Nos Jogos Pan-Americanos de Lima, o Brasil teve sua maior participação feminina em um evento deste porte. Das 485 vagas brasileiras, 236 foram de mulheres — 48,6% da delegação. Porém, nem sempre foi assim.
— Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país — dizia o texto do decreto-lei 3.199 de 14 de abril de 1941. O artigo foi criado durante a Era Vargas e vigente até 1983. Durante todo esse tempo, ele proibiu, dentre os esportes considerados masculinos, a prática do futebol feminino no Brasil.
Neste período, as mulheres sempre estiveram relegadas a um segundo plano, no âmbito esportivo, um claro reflexo da sociedade. Durante a Ditadura Militar, restringiu-se ainda mais essa proibição. Mulheres não podiam "praticar lutas de qualquer natureza, tampouco jogar futebol, futebol de salão ou de praia, pólo aquático, pólo, rúgbi, halterofilismo e beisebol". A lei só foi derrubada no anos 1980.
As poucas atletas que se destacavam, com raras exceções, como a tenista Maria Esther Bueno, sempre tinham que carregar o título "musa disso ou daquilo". E a própria multicampeã das quadras sofreu com o pouco reconhecimento interno, já que até hoje seus feitos são muito mais exaltados no exterior do que aqui em terras tupiniquins.
Os Jogos de Tóquio 2020 se aproximam e, com certeza, as mulheres ganharão mais espaço exatamente pela beleza. Afinal como é bom apreciar o lindo futebol de Marta, as belíssimas cortadas de Sheilla e os maravilhosos ippons de Mayra Aguiar, assim como eram os saltos da campeã olímpica Maurren Maggi.
Mas podemos ir além, e pensar na norte-americana Allyson Felix, que esta semana fez parte do revezamento misto 4x400, campeão do Mundial de atletismo e que garantiu sua 12ª medalha de ouro, superando o recorde que pertencia ao jamaicano Usain Bolt. E esta marca foi atingida 10 meses depois da velocista ser mãe da pequena Camryn, em uma cirurgia de risco para ambas. Allyson perdeu patrocínios da gigante de material esportivo que a patrocinava e agora conta esta belíssima história de vida.
E o que dizer da britânica Dina Asher-Smith, que durante os Jogos de Londres 2012, então com 14 anos, era um dos milhares de voluntários que trabalharam durante o evento, e que acaba de se sagrar campeã mundial dos 200m e ainda garantir a medalha de prata nos 100m?
Daqui 293 dias, atletas de todo o mundo estarão reunidos no Japão e com certeza veremos mais uma vez a beleza dos feitos extraordinários das mulheres olímpicas.