O acordo coletivo de trabalho é o documento que baseia todas as relações trabalhistas entre uma entidade e os seus profissionais. É assim também que acontece na NFL. De tempos em tempos, os donos das franquias da liga e os representantes da Associação dos Jogadores (NFLPA, na sigla em inglês) se reúnem para debater questões financeiras, estruturas básicas de contrato e vários outros pontos. O último CBA (também na sigla em inglês) foi assinado em 2011, quando os donos fizeram um locaute e a liga chegou a ter o calendário esmagado — chegou a ser cogitada a redução daquela temporada.
Do lado dos donos das franquias, o principal ponto de negociação eram os contratos de calouros. Como não havia nenhum limite nas negociações, os jovens jogadores chegavam à liga com contratos exorbitantes. A primeira escolha de draft mais recente na ocasião, Sam Bradford, havia assinado um acordo de seis anos e US$ 78 milhões com o St. Louis Rams — com US$ 50 milhões garantidos. Como o percentual para todos os jogos é determinado pelo CBA, mais dinheiro para os novatos significava menos dinheiro para os veteranos. E como a negociação era feita entre donos e veteranos, a decisão foi simples: foi criado um tabelamento para os contratos de calouro de acordo com a posição do draft. Isso era bom para os donos, que evitavam salários muito altos para jogadores que não eram provados, e para os veteranos, que ficavam com uma fatia maior dos ganhos.
Mas outro grupo que também ficou de fora das negociações foi prejudicado: os técnicos. No acordo entre donos e jogadores, o tempo de treino permitido foi reduzido drasticamente para evitar lesões. O problema é que, como consequência, aumentou a dificuldade para preparar os jogadores que chegavam do futebol americano universitário. E isso fez com que alguns setores que exigem mais treino, como a linha ofensiva, tivessem o nível de jogo comprometido — especialmente pelo aumento da popularidade de conceitos de spread offense na NCAA, que simplificam o trabalho das linhas.
Na avaliação de Pedro Pinto, coordenador ofensivo do Vasco e técnico de quarterbacks da seleção brasileira sub-19, a diferença no padrão de jogo do futebol americano universitário para o nível profissional na posição de linha ofensiva em comparação à linha defensiva cria a sensação de declínio técnico.
— O tempo de treino máximo permitido diminuiu, e eu me arrisco a dizer que a linha ofensiva é o setor do time que mais necessita tempo treinando junto para entender como deve funcionar. (Os jogadores) Precisam saber identificar de onde vem a pressão, os diferentes alinhamentos que uma defesa pode apresentar. Já a linha defensiva possui responsabilidades mais simplificadas, portanto pode focar apenas em agir, sem necessidade de pensar tanto antes. Outro fator que podemos olhar é o fato de que os jogadores de linha ofensiva costumam ser o setor mais inteligente do time. Isso demonstra uma relação direta com a velocidade do processamento mental dos atletas. Mas, ainda assim, não há solução se os jogadores não tiverem tempo suficiente de se prepararem e funcionarem como uma unidade — explicou.
William McArthur, técnico do Porto Alegre Gorillas e eleito o melhor técnico do Gauchão de futebol americano, discorda que haja um declínio na posição. Na avaliação do treinador americano, a redução de tempo para treinos se aplica a todas as posições do jogo:
— Não penso que as linhas ofensivas tenham decaído. Os ataques estão marcando mais pontos e ganhando mais jardagem. No último Super Bowl, entre Eagles e Patriots, os dois times combinaram para 1,1 mil jardas, um recorde.
Apesar disso, McArthur destaca que as linhas ofensivas mudaram de perfil:
— Está mais difícil jogar na linha ofensiva por causa dos esquemas e da necessidade de versatilidade, diferentemente do que era no passado. Hoje em dia, jogadores de linha ofensiva são ótimos atletas, não apenas gordos e grandes.
Quem é bom?
