Alessandro Barcellos teve uma prova da força de seu nome há pouco mais de duas semanas. Em uma eleição contra um candidato que recebeu apoios públicos de ex-dirigentes conceituados, como Fernando Carvalho e Giovanni Luigi, além de ídolos da torcida como D'Alessandro e Abel Braga, obter a maioria dos votos dos sócios foi uma façanha.
Ainda mais que o atual (e reeleito) presidente não comandou nenhuma conquista em seus três primeiros anos de mandato. Em sua visão, a maior parte dos colorados entendeu seu trabalho. Era preciso reconstruir o clube, adequar as finanças, buscar novos recursos e, com mais equilíbrio, dar passos maiores. Em seus três anos, o time foi vice-campeão brasileiro e caiu na semifinal da Libertadores.
Para sair do "quase", Barcellos apostou na renovação de Eduardo Coudet para técnico e de Magrão para diretor esportivo. Foi com essa dupla que o Inter teve seus melhores momentos no ano. Eles estão atuantes em negociações, conversando com jogadores, tirando a temperatura do interesse e das possibilidades de ter novas peças no Beira-Rio.
O próximo ano, sem Libertadores, vai ser de foco total no Brasileirão. O campeonato nacional, que o Inter não conquista há 44 anos, será prioridade. O clube fará ações de comunicação, marketing e operações para transformar o estádio e todos entenderem que serão 19 finais em casa mais 19 finais fora. O espírito é quase de mata-mata.
Barcellos, aliás, está quase monotemático. A obsessão colorada na temporada é de ser campeão. O time não dá uma volta olímpica nem sequer de Gauchão desde 2016. Por isso, a pergunta e a resposta nas redes sociais de Esportes GZH ilustram bem a luta da temporada. Questionado sobre o que pediria ao Papai Noel colorado, ele rebateu:
— Título, título e título.
Confira, a seguir, outros trechos da entrevista exclusiva do presidente à GZH.
Melhor lembrança de 2023
Acho que o segundo semestre, nos jogos que envolveram o mata-mata da Libertadores em que crescemos com a chegada do Coudet, da forma como a equipe se comportou dentro de campo. Foi um momento importante que que nos dá expectativa de em 2024, com esta equipe, muito melhor do que foi 2023.
Demora na troca de técnico
Não podia trocar, porque Coudet estava trabalhando. Vínhamos de um 2022 com segundo lugar do Campeonato Brasileiro e nos dava a perspectiva de repetir em 2023. Mas infelizmente não foi isso que aconteceu. Talvez se tivéssemos condições financeiras para ter antecipado a chegada de alguns jogadores no início do ano, com certeza teríamos uma condição melhor de desempenho. Mas isso também não era possível. Fizemos um trabalho promissor, e estamos procurando fazer melhor para 2024.
Negociação com Coudet
Nossa conversa com Coudet sempre foi muito direta, muito objetiva e com muita sinceridade. Tínhamos um acordo de tratar disso de forma mais forte depois das eleições e o Coudet pediu esse tempo para tomar sua decisão. Foi algo muito pessoal, não teve proposta de algum outro clube. A questão era: ou ele trabalhava no Inter ou não trabalhava. Isso foi importante para ele tomar essa decisão, e temos certeza de que vamos fazer um grande ano com ele aqui. O acerto demorou duas horas, no máximo.
Coudet participa das negociações
Conheço Coudet há bastante tempo e sei como ele gosta de trabalhar e como nós gostamos de trabalhar também. Podemos abrir todas as possibilidades e todos os limites. Coudet participa desse momento, analisa as possibilidades de mercado, ele está muito integrado em relação a isso, a ponto de não termos dificuldade de entendimento. Coudet está participando de todas essas etapas, então vai facilitar. Ele apresenta sugestões de atletas, mas nem tem muitos, hoje analisa muito mais o que levamos do que ele mesmo dizer para olharmos alguém.
Processos de contratação
Temos uma estrutura que já vem trabalhando há muito tempo, levantando as nossas carências e isso é em conjunto com o dia a dia e em conjunto com o olhar do atual elenco, com opinião do treinador. São 60, 70 jogos em uma temporada. A partir daí se vê a necessidade e vai atrás de nomes que possam suprir essas necessidades com características do modelo de jogo. Então avaliamos dos pontos de vista financeiro, contratual, faz um filtro e se sobram ali os nomes podem ser titulares, dentro de uma faixa de mercado. Então, tentamos fechar. Tudo isso tem a participação do Coudet. Inclusive, ele conversa com os jogadores, até para passar a ele o que que ele espera e também para ouvir do jogador se quer vir para cá. Isso é muito importante para nós. Já saímos de negociação porque o jogador não nos deu certeza de que queria vir. Se não quer jogar no Inter, não vamos insistir.
Prioridade nos reforços
Todas as posições serão abastecidas de jogadores, defesa, meio e ataque. O número vai depender das condições que a gente conseguir trabalhar. Não queremos fixar porque isso pode mudar. Mas posso garantir que estamos trabalhando em todos os setores do campo. E queremos jogadores que cheguem para ser titulares. Que não mude o time em caso de entrada de A ou B.
Saídas de jogadores
Em um clube que está trabalhando sempre na eficiência financeira para ter equilíbrio, vender faz parte. Esse ano esse ano, muito provavelmente, não vamos cumprir toda a meta estabelecida na negociação de atletas (R$ 135 milhões), mas tivemos outras receitas que buscaram o equilíbrio. Temos condições de pensar também no resultado desportivo. Jovens jogadores do Inter valem no mínimo 8 milhões de euros. Estamos vendo um mercado agressivo, com jogadores que estão dobrando o seu valor.
Prioridade nas competições
O Gauchão é uma prioridade, precisamos retomar esse título. O Brasileirão vai receber um olhar diferente e prioritário. A ideia é envolver o clube como todo, e a torcida. Queremos criar esse ambiente. Estamos montando uma equipe para enfrentar esse calendário. É óbvio que o Inter entra na Copa do Brasil e na Sul-Americana para ganhar, mas já vimos que tirar os titulares do Brasileirão pensando em recuperar mais na frente ou no segundo turno pode custar pontos importantes. Não vamos deixar. Queremos que campeonato seja disputado em 38 finais. Vamos envolver o marketing, as operações de dia de jogo e a torcida. Fará 45 anos que o clube não conquista, tivemos chances recentemente, dois vices. Sabemos que é o campeonato mais difícil do mundo, são sempre oito, nove candidatos. Mas percebemos uma sintonia da torcida nas últimas rodadas, mesmo com o campeonato já desmobilizado. É isso o que queremos fazer.
Novos projetos financeiros
Falei com Elusmar (Maggi, empresário do setor agrícola) já desde a campanha. Vamos retomar. Mas é uma questão estruturada. Claro, dá vontade de ligar: "Ó, tô aqui precisando", mas não vai ser assim. Vale o mesmo para o Delcir Sonda (empresário do ramo de supermercados), que é até conselheiro, está ainda mais próximo do clube. Recebi manifestações muito importantes depois da eleição de colorados que estavam afastados do clube e que têm capacidade de investimento, que já ajudaram o Inter em outros momentos. Saiu uma reportagem na Zero Hora sobre as receitas do clube e um importante empresário do Rio Grande do Sul me ligou dizendo que estava muito feliz com aqueles números. Isso é uma mudança significativa que nos alegra demais, e tenho certeza que vamos aproximar gente muito boa.