Se pensar bem, dá quase um filme a vida de Alexandre Zurawski nesses últimos anos. Até os 23 anos, vivia a realidade de 95% dos jogadores de futebol do Brasil. Rodava o Interior de contrato pequeno em contrato pequeno, ganhando pouco mais do que o mínimo, jogando em gramados embarrados, clubes sem tanta estrutura e com futuro indefinido.
Agora, aos 26, está em um país top da Europa, depois de ter disputado a Série A nacional e ter seu nome cantado nas arquibancadas de um time grande. Além de tudo, o centroavante Alemão, agora, também é pai. O atacante do Real Oviedo conversou, direto da Espanha, com a reportagem de GZH.
Logo depois de um treino, atendeu o telefone para uma conversa de pouco mais de meia hora. A vida em Oviedo permite mais tempo com a família, o calendário da Série B espanhola é menos intenso do que o brasileiro.
— Estou muito feliz aqui. Foram dois anos de um salto muito grande. Estou realizando meus sonhos. Ter jogado uma Série A brasileira em time grande, agora aqui na Espanha — diz.
O Real Oviedo joga sábado ou domingo, normalmente. São raras as rodadas em meio de semana. Assim, os treinos são mais intensos, é possível corrigir mais, recuperar a parte física. E, claro, aproveitar a família. A cidade de 220 mil habitantes é a capital da região das Asturias, cheia de áreas verdes e com muita vocação para agropecuária. O que torna tudo familiar a Alemão.
A língua não tem sido um problema. Pelo contrário: durante a entrevista, várias vezes Alemão usou palavras em espanhol. Fruto da imersão total na nova realidade. E de estudo. As aulas do novo idioma ajudam na adaptação.
Em campo, foi preciso mais. A nova realidade trouxe um futebol mais físico, intenso, com arbitragens permissivas. Alemão teve de mudar um pouco sua rotina para chegar aos cinco gols com a camisa de seu clube.
— São jogos muito truncados, tem muito duelo. O árbitro não marcar qualquer falta, então tem de ser mais resiliente, às vezes é uma falta clara, mas não vão marcar, deixam o jogo correr. Por ser um campeonato europeu, a intensidade é maior, precisa correr mais. Então me adaptei a também atacar espaço em vez de sempre ficar disputando com o zagueiro. E tem muita qualidade aqui também, os campos são muito bons. Se tivesse de apontar uma diferença principal para o Brasil seria que a maioria das equipes espanholas tenta propor jogo. No Inter, muitas vezes enfrentávamos adversários que só queriam recuar — aponta.
Aliás, a vida colorada ainda faz parte da rotina. Além dos amigos que mantém no clube, virou torcedor. Sempre que possível, assiste às partidas.
— O fuso é de cinco horas agora, mas tento ver. Na pior das hipóteses, acordo e vejo os melhores momentos. Tive muitos momentos bons no Inter, criei grandes amizades — conta.
Alguns deles, porém, já saíram. Dos amigos citados, De Pena assinou com o Bahia e Pedro Henrique, o "parceiro das bergamotas", foi para o Corinthians. Restaram Anthoni, Renê e Gabriel, que está fora dos planos. Alemão, mesmo com a eliminação colorada no Gauchão, continua acreditando em uma boa temporada:
— Foi uma pena mesmo ter perdido o Gauchão, por todas as contratações que vieram, era o campeonato que era mais viável no momento. Mas pela qualidade do elenco que o Inter tem, acho que quando chegar nas horas decisivas, essa força vai pesar. Tem grandes chances de conquistar títulos esse ano.
Mas a maior mudança veio em parceria com Maitê. Da relação dos dois veio o pequeno Arthur. Que desde o nascimento já teve emoções. A companheira de Alemão chegou faltando três meses para o final da gestação.
— Meu filho nasceu em Oviedo. Quem tem um filho sabe falar o que é o sentimento. Meus amigos que já eram pais diziam: "Você vai se dar conta quando ele nascer". E é bem isso aí mesmo. Quando ele nasceu, vi o que é. E cada dia que passa o sentimento vai crescendo. É inexplicável — emociona-se.
O futuro da família, no momento, é a Europa. Ao menos nos planos de Alemão. Contratado pelo grupo Pachuca, que detém, no México, o clube homônimo e também o León e o Coyotes, o Oviedo da Espanha, o Atlético Atenas do Uruguai e o Everton do Chile, seu contrato na Espanha vai até o final da temporada, com possibilidade de renovação. O desejo é ficar por lá. De preferência classificando seu time para a primeira divisão.
A segundona espanhola classifica os dois primeiros direto. O terceiro, o quarto, o quinto e o sexto disputam um playoff. O vencedor também vai para La Liga. A sete rodadas do fim, o Oviedo ocupa a sexta posição, com 55 pontos, mesma pontuação do quinto (Sporting Gijón), três a menos do que Eibar, Espanyol e Valladolid. Abaixo, porém, Elche e Racing têm 54. Os últimos jogos serão decisivos.
Para o Oviedo e para Alemão. Os dois sonham na mesma direção.