Um quarto da temporada da NFL está nos livros. Com 25% da fase regular disputada, apenas dois times seguem invictos e com 100% de aproveitamento na liga. Os dois, Los Angeles Rams e Kansas City Chiefs, foram construídos com várias semelhanças que explicam o sucesso simultâneo: técnicos de mente ofensiva e criativa que são oriundos da mesma árvore, quarterbacks talentosos e nos contratos de calouro — o que possibilitou o uso do dinheiro dentro do teto salarial para reforçar outros setores — e a presença em divisões com adversários que estão jogando menos do que o esperado.
Claro, dos dois lados também há diferenças. O ataque do Chiefs é mais explosivo, também graças à capacidade física de Patrick Mahomes, enquanto o Rams é mais equilibrado — além do ataque forte, tem uma defesa eficiente comandada pelo experiente Wade Phillips e liderada por Aaron Donald, um dos melhores jogadores do futebol americano.
Apesar das diferenças entre as ideias do veterano Andy Reid e do jovem Sean McVay, Tiago Araruna, da Liga dos 32, vê similaridades nos dois sistemas ofensivos, que são a base das melhores campanhas.
— São dois ataques que fazem uso de várias jogadas que costumamos ver no futebol americano universitário, com ajustes inteligentes para que funcionem contra defesas muito mais rápidas e com capacidade de reação como são as da NFL. É possível constatar o uso de zone reads, toques para um jogador vindo em movimento de ponta a outra, abuso de play actions, bloqueios por zona por parte da linha ofensiva tanto no passe como na corrida com o objetivo de dificultar a identificação imediata da chamada — analisa.
Reid trabalhou como assistente ofensivo do Green Bay Packers na década de 1990. McVay é descendente de Jon Gruden, sob quem iniciou a carreira no Tampa Bay Buccaneers. E Gruden também trabalhou naquele Packers dos anos 1990. Ou seja, os dois são, de certa forma, da árvore de Mike Holmgren.
Para Maurício Almeida, que faz uma cobertura especializada do Los Angeles Rams no Twitter, a força do Rams não está apenas no sistema, mas também no talento dos jogadores.
— As peças que o McVay tem pra trabalhar são realmente o que fazem o time ser bom e pontuar tanto por jogo. Acredito que o Rams tenha o melhor trio de recebedores da liga, com Brandin Cooks, Robert Woods e Cooper Kupp. A preocupação que as ameaças aéreas e terrestres levam para as defesas é porque há muitos jogadores de qualidade, que teriam que ter marcação dobrada na maioria dos casos — observa.
Para o líder da AFC Oeste, a mudança de quarterback potencializou as armas ofensivas. Alex Smith fez um ano sólido e até prolífico em 2017 — de longe, o melhor ano de sua carreira. Mas a média de jardas por passe pulou de oito para 8,7 com Mahomes — sem falar na incrível marca de 14 touchdowns e nenhuma interceptação.
— A grande força é o playbook do Andy Reid, que favorece o braço do Pat Mahomes. Ele arrisca mais do que o Alex Smith, que é mais tranquilo — compara Matheus Neves, administrador do perfil KC Chiefs BR.
O que não está bom
Rams e Chiefs começaram com quatro vitórias. Mas isso não quer dizer que tudo esteja perfeito. Em Los Angeles, apesar do entendimento de que seja um time completo, o grupo de linebackers e a falta de reservas no mesmo nível dos titulares preocupa.
— O ponto fraco tem sido os linebackers e a falta de elenco reserva. Só ver quantas jardas o time tomou após a lesão do (cornerback) Aqib Talib — diz Maurício Almeida.
Para Tiago Araruna, outro ponto de dúvida é o desempenho de Jared Goff em fases decisivas. Ano passado, o time caiu logo na primeira partida nos playoffs ao fazer apenas 13 pontos na derrota para o Atlanta Falcons depois de ter sido o ataque mais prolífico da temporada regular.
