A discussão sobre o Inter aderir às Sociedades Anônimas do Futebol (SAF) ganhou destaque após a entrevista do presidente do clube ao programa Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha, nesta semana. Alessandro Barcellos, questionado sobre o assunto, deixou claro o quanto ainda falta caminhar para, ao menos, debater o assunto.
Nos microfones, as frases foram:
— É importante dentro de um novo momento do futebol brasileiro, no qual olhamos a classificação e vemos entre os 10 primeiros talvez 80% das equipes constituídas de modelos com uma capacidade de investimento maior. Precisamos abrir os olhos para isso. Não acho que SAF é solução. SAF é um meio, um dos meios. E a gente tem outros meios. Inclusive, não existe só um modelo de SAF, existem vários.
É a partir daí que se pretende abrir o debate no clube. Para isso, há dois focos a serem trabalhados. Um é o econômico, lógico. Isso envolve apresentar os modelos de parceria e discuti-los. O outro é político. Em um clube tão fragmentado e dividido entre os movimentos, evitar crises internas precisa ser prioridade.
Assim, o movimento deve ser não apenas consultado, mas conduzido pelo Conselho Deliberativo. A direção executiva pretende apenas contratar empresas especializadas em análises de clubes e de mercado para apresentar o panorama atual e as melhores alternativas. E, de posse dos documentos, entregar tudo à mesa diretora do conselho para que haja um debate amplo.
Formatos de SAF
Entre os formatos de SAF o que tem mais adesão entre as pessoas consultadas pela reportagem é o do Fortaleza. O clube cearense adotou o modelo semelhante ao do Bayern de Munique. Diferentemente de Botafogo e Vasco, por exemplo, que venderam parte de suas ações a investidores internacionais, o Fortaleza criou uma empresa à parte do clube associativo.
Todos os valores arrecadados com o futebol vão para a SAF. O restante (imóveis, ativos de outras modalidades, por exemplo) permanece em nome do clube. Por ora, a SAF do Fortaleza pertence integralmente ao Fortaleza Esporte Clube. Na prática, o que mudou foi que, sendo uma empresa, há uma redução drástica da burocracia para assinar contratos, criar parcerias e tomar decisões que, em clubes associativos, demandam passar por comissões, conselheiros e demais degraus até as assinaturas. E, se houver proposta vantajosa para vender algum percentual de ações da SAF em si, será necessária a aprovação dos sócios. No Bayern, 25% do clube pertencem a Allianz, Adidas e Audi. A gestão permanece com os dirigentes.
Os demais modelos também serão analisados. Em crise financeira pior do que o Inter, por exemplo, o Botafogo vendeu 90% de suas ações a John Textor, que administra o futebol. O percentual é o mesmo negociado pelo Bahia com o Grupo City. O Vasco negociou com a empresa 777 o total de 69% das ações.
Debêntures
Com uma dívida total próxima a R$ 700 milhões e o déficit do primeiro semestre de 2024 batendo em R$ 144 milhões, a direção não esconde o desejo de criar esse debate no Inter. Por enquanto, o que o estatuto permite é o projeto de debêntures. Na prática, o clube emite títulos no mercado, que pode ser comprado por investidores. Com o dinheiro (estimado em R$ 200 milhões) em mãos, paga as dívidas mais urgentes e com juros mais altos e passa a dever para esses investidores mas com juros menores e prazos maiores.
O assunto ainda não foi apreciado pelo conselho deliberativo. Isso é semelhante ao que fez o River Plate, que entrou na bolsa de valores de Buenos Aires para arrecadar dinheiro e concluir obras no Estádio Monumental e em outras estruturas. Quem comprar não vira proprietário de alguma parte do clube, isso é proibido na Argentina. O proprietário dessas "ações" fica com crédito, que será pago com juros melhores do que o mercado em até 30 meses.
Para Alessandro Barcellos, é fundamental que novos modelos de gestão sejam discutidos. Dentro do Inter, mesmo quem defende o modelo associativo entende que é preciso rever ao menos a forma de gestão. O clube, basicamente, funciona igual há mais de 20 anos. E por conta da burocracia excessiva, perde oportunidades de mercado. E perder oportunidades significa deixar dinheiro pelo caminho.