Quando Alan Patrick pega a bola, Inter e adversário já sabem que a sequência não será um passe para trás. De seus pés, a bola costuma ir para a frente, de preferência entre volantes e zagueiros, no tempo que encontra a velocidade certa do atacante, ficando cara a cara com o goleiro. Ou então, como tem sido a versão 2023, inicia uma sequência de dribles para dar trabalho aos quiropraxistas e fisioterapeutas dos defensores e conclui para o gol. É assim que o herdeiro da camisa 10 de D'Alessandro tem conduzido o time e busca abrir vantagem na semifinal do Gauchão, a partir das 16h30min deste sábado, no Centenário, contra o Caxias.
Se ainda não saiu nenhum gol de seus passes, não foi por falta de criação. Segundo o Footstats, Alan Patrick deu 30 assistências para finalização. É, disparado, o líder do ranking no Gauchão (De Pena, o segundo, tem 20). Está faltando, portanto, que seus companheiros transformem em mudança no placar.
Em compensação, ele mesmo é autor de três gols. Nas duas últimas partidas, aliás, deixou sua marca. O do Gre-Nal, inclusive, concorre a mais bonito do Gauchão. Pudera: driblou Carballo, Thiago Santos e Kannemann antes de tirar do alcance de Adriel. O time não segurou o resultado e ele não se furtou de dar explicações para a derrota no clássico.
É que além da camisa 10, Alan Patrick também herdou a faixa de capitão. Aos 31 anos, tem ascendência sobre o grupo e é um dos jogadores mais respeitados. Mauricio, dias atrás, falou ao canal oficial do clube sobre a parceria no meio-campo:
— Alan é muito qualificado. Procuramos estar perto para fazer as jogadas. Acho que tem dado muito certo. Temos feito boas partidas desde o ano passado, um procura o outro. Sabemos que cria dificuldade ao adversário.
A qualidade de Alan Patrick nunca foi segredo. Um dos tantos Meninos da Vila, a fábrica de craques do Santos, ele foi alçado ao profissional em 2009, quando recém estava fazendo 18 anos. Entre 2010 e 2011, fixou-se na equipe principal que tinha como meia Paulo Henrique Ganso. Foi convocado para a seleção brasileira sub-20 e foi campeão sul-americano e mundial da categoria, na geração que tinha Oscar, Dudu, Casemiro e Neymar (que não disputou a Copa do Mundo). Outro do time era o zagueiro Romário Leiria, então do Inter. Ele recorda a convivência com Alan Patrick:
— Um craque, né? Mas além disso, era uma liderança. Ele já jogava com os grandes jogadores do Santos, era do profissional, por isso era experiente. E como o grupo todo era bom e parceiro, conseguimos ganhar tudo. Estou feliz demais por ele ter voltado ao Inter e estar fazendo história, agora até com a faixa de capitão.
Neste retorno, Alan Patrick tem jogado ainda melhor do que em sua primeira passagem, entre 2013 e 2014. Mais maduro, consolidou-se na equipe e na função. Está com ele a responsabilidade de voltar a ser campeão estadual. Ele, Rodrigo Moledo e Luiz Adriano são os únicos do atual grupo colorado a ter levantado o troféu do Gauchão com a camisa colorada.
Na chegada a Caxias do Sul, foi um dos jogadores mais assediados pelos torcedores que foram ao hotel que serve de concentração. Como não eram muitos, pôde atender a todos pacientemente, entre fotos e autógrafos. Inclusive, quando olhar para a arquibancada neste sábado, verá os irmãos Fernando e Angelina Menegon, de oito e 12 anos, respectivamente com o cartaz pedindo a camiseta.
— Quero que ele faça um dos gols, e que a gente vença por 2 a 0 — disse Fernando, cujo nome é em homenagem a outro dos grandes capitães colorados, Fernandão, que faria 45 anos neste sábado.
O problema é que Alan Patrick não vai prestar muita atenção na arquibancada. Seu negócio é olhar para a frente, em busca de algum companheiro em velocidade ou de algum zagueiro perdido, pronto para ser driblado.