O pior momento foi o resultado positivo. Não era gripe o que havia prostrado a funcionária pública Tatiane Pereira dos Santos, 41 anos, moradora de Gravataí. Era covid-19.
— Sempre temos esperança de que com a gente não vai acontecer. Achava que era uma gripe e já ia passar. Quando recebi o resultado, foi complicado, fiquei apreensiva. Então pensei: se não é meu, isso não vai ficar aqui — relata.
Entre 8 e 14 de março, Tatiane e o marido, Alexandre Martins dos Santos, 45 anos, haviam percorrido a costa brasileira em um cruzeiro de férias. No dia 17, em casa, ela percebeu os sinais de um resfriado. Dois dias depois, sentia falta de ar e dores — na cabeça, garganta e principalmente nas articulações. Não acreditava que pudesse ser o coronavírus, mas alertou o grupo de 50 amigos que participaram do cruzeiro (mais dois testaram positivo) e procurou atendimento no Hospital Dom João Becker. Passou a ser considerada um caso suspeito. Recolheu uma amostra para exame e foi mandada para casa, com a orientação de permanecer em isolamento.
Foi depois disso que o quadro realmente complicou.
— A fase mais intensa, de mais ou menos uma semana, foi de não sair da cama. É 20 vezes pior do que uma gripe. Porque a dor é muito forte em todas as articulações. Dói todo o teu corpo, parece que tu estás toda esmagada. É algo horrível, o tempo inteiro. Tu tomas remédio e não passa. Não tem remédio que alivie a dor, por mais que se tome analgésico — conta.
A moradora de Gravataí se esforçou para suportar o tormento:
— Tentei aguentar o máximo possível para não ir ao hospital, para não ser internada.
O isolamento foi com o marido e com a filha, Rafaela Pereira dos Santos, 16 anos. Ninguém saía e ninguém entrava na casa. Parentes deixavam no portão alimentos e outros produtos básicos.
A adolescente não viajou com os pais e não apresentou qualquer sintoma, mas Alexandre teve, quase em simultâneo, uma versão atenuada do mesmo quadro enfrentando pela mulher. Não chegou a procurar atendimento médico e já está totalmente recuperado.
O caso de Tatiane foi diferente, e ela suportou o medo — que cresceu no dia 24, quando saiu o resultado positivo — graças aos contatos com o médico e a Vigilância em Saúde, que telefonavam diariamente.
Só no domingo passado (29) a funcionária pública passou a se sentir melhor e percebeu que o perigo passara. Ainda assim, mesmo vencidos os 14 dias de quarentena normalmente prescritos, até a sexta-feira ela ainda se queixava de sintomas leves;
— Tenho um pouco de falta de ar, de cansaço, de tosse. Não estou 100%, mas o pior passou. Graças a Deus, me sinto curada. Mas vou continuar em isolamento — promete.