Os pais de Theo Popiolek dizem, com tranquilidade, oferecer tudo que o menino precisa para seguir com o sonho de se tornar um ginasta. Josimara Xavier Garcia, 39 anos, e Vinicius Popiolek, 38, mudaram de cidade em apoio ao filho, que aos seis anos segue os passos da seleção olímpica — em um quadro, ele exibe autógrafos de Arthur Nory, Rebeca Andrade, Caio Souza e Flávia Saraiva, além de outros integrantes do time brasileiro.
— O (Arthur) Zanetti disse pra eu treinar e pegar o lugar dele, quando se aposentar. Me imagino na Olimpíada — conta a criança, que guarda com carinho um vídeo do atleta especialista em argolas.
Theo treina ginástica artística no Grêmio Náutico União (GNU), no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Por ser ainda muito novo, não começou a competir e tem acompanhamento para que não se sinta pressionado em futuras disputas. Nas Olimpíadas de Tóquio, chamou atenção o caso da norte-americana Simone Biles, que abandonou cinco provas justificando ter de cuidar de sua saúde mental. Para os atletas mirins do GNU, o dia a dia mescla lições e diversão — a piscina com cubos de espuma é sua favorita.
Até dois meses atrás, o deslocamento de Theo para os treinos era feito de ônibus, desde Rio Grande, onde viviam. Ele viajava ao lado da mãe, às sextas-feiras, com retorno no dia seguinte. Com intuito de aumentar a frequência e eliminar as seis horas de estrada desde o sul do Estado, a família deixou a residência própria para alugar um apartamento na Capital.
A mudança exigiu mais do que procurar uma nova moradia. Josimara teve de pedir demissão da escolinha na qual lecionava há uma década. O marido, vendedor com experiência em concessionárias de veículos da região, estava desempregado e busca recolocação no novo endereço — eles moram atualmente no bairro São Geraldo, na Zona Norte, e afirmam terem sido muito bem acolhidos pelos vizinhos.
— Todos aqui no condomínio são fãs do Theo — orgulha-se a mãe coruja, que posta parte dos treinos no Instagram @theo.popiolek.
A vaga no clube surgiu após um professor da entidade observar o garoto em uma transmissão online. Ele foi convidado para um teste, no qual foi aprovado, e iniciou as lições no tradicional centro de treinamentos.
— Ele ainda é muito novo, não se pode prever ou gerar expectativas, mas a gente nota evolução pelos treinos aqui. Tem uma tabelinha, vão marcando cada salto novo que ele vai aprendendo — explica Josimara.
O preparo do guri para o esporte começou cedo, aos quatro anos de idade, ainda em Rio Grande. Na época, segundo a mãe, ele já fazia estrelinhas e outras cambalhotas pelos cômodos da casa. Em uma academia da região, ele aprendeu passos de balé, para aperfeiçoar a postura. Era o único menino a treinar ginástica artística no estúdio, fato que não incomoda Josimara ou Vinícius.
Na manhã desta segunda-feira (2), Theo pulou da cama antes das 6h. Queria assistir Rebeca Andrade na final do solo, uma das suas modalidades favoritas. Acompanhou a apresentação da medalhista e compreendeu quando ela acabou ultrapassada pelas adversárias. Na sequência, o garoto assistiu a prova do salto, que tinha outro ídolo seu, Caio Souza. No fim, o esportista teve uma queda, ficando de fora do pódio. Theo repetiu que “é normal cair”, e surpreendeu com uma frase aprendida nos últimos meses:
— Pode errar, mas não pode fazer de qualquer jeito.
A todo momento, o casal reforça não ter intenção de colocar pressão sobre Theo — ele próprio diz que além de treinar, se diverte com a estrutura oferecida pelo GNU. Os pais incentivam o filho, buscam apoio para manter as despesas e o acompanham nas transmissões, mesmo com o complicado fuso-horário do Japão.
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— Se não seguir na ginástica depois, tudo bem, já vale demais pela saúde, pelo esporte — finaliza o pai.
Nesta segunda, o atleta e a mãe falaram ao vivo no programa Gaúcha Hoje, da Rádio Gaúcha — logo depois, a professora realizou o exame admissional em uma nova instituição de ensino, fato comemorado pela família, na nova vida idealizada.