A NFL demorou, mas sentou durante a intertemporada para encerrar a discussão de "o que é uma recepção". Ajustou e facilitou a interpretação da regra. Tudo resolvido. Ou não.
A temporada de 2018 começou e a pergunta agora é outra: o que é uma penalidade por violência contra o quarterback? A falta, que os americanos chamam de "roughing the passer", tem irritado os fãs clássicos, os jogadores de defesa e até mesmo os próprios quarterbacks, que admitem o exagero nas proteções. A NFL não chegou a mudar nenhuma regra, mas classificou como um ponto de ênfase a proteção ao quarterback dentro do pocket, especialmente quando o defensor aplica o peso do corpo sobre o passador na queda.
Nenhum alvo das punições ficou tanto em evidência quando o linebacker Clay Matthews, do Green Bay Packers. Foram três penalidades nas três primeiras semanas da temporada — uma amplamente considerada justa, diante de Mitchell Trubisky, do Chicago Bears. Mas duas polêmicas, contra Kirk Cousins (Minnesota Vikings) e Alex Smith (Washington Redskins).
Mas as faltas contestáveis se acumulam. O quarterback colega de Matthews, Aaron Rodgers, levou uma falta também bastante discutível de Eric Kendricks no clássico da NFC Norte. No jogo mais recente da NFL até agora, Gerald McCoy também foi punido por um empurrão em Ben Roethlisberger.
Na essência, a NFL quer evitar que as suas grandes estrelas se lesionem — o que gera uma queda de interesse do público, audiência e faturamento. A questão é encontrar um equilíbrio para que tudo isso não aconteça por outros motivos.
— Quando redigiram o texto da regra, não imaginavam que seria assim. A proteção ao quarterback deve existir sim, ainda mais pela sua exposição e importância para o espetáculo, já que o jogo é feito para o público. Acredito, no entanto, em um exagero na aplicação das faltas. Já que ano passado a questão era: "Ninguém sabe mais o que é uma recepção", eles ajeitaram. Agora, sacar o quarterback de uma forma que não seja falta virou uma questão de estudo científico e, certamente, será revista em 2019 — analisou o árbitro de futebol americano brasileiro Guilherme Cohen.
Para o árbitro gaúcho Vinícius Behs, é natural que haja uma superexposição a uma regra — ou a um ponto de ênfase em cima de uma regra já existente, como é o caso — quando há uma alteração. Mas, segundo ele, a tendência é que o número de faltas se reduza com o passar do ano.
— Geralmente, quando surge uma alteração de regra ou uma nova orientação, como é o caso desse ano, no início da temporada o número de flags lançadas aumenta e chama a atenção de torcedores e analistas. Os próprios árbitros ficam com dúvidas e demoram um tempo até chegarem a um equilíbrio. Em outras temporadas já tivemos casos parecidos, como no ano do holding defensivo e da interferência de passe. Foram casos similares e que a orientação por um maior rigor acabou elevando o número de faltas marcadas no início da temporada. As reclamações e insatisfações foram parecidas, com comentários afirmando que não haveria mais jogo devido ao grande número de faltas marcadas. Com o tempo, um critério e um consenso do que é o que não é falta, ou até mesmo o que deve ser marcado e o que não deve, vai se consolidando — argumenta.
Para Aaron Rodgers, as opiniões de jogadores e fãs devem ser levadas em consideração pela liga, ainda que o quarterback do Packers não acredite que a popularidade do futebol americano está em questão.
— Quando há uma grande questão com uma mudança de regra, você tem que estar disposto a se adaptar de acordo com a reações, não apenas dos jogadores, que são as mais importantes, mas também da base de fãs. Se o produto não é algo que os torcedores estão curtindo assistir, eu assumo que haverá um ajuste — disse Rodgers, em entrevista coletiva nesta quarta-feira.
O número total de faltas por "roughing the passer" cresceu drasticamente em relação ao ano passado. Em 2017, foram 6,7 bandeiras desta origem por semana. Neste ano, a média de 11 por semana.
