O sol era tão quente que um ovo poderia virar omelete na pista de atletismo da Sogipa na tarde em que conheci o Arataca. A foca no jornalismo se deparou com um homem moreno, surpreendentemente ágil para quem deixava a primeira impressão de ser atarracado, socadinho mesmo. Rápido nas sinapses mentais, ele se apresentou como Arataca porque pouca gente sabia o nome com o qual havia sido batizado no Ceará – José Haroldo Loureiro Gomes.
Leia mais:
Na mira do Milan, Fábregas pode deixar o Chelsea ao fim da temporada
Prestes a ser anunciado pelo Inter, Cuesta revela conversa com D'Alessandro
Direção do Coritiba faz reunião para definir possível saída de Carpegiani
Radicado em Porto Alegre, converteu-se em dos mais importantes técnicos da história da modalidade no Rio Grande do Sul e também da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). Pois esta criatura sorridente e emblemática das pistas e dos campos completou, recentemente, 35 anos de formação de atletas e de cidadãos na Sogipa.
A palavra Arataca tem, ao menos, duas definições mais difundidas: armadilha para caçar animais silvestres, uma arapuca. E, na gíria militar, nordestino. É o caso do Arataca que, passadas estas três décadas, é mais gaúcho do que muitos nascidos abaixo do Rio Mampituba. Claro que ele se casou uma gaúcha – a também técnica de atletismo Martina – e tem duas filhas nascidas aqui, uma já está com 19 anos, e a outra tem 17.
O Arataca não foi uma referência somente para quem ele ensinava a correr, saltar ou lançar. Gerações de repórteres e de editores – eu incluída – se socorreram dele dia ou noite, horário comercial ou feriado. E ele nunca demonstrou cara feia. Ah, e crucial: ajudava mesmo quando não era para ele ser a fonte. Quantas vezes, nos colocava em contato direto com técnicos de outros atletas e com a própria estrela, como foi quando, anos depois de deixado a redação, precisei fazer uma matéria especial com a saltadora em distância Maurren Maggi, a primeira atleta brasileira a conquistar a medalha de ouro olímpica em modalidade individual no atletismo.
Nos meus 28 anos de profissão, já pesquisei, refleti, concordei, discordei e escrevi sobre inúmeras personalidades dentro e fora do esporte. E, hoje em particular, me sinto serena em lembrar as qualidades do Arataca, com quem tive o privilégio de conviver em quase toda a minha trajetória em veículo diário. Reconhecimento e gratidão fazem aparecer o melhor lado das pessoas. E, em nossos tempos, o que a gente mais está carente é de humanidade. Obrigada, Arataca.