
Um gaúcho com leve sotaque carioca, cabelos encaracolados e sorriso permanente no rosto escreveu seu nome para sempre no futebol da Estônia. Getúlio Fredo, 63 anos, técnico do Nõmme Kalju, deixa a humildade de lado ao avaliar sua importância para o clube e para o esporte do país europeu desde sua chegada, em 2007.
_ Fiz uma revolução no futebol da Estônia _ gaba-se Getúlio, chamado de Gueto por jogadores e torcedores do Kalju.
De cara, pergunto como o treinador parou na distante Estônia. Peço para ele fazer um resumo da carreira até a chegada ao país báltico. Getúlio dá uma gargalhada ao telefone:
— Cara, você vai gastar a caneta.
Antes de começar a trajetória internacional, Getúlio brilhou nas quadras de futsal como atleta do Eu + 4, time do Nonoai Tênis Clube, na zona sul de Porto Alegre. Depois, encarou a primeira experiência como treinador na montagem da equipe feminina do Inter, que tinha estrelas como Bel e Duda.
— Ali, no Inter, vi que tinha jeito para a coisa. Com o time feminino, fizemos história — recorda.
Getúlio fazia às vezes de técnico e de jogador. Mudou-se para o Rio e ficou boas temporadas por lá até surgir uma proposta para atuar na Tailândia. Foi o primeiro brasileiro a jogar naquele país:
— Tenho até um jardim com meu nome na Tailândia.
Tenho até um jardim com meu nome na Tailândia.
GETÚLIO FREDO
Treinador na Estônia
Da Tailândia, Getúlio pulou para a Finlândia. E lá fincou o pé. Morou no país por 25 anos. Aprimorou-se como técnico, mas nunca deixou de bater sua bolinha, pois "sempre teve fôlego de sobra". Jogava futsal, beach soccer e campo. E foi em um campeonato de areia, na Estônia, país vizinho da Finlândia, que o presidente do Kalju o convidou para ser treinador do seu clube. O namoro demorou um pouco para se concretizar.

— Ele queria alguém para tentar salvar o time, que estava a perigo de cair para a terceira divisão. Assumi, trouxe três brasileiros e um sueco e coloquei o clube na elite. Foi um grande feito, ajudei a colorir o futebol daqui — destaca o treinador.
Tudo estava bem na Estônia.
O trabalho estava sendo reconhecido e adaptou-se rapidamente aos costumes, à língua e até ao forte do inverno, com temperaturas que podem chegar a -10ºC. Mas, por uma exigência do futebol europeu, precisou tirar uma licença para obter o diploma de técnico da Uefa.
— O curso de técnico no Brasil não vale para a Europa, ao contrário do que acontece na Ásia. Estou fazendo o curso da Uefa em estoniano, não é fácil. Enquanto estudo, trabalho com o time das mulheres do Kalju e sou auxiliar-técnico da equipe principal, mas não posso ficar nem no banco enquanto não me formar — explica o treinador, que fala quatro línguas, inglês, tailandês, espanhol e estoniano.

_ E ainda arranho em russo _ ressalta o treinador.
O impedimento de treinar o time principal do Kalju _ clube que em suas mãos conquistou um título nacional e participou cinco vezes da Liga Europa _ não arrefeceu a motivação do brasileiro. Ele segue aprimorando o trabalho para ter novas chances:
_ Recebi uma oferta da Letônia, salário bom, estrutura legal, mas, por enquanto, seguirei na Estônia, que tem um futebol em grande evolução.
Seguirei na Estônia, que tem um futebol em evolução
GETÚLIO FREDO
Treinador
Getúlio quase não enxerga mais a possibilidade de voltar ao Brasil. Depois da aposentadoria, que não está nos planos, retornará à Finlândia, país onde tem residência, fez amigos, acompanhou o nascimento das três filhas e recebe tratamento de ídolo. E, um detalhe: moreno, de olhos verdes, faz grande sucesso com as mulheres:
- A pele morena faz grande sucesso por aqui _ garante, aos risos, o gaúcho que ganhou mundo com o futebol.