Na avaliação de Pedro Pinto, a maior dificuldade por conta do uso de conceitos de spread no futebol americano universitário é a avaliação de talento na chegada à NFL. Isso fica claro no draft de 2013, um raro caso em que dois offensive tackles foram escolhidos nas duas primeiras escolhas gerais — Eric Fisher pelo Kansas City Chiefs, e Luke Joeckel pelo Jacksonville Jaguars. A primeira rodada ainda teve a ida de Justin Pugh para o New York Giants na 19ª escolha. De toda aquela classe, só um atleta já foi eleito para um Pro Bowl: David Bakhtiari, selecionado pelo Green Bay Packers na quarta rodada. Por isso, o treinador ofensivo acredita que a adoção de conceitos utilizados nos níveis mais baixos pelos times da NFL seja uma forma de amenizar as deficiências.
— As técnicas utilizadas são completamente diferentes (entre universitário e profissional), e a quantidade de tape disponível, especificamente com relação à proteção de passe. Isso faz com que a grande maioria dos jogadores de linha ofensiva, especialmente offensive tackles, cheguem despreparados à liga. O fato de o spread e conceitos de high school e college no geral terem sido popularizados na liga ajuda na inserção imediata dos atletas — observou.
Em um jogo cada vez mais focado nos quarterbacks, proteger o seu astro é um desafio e tanto.
Estatística da semana
US$ 855 mil
Este é valor perdido por Le'Veon Bell a cada semana que ele fica fora do Pittsburgh Steelers. Como recebeu a franchise tag do Pittsburgh Steelers, o versátil corredor poderia ficar de fora todo o training camp e pré-temporada sem prejuízos financeiros.
Na temporada regular, no entanto, cada semana perdida é uma fatia do salário retirada. O valor total do contrato provisório é US$ 14,544 milhões. Isto, dividido pelas 17 semanas da temporada, resulta em um ganho semanal de US$ 855,53 mil. A ideia de Bell, segundo o seu agente, é preservar o corpo para ter a chance de potencializar os ganhos quando for agente livre — o que ocorrerá em 2019, salvo uma improvável terceira aplicação da franchise tag pelo Steelers.
Enquanto isso, o time não tem muito o que fazer. Não pode estender o seu contrato, porque o período limite era 15 de julho, e não pode trocá-lo antes de o jogador assinar a franchise tag.
Para Le'Veon Bell, as alternativas são: assinar a franchise tag e jogar; assinar e pedir para ser trocado — decisão que caberia apenas ao time —; ou não assinar, ficar o ano todo sem jogar e ir para o mercado aberto em março de 2019.
Jogador(es) fora do radar
Pode parecer insano escolher um punter em uma rodada intermediária do draft. Mas Seattle Seahawks e Green Bay Packers parecem estar satisfeitos com o que fizeram em 2018 — ambos selecionaram punters na quinta rodada.
Michael Dickson, escolha 149, do Seahawks, está em quarto em média de jardas por punt (51,5) e tem o punt mais longo da temporada até agora — um chute que viajou 69 jardas. J.K. Scott, escolha 172 feita pelo Packers, é o jogador da posição com nota mais alta nas avaliações do Pro Football Focus.
Outros punters draftados em 2018:
173 (5ª). Johnny Townsend (Oakland Raiders)
247 (7ª). Logan Cooke (Jacksonville Jaguars)
Fique de olho
A NFC Sul já era, antes da temporada, vista como a divisão mais forte da NFL. A ascensão do Tampa Bay Buccaneers com um alto nível de jogo de Ryan Fitzpatrick — que substitui o suspenso Jameis Winston — fez a disputa ficar ainda mais forte.
Domingo, às 14h, a NFC Sul tem um de seus grandes clássicos: Atlanta Falcons e New Orleans Saints jogam na Geórgia. Não dá para dizer que um jogo na semana 3 tem impacto definitivo na temporada, mas devido ao equilíbrio da divisão, o jogo pode ter fortes implicações até dezembro.