A principal esperança de medalha do atletismo brasileiro em Doha carrega 150 quilos distribuídos em 1m88cm e acentuado sotaque de descendentes de italianos que colonizaram Concórdia, município de 74 mil habitantes do oeste catarinense. Aos 28 anos, Darlan Romani está entre os favoritos em uma prova tradicionalmente dominada por brutamontes do Leste Europeu ou de potências olímpicas como os Estados Unidos.
No arremesso de peso, superar a distância de 22 metros equivale a baixar dos 10 segundos nos 100m. Pois desde 2018, quando atingiu essa marca pela primeira vez, o quinto colocado na Olimpíada do Rio 2016 mudou de patamar na prova. Na etapa de Eugene da Liga Diamante, em junho, o catarinense faturou o ouro com três arremessos notáveis: 22m46cm, 22m55cm e 22m61cm. Essa última marca, por sinal o coloca em 10º lugar no ranking histórico da prova. E teria lhe valido a medalha de ouro em todas as edições dos Jogos Olímpicos e dos Mundiais.
O problema para Darlan é que a concorrência no arremesso de peso, com o perdão do trocadilho, é pesada. Com os 22m61cm de Eugene, ele ocupa a segunda posição do ranking mundial da temporada. Isso significa que outro atleta está a sua frente em 2019. Trata-se do atual campeão olímpico, o americano Ryan Crouser, que já arremessou 22m74cm neste ano e também competirá em Doha em busca de seu primeiro título mundial.
Dois campeões do evento, por sinal, estão no caminho de Darlan. Um deles é o vencedor de 2017 e atual terceiro colocado do ranking, o neozelandês Tomas Walsh, que já arremessou 22m67 na carreira e 22m44cm na temporada. O outro é o americano Joe Kovacs, sexto da lista de 2019, com 22m31cm.
— Darlan vai brigar pelo ouro. Ele teve uma progressão muito forte e tem uma quantidade grande de resultados na casa dos 22 metros — projeta Lauter Nogueira, comentarista de atletismo do SporTV.
Para buscar sua medalha no Catar, Darlan terá de deixar para trás o mau retrospecto em Mundiais. Em Pequim 2015 e Londres 2017, o brasileiro não conseguiu nem mesmo avançar à final da prova. Nada que tire sua confiança.
— Chego ao Mundial com boa expectativa, de dar o meu melhor, de fazer o que estou preparado – disse o atleta, que está em León, na Espanha, onde montou sua base de treinos antes do embarque para Doha, previsto para sábado (28).
Se 22m é um número mágico já superado por Darlan, outra meta entra em seu horizonte: os 23m. Apenas dois homens já conseguiram essa façanha na história da prova, o recordista mundial Randy Barnes, que arremessou o peso a 23m12cm de distância em 1990, e o alemão Ulf Timmermann (23m06cm).
— Nas últimas temporadas, tenho alcançado os 22m. Ultrapassei os 22m50cm. Vinte e três metros? Por que não sonhar? Mas é muito trabalho que a gente tem pela frente ainda.