Isso, aos poucos, tem feito com que seja mais difícil defender na NFL. Por isso há críticas em relação ao equilíbrio dos dois lados da bola. Os ataques produziram até agora um aumento de 20% na pontuação total. Outro caso extremo foi a lesão do defensive end William Hayes, do Miami Dolphins, que rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho e está fora da temporada após girar para tentar não cair por cima de Derek Carr, do Oakland Raiders.
— Eu preferia que o cara tivesse apenas caído por cima de mim em vez de romper o ligamento — resumiu Carr.
— Quanto mais importantes os quarterbacks forem para o jogo, mais eles serão protegidos. Proteger os quarterbacks não é errado. Errado é a forma com que estão lidando com isso — observa Cohen.
Para Behs, contudo, o torcedor pode respirar: a NFL procurará respeitar o balanço entre atacantes e defensores:
— As regras do futebol americano são muito coerentes e pensadas no jogo de uma forma geral. Cada unidade do time tem exigências específicas, seja no ataque, seja na defesa e até mesmo nos times especiais. Não consigo perceber um benefício ao ataque e um prejuízo à defesa. Por exemplo, a falta de interferência de passe vale tanto para o ataque quanto para a defesa. Os dois lados têm o mesmo direito à bola em uma jogada de passe, assim como tanto o ataque quanto a defesa não podem sofrer a interferência de um adversário para conseguir alcançar a bola.
Estatística da semana
O início de temporada do New England Patriots é muito abaixo do que qualquer um poderia esperar. A única vitória foi na semana 1 contra um Houston Texans que ainda não ganhou de ninguém.
Nas rodadas seguintes, derrotas para o Jacksonville Jaguars (31 a 20) e para o Detroit Lions (26 a 10). As carências ao redor da defesa e nas opções de alvos para Tom Brady são evidentes — e, aos 41 anos, vai ficando mais difícil para o quarterback amenizar tudo isso.
Para fazer a estatística da semana, voltamos ao primeiro ano em que Brady começou como titular, em 2002 — ele assumiu a titularidade durante a temporada 2001. Lá, há 16 anos, foi a última vez em que o Patriots havia perdido dois jogos seguidos por pelo menos 10 pontos.
Em 16 e 22 de dezembro, respectivamente, levou 24 a 7 do Tennessee Titans e 30 a 17 do New York Jets nas semanas 15 e 16. Naquele ano, o time ficou com nove vitórias e sete derrotas, fora dos playoffs — no único ano entre 2001 e 2004 em que a franquia não conquistou o Super Bowl.
Jogador fora do radar
A lesão de Jimmy Garoppolo basicamente enterrou as chances do San Francisco 49ers na temporada. Resta a Kyle Shanahan tentar manter a efetividade do seu sistema ofensivo com um quarterback reserva. E o nome dele é C. J. Beathard.
O homem que foi draftado na terceira rodada de 2017 — considerado cedo demais pelas projeções dos analistas — foi titular em cinco jogos como calouro entre a descrença em Brian Hoyer e a esperança com Jimmy Garoppolo.
Beathard é considerado inteligente, um bom líder e é valorizado por conhecer o sistema. Mas o desempenho em campo não foi tão empolgante. Completou 54,9% dos passes, com uma média de 6,4 jardas por passe, quatro touchdowns e seis interceptações — passer rating de 69,2. Para efeito de comparação, o passer rating de Garoppolo na temporada 2018 ficou em 90,0.
Fique de olho
Não é comum ter grandes jogos às quintas-feiras pelo curto período de recuperação. Mas é impossível não estar ansioso para um dos melhores confrontos da temporada regular logo na abertura da semana 4. Apesar dos desfalques e do cansaço, Los Angeles Rams e Minnesota Vikings devem fazer um duelo muito interessante — e com possíveis implicações nos playoffs, já que se tratam de dois dos melhores times da Conferência Nacional. Será um ótimo duelos de técnicos entre Sean McVay, de estilo criativo, e Mike Zimmer, de postura agressiva.