Rayssa Leal, de 13 anos, já inspirava outras skatistas antes mesmo da prata em Tóquio — conquistada nessa segunda-feira (26), que a tornou a mais jovem medalhista brasileira da história dos Jogos. Distante quase 3,5 mil quilômetros da terra natal de “fadinha”, como é conhecida a atleta olímpica maranhense, compete a gaúcha Lara Vargas. A adolescente de 12 anos, nascida em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, madrugou na torcida pela representante do Brasil, na final de mais uma etapa do torneio.
— Achei muito incrível a vibe que passa o evento, mesmo pra quem não está lá. E como elas são unidas, mesmo correndo uma contra a outra, sempre estão vibrando uma pela outra também — afirma, em referência à felicidade demonstrada pelas adversárias, após cada volta na pista.
Lara conheceu fadinha durante uma seletiva em Sapiranga, município vizinho à cidade em que vive com o pai. Na época, observou, encantada, a colega da arquibancada. Durante essa etapa, posaram juntas para uma foto, abraçadas, em uma imagem que carrega nos detalhes a idade de ambas: Lara tinha nove, e Rayssa, 10. A atual vice-campeã olímpica segura um pote de creme de avelã e um copo de açaí. A fã gaúcha usa macacão azul estampado por corações brancos. Um segundo encontro ocorreu na capital fluminense, também com troca de abraços.
O objetivo de Lara é disputar os jogos olímpicos de 2024, em Paris. Ela admite que, ao ver a amiga no segundo degrau mais alto do pódio, pensou no próprio futuro.
— Me imaginei, e espero que em uma próxima eu esteja lá. Ela é uma inspiração pra muita gente, pra mim também, claro — vislumbra.
Para alcançar o sonho de Lara, a família irá trocar o Rio Grande do Sul por Santa Catarina. O pai da menina, Igor Vargas, 41 anos, pediu demissão em uma empresa da grande Porto Alegre, pela qual atuava há dez anos, e alugou um imóvel em Florianópolis. Segundo o representante comercial, os melhores esportistas do ramo vivem ou treinam na ilha.
— Temos boas pistas no Rio Grande do Sul, mas as referências estão aqui em Santa Catarina. Vir pra cá é para dar segmento no sonho dela — garante.
Igor disputou competições na categoria Master até 2019 — a pandemia de coronavírus suspendeu os eventos nas variadas modalidades. Ele conversou com a reportagem de GZH por telefone, no final da manhã desta segunda-feira, com o veículo estacionado em frente ao local em que realizaria uma entrevista de emprego, na nova vida idealizada.
No Instagram @laravargassk8, uma imagem traduz a influência de casa: Lara, com apenas três anos de idade, está agarrada à cintura do pai, ambos sobre um skate. Nas competições, iniciou um pouco depois, entre sete e oito anos, período no qual já se destacava em saltos e manobras na borda da pista.
Quando alcançou pontuação para participar do STU — o Circuito Brasileiro de Skate —, viajou a Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Para bancar as viagens, contou com vaquinhas online, ajuda de amigos e padrinhos que conheceu na trajetória.
— Cheguei a pedir ao Juiz para ela poder viajar com a madrinha, que também é skatista. Com autorização da justiça, ela foi, isso porque não tínhamos dinheiro para mais uma passagem aérea — relembra o pai.
Fadinha compete pelo Skate Street, com manobras em meio a obstáculos, que simulam elementos de rua, como corrimão de escadaria, degraus e muretas. Já Lara, disputa o Skate Park, em uma pista com formato semelhante a uma piscina com curvas.
Enquanto planeja os passos da filha, Igor comemora a vitória dos demais skatistas.
— O skate é isso, é uma família. Eu já corri circuito brasileiro e fui campeão gaúcho, mas na minha época era um esporte de maloqueiro, e hoje a gente vê, com orgulho, duas medalhas olímpicas — celebra.