— Diria que a maior fraqueza, que não necessariamente é uma fraqueza, seria o Jared Goff, pensando em uma eventual fase mais aguda dos playoffs. Jogando contra Drew Brees ou Aaron Rodgers, por exemplo, ele precisaria mostrar um algo a mais para derrotar um quarterback de elite — alerta.
A deficiência do Chiefs é mais evidente. O time tem a defesa que mais cedeu jardas nas primeiras quatro semanas da temporada — a do Rams é a oitava melhor. A esperança está no retorno de Eric Berry, que ainda se recupera de uma lesão no tendão de Aquiles e daria, caso voltasse em boas condições, consistência à secundária — o time chegou a negociar uma troca pelo safety Earl Thomas junto ao Seattle Seahawks, mas a fratura na perna do defensor encerrou as tratativas.
— O Chiefs é um time que precisa se provar mais na frente ainda, pois já teve ótimos inícios de temporada para depois fraquejar. É uma nova era com Mahomes como quarterback, mas isso precisa ser colocado para trás. A defesa também é um ponto bastante comprometedor, e caso não tenha uma evolução, pode acabar complicando o time — finaliza Araruna.
O coordenador defensivo do Chiefs é Bob Sutton, que está no cargo desde que Reid é o treinador principal do time, em 2013. Antes, ele teve experiências no New York Jets entre 2000 e 2012. Para Matheus Neves, o trabalho do coordenador de 67 anos é insuficiente.
— Andy Reid faz um bom trabalho, mas a falha está questão defensiva. Bob Sutton precisa sair urgentemente. Os cornerbacks e strong safeties são o principal defeito da defesa. Sem o Berry, se perde muito. É difícil manter o padrão, todo jogo é um "tiroteio". Se o ataque não funcionar, o time irá perder — completa Neves.
As campanhas
O Rams venceu o Oakland Raiders (33 a 13), Arizona Cardinals (34 a 0), Los Angeles Chargers (35 a 23) e Minnesota Vikings (38 a 31). Lidera com folga uma NFC Oeste enfraquecida com o desmanche do Seattle Seahawks, a queda brusca do Arizona Cardinals com as saídas de Bruce Arians e Carson Palmer, e com a lesão de Jimmy Garoppolo no San Francisco 49ers.
O Chiefs passou por Los Angeles Chargers (38 a 28), Pittsburgh Steelers (42 a 37), San Francisco 49ers (38 a 27) e Denver Broncos (27 a 23). A equipe está na ponta da AFC Oeste que tem um Denver Broncos ainda na procura de se estabelecer com Case Keenum, enquanto Los Angeles Chargers e Oakland Raiders estão em um patamar abaixo do que se previa.
Os melhores até agora
Estatística da semana
441,8
A estatística não condiz com um time que tem apenas uma vitória e três derrotas. Mas o Oakland Raiders de Jon Gruden tem o segundo melhor ataque em jardas totais até agora na temporada, com 441,8 jardas por jogo, atrás apenas do Los Angeles Rams.
O problema é a efetividade. No ranking de pontos por jogo, a equipe aparece apenas no 13° lugar, com 24,2 — um indício de que o time tem tido problemas na red zone.
Jogador fora do radar
Tyler Boyd foi draftado pelo Cincinnati Bengals na segunda rodada de 2016. Fez um ano relativamente bom como calouro, com 603 jardas, mas foi discreto ano passado — nos dois primeiros anos, foram apenas três partidas como titular.
Neste ano, Boyd finalmente justificou a posição em que foi draftado. Nos primeiros quatro jogos, lidera o Bengals em jardas recebidas, com 349 — à frente de A.J. Green (297), Tyler Eifert (179) e John Ross (79).
Fique de olho
O domingo reserva a reedição da última final da Conferência Nacional. Às 17h25min, o Philadelphia Eagles volta a receber o Minnesota Vikings. Desta vez, os dois times estão em baixa. O Eagles tem duas vitórias e duas derrotas e vem de um revés para o Tennessee Titans. O Vikings só venceu na semana 1. Desde então, tem um empate contra o Green Bay Packers e derrotas para Buffalo Bills e Los Angeles Rams.