Com uma medalha de prata no peito e a leveza que chamou atenção durante as Olimpíadas de Tóquio, Rayssa Leal chegou ao Brasil na manhã desta quarta-feira (28) como um fenômeno, que atraiu torcedores de norte a sul do país. A menina de 13 anos também inspira jovens skatistas de Porto Alegre, que celebram a conquista da brasileira e veem, agora, motivos para projetarem um futuro mais palpável no esporte.
Na manhã desta quarta, outra menina de 13 anos também praticava as manobras na pista do Centro Social Padre Pedro Leonardi, na Restinga, zona sul da Capital. Thainara Alexandra Rocha Silveira começou no esporte em 2019, no local, mas as atividades foram suspensas em 2020, em razão da pandemia. Agora, as oficinas começam a ser retomadas, aos poucos.
No centro social, enquanto aguarda pela chance de uma adoção, a garota também pratica Taekwondo e pensa um dia fazer ginástica olímpica, mas é do skate que gosta mais:
— A gente se movimenta mais, vai aprendendo coisas novas, pode evoluir em muitas coisas. Também conheci muita gente legal por causa do skate.
A menina lembra que, nas primeiras aulas, usava a quadra de futebol, ao lado da pista, para pegar equilíbrio e aprender a andar em linha reta sobre o skate. Depois, o desafio foi aumentando e ela passou a praticar com obstáculos de madeira. Até que chegou o momento de ir para a pista, e ela começou a testar os movimentos na rampa.
Após uma parada forçada, por causa da pandemia, Thainara planeja retomar a atividade e seguir no esporte, e destaca o desempenho da fadinha do skate:
— Ela é muito boa, consegui ver uma parte da prova e ela se sai muito bem. Acho que pode inspirar muitas outras meninas. Por aqui, estou feliz que estamos retomando, eu estava com saudade — comemora.
Responsável pelo centro, que atende pessoas em situação de risco e vulnerabilidade social, o padre Claudionir Ceron lembra que a pista foi inaugurada em 2015, com apoio do skatista profissional Cezar Dal Pozzolo, o Cezar gordo.
Antes, o local contava apenas com uma pista de madeira, que costumava machucar quem caia durante as manobras. Com a construção da nova pista, ainda antes da sensação chamada carinhosamente de fadinha do skate, o esporte passou a ser incentivado no centro social.
— Tínhamos uma pista de madeira, e a gurizada pedia muito uma pista melhor, adequada. O pessoal brincava: "Uma pista de skate. Vocês são doidos". Mas fomos atrás, fizemos almoços, arrecadamos o valor. Nos antecipamos e ela está aí, à disposição da nossa juventude.
Há algumas quadras dali, na pista batizada com o nome do skatista paulista André Ribeiro, o Hiena, mais jovens andavam de skate nesta quarta, apesar do frio. Com 674 metros quadrados, a pista ao ar livre era demanda antiga de quem pratica o esporte na Restinga e foi inaugurada no começo do ano.
Com skates no pé, três amigos, de 9, 10 e 12 anos, deslizavam de uma ponta a outra e depois paravam para debater os movimentos. Eles também acompanharam a trajetória de Rayssa nas Olimpíadas.
— Você vê que ela encaixa as manobras, uma na outra, com rapidez, ela vai muito bem. É legal de assistir, ela é muito boa — lembra um deles, reconstruindo os movimentos com as mãos.
Padre Ceron, que também arriscou umas manobras na manhã desta quarta, tem mais planos. No futuro, sonha em unir igreja e pista de skate, criando um espaço para fazer as celebrações no mesmo espaço em que os atletas usam. A ideia é construir o local em Santa Catarina, onde o padre nasceu, e estimular o turismo religioso e o esporte.
Por enquanto, o padre comemora a conquista da fadinha do skate, e torce para que ela inspire mais jovens a procurarem o esporte:
— Eu acho que a história dela tem tudo a ver com a nossa aqui. São pessoas humildes, crianças que têm sonhos. A gurizada falou muito dela aqui, eles acompanham. E essa pureza da Rayssa é muito bonito de ver, a forma como encarou as provas, e é o que vemos nas nossas crianças aqui. A gente torce que eles também possam ser campeões, no esporte e na vida.