou doença, é uma forma de comunicação das crianças. Tem de servir de alerta para os pais, como símbolo de que algo não está correto. Afinal, realmente, não está. Todos estamos passando por um processo desorganizador.
Veja, a seguir, como lidar com alguns dos questionamentos mais frequentes das crianças.
Por que não dá para sair de casa?
A escola é a primeira família social da criança, diz Denise. Ali são feitas muitas trocas afetivas; brincam, se abraçam, se empurram. Colocam em cena suas mais variadas emoções. O convívio com os colegas e professores faz falta. Uma alternativa a esse problema é lançar mão da tecnologia:
— Fazer chamadas de vídeo e conversar é a solução. E não somente para matar a saudade dos amigos, mas também da família. Dá para passar de carro na frente da casa dos avós ou amiguinhos e ficar falando do portão, enquanto os outros estão apoiados de casa também. Não é a mesma sensação de estar junto, mas acalma as crianças.
Estou de castigo?
As crianças criam muitas fantasias, e isso pode ser pior do que, de fato, está acontecendo, caso não seja explicado. Por isso, reforce o motivo pelo qual todos estão em casa, afirma Santos:
— Os pais que podem ficar em casa dão o exemplo de que não estão saindo. Logo, fazem a criança entender que essa nova realidade não é uma punição para ela. Mas que esse cotidiano, de ficar em casa, é a nova realidade e não está ligado a nada de errado que ela possa ter feito.
Por que você não deixa fazer nada que eu quero?
O convívio intenso entre os integrantes da família pode gerar momentos de estresse e conflito. A crianças têm muita energia, gostam de brincar e podem se sentir agredidas ou podadas quando essa vontade é negada pelos pais, explica Denise.
— Contudo, esse é um aprendizado importante para quem nasceu nesta geração. É um ensinamento de que, em alguns momentos, a gente precisa se resignar e aceitar que não se pode fazer tudo. Porque, por exemplo, os pais precisam trabalhar de casa e não podem ficar 100% do tempo na volta dos filhos — diz a psicóloga.
Vamos todos ficar bem?
A melhor resposta para essa pergunta é o diálogo franco, aberto e em uma linguagem compatível com o grau de entendimento do mundo que a criança tem, sustenta Santos. Dar garantias de que tudo ficará bem e que ninguém da família ficará doente é uma afirmação de muito peso:
— Neste caso, a melhor alternativa é dizer que todos estão fazendo o possível para evitar que o coronavírus chegue na casa das pessoas da família. A comunicação é a chave.
Será que vamos para o céu?
As formas como a temática da morte aparecem se transformam ao longo da infância. Até os quatro anos, a criança entende que a morte é algo reversível, assim como acontece nos desenhos animados. Quando a personagem cai de um penhasco, mas aparece viva na próxima cena.
Dos cinco aos nove anos, essa percepção se altera. Ela passa a entender que, quando uma pessoa morre, ela vai embora, mas que esse tipo de situação pode ser evitada por meio de artifícios. A partir dos nove, os pequenos passam a ter noção da irreversibilidade do ato, observa Santos:
— Diante da morte, os pais podem seguir oferecendo informações conforme a capacidade da criança. Por exemplo, se morreu o pai ou tio de um pai e há muito sentimento, a criança vai notar o pai triste, choroso, vai se preocupar. É importante criar um espaço para dizer, no entendimento da criança, que o pai está triste, porque uma pessoa querida morreu, que ela não está mais aqui, que vai sentir saudades, que não dá para voltar etc.
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