Há 44 anos, a véspera de Natal em Porto Alegre trazia mais expectativa do que presentes do Papai Noel. Os milhões de colorados tinham o mesmo pedido, superar o Vasco naquele 23 de dezembro de 1979. O resultado faria do Inter Tri do Brasileirão. O Bom Velhinho foi ainda mais generoso, e os gols de Jair e Falcão deram ao time de Ênio Andrade o 2 a 1 que confirmou o título invicto.
Após quase meio século do último troféu, GZH consultou alguns dos campeões em busca de respostas para a pergunta: o que fazer para voltar a levantar o troféu nacional?
Antes de apresentar as respostas, porém, é preciso lembrar e valorizar aquela façanha. Foi o auge do Brasileirão da Ditadura, o da frase "Onde a Arena (partido do governo) vai mal, um time no Nacional". Assim, 94 participantes de todas as regiões do país disputaram 583 jogos até que fosse apontado o campeão, organizado pela recém fundada CBF, que tinha deixado de ser CBD naquele ano.
O Inter passou pela primeira fase em primeiro lugar em um grupo com Grêmio, América-RJ, Athletico-PR, Coritiba e outros. Dos 10 integrantes, oito avançavam. Na segunda etapa, ficou na liderança de uma chave com oito times. Passou ao lado do Furacão.
Nessa terceira fase, quartas de final, seria mais um grupo, agora com quatro times. Os de melhor campanha jogariam duas partidas em casa, os de pior, uma só. Na chave colorada, os mineiros Cruzeiro e Atlético-MG e o Goiás. Na primeira rodada, vitória sobre os goianos. Então houve um problema. Inconformado com a tabela, que apontava apenas seu jogo como mandante justamente contra o Cruzeiro, o Galo desistiu do campeonato. O Inter venceu as duas partidas e foi para a semifinal.
Essa desistência permitiu ao Inter uma façanha, encarar os três maiores estádios do país, os "três M": os últimos jogos de visitante foram em Mineirão (3 a 2 sobre o Cruzeiro), Morumbi (3 a 2 sobre o Palmeiras, o famoso jogo do "Mococa ou Falcão?") e Maracanã (2 a 0 sobre o Vasco, no jogo do ida da decisão, mesmo desfalcado de Falcão e Valdomiro — e seus substitutos, Valdir Lima e Chico Spina, foram decisivos. Na volta, 2 a 1 e a conquista invicta. Há exatos 44 anos.
— Tínhamos um timaço. Um timaço mesmo. O Inter voltará a ser campeão brasileiro, mas não acredito que outro time consiga um dia repetir o nosso feito de 1979 — disse Valdomiro, em entrevista a GZH.
Mas o que fazer para não chegar aos 45 anos?
Qual é a receita para que 2024 traga o tão sonhado Tetra?
Goleiro daquela campanha vitoriosa, o paraguaio José Roque De La Cruz Benítez aponta:
— O futebol é detalhe. Um conjunto de detalhes que leva às vitórias. O comando é o mais importante. E precisa ter disciplina. A partir disso, tem de acreditar no trabalho, nos companheiros. O Brasileirão é o campeonato mais difícil do mundo, sempre tem sete, oito clubes que podem brigar. O time do Inter é bom, e se conseguir ter disciplina e fé no trabalho, pode ser campeão.
Um dos craques do Brasileirão 1979, goleador colorado, Jair, o Príncipe Jajá, completa:
— São épocas diferentes, mas a essência permanece. Vejo semelhanças nos grupos, com peças de qualidade em todas as posições. Tínhamos uma grande preparação física, bem importante atualmente. E a qualidade do trabalho da comissão técnica, com Ênio Andrade e Gilberto Tim, foi fundamental. Aí estão alguns pontos importantes.
Segundo o presidente Alessandro Barcellos, não faltará foco no Brasileirão. Em entrevista a ZH, ele garantiu atenção total na competição, mesmo que o time dispute Copa do Brasil e Sul-Americana, ao contrário do que houve em 2023, quando o campeonato nacional ficou em segundo plano quando bateu nas fases finais da Libertadores.
— Traçamos um planejamento para 2024. Gauchão é prioridade e precisamos retomar. Mas teremos um olhar prioritário para o Brasileirão. E a ideia é envolver o clube como um todo, e a torcida. Estamos montando uma equipe para enfrentar o calendário. Evidentemente, o Inter vai entrar na Copa do Brasil e na Sul-Americana para ganhar. Mas muitas vezes pensamos que o Brasileirão tem tempo de recuperação, que se resolve, ou que começa no segundo turno, e daí perde pontos no primeiro. E não vamos deixar. Queremos que sejam 38 finais. Vamos fazer uma campanha pela importância do Brasileirão — disse Barcellos.
A união com a torcida e a capacidade de compreensão serão fundamentais para a campanha em 2024. O Brasileirão será o balizador da temporada. Tudo em nome de um dezembro como aquele de 1979.
A campanha de 1979
- 0x0 Athletico-PR
- 2x1 Santa Cruz-PE
- 1x0 Figueirense
- 1x0 Grêmio
- 3x0 Sport
- 3x0 Coritiba
- 1x1 América-RJ
- 5x1 Rio Branco-ES
- 2x2 Operário-MT
- 1x0 Goytacaz-RJ
- 3x1 São Paulo-RG
- 1x1 Caldense-MG
- 0x0 Anapolina-GO
- 0x0 Athletico-PR
- 4x0 Desportiva-ES
- 1x0 Inter de Limeira-SP
- 1x0 Goiás
- 3x2 Cruzeiro
- 3x2 Palmeiras
- 1x1 Palmeiras
- 2x0 Vasco
- 2x1 Vasco