Só tem um jogador, no grupo atual do Inter, que não é aplaudido depois de ter o nome anunciado no sistema de som enquanto a foto aparece no telão. Quando a locução do Beira-Rio anuncia: "Número 23, Gabrieeeel", as arquibancadas fazem um som mais ou menos assim: "Ruf! Ruf! Ruf!". Um desavisado poderia até achar que são vaias.
Na verdade, é o oposto. O volante, que às 16h deste domingo reencontra o Palmeiras, clube que defendeu quando foi campeão brasileiro pela primeira vez, é o único de fato homenageado pelos colorados.
Esse "Ruf! Ruf!" é uma imitação de um latido de pitbull. Um apelido que Gabriel quase adotou como sobrenome. Trata-se de uma óbvia alusão ao estilo em campo. Mordedor, "brigão", invocado e maior ladrão de bola do Brasileirão.
Foram 51 desarmes nos 16 jogos em que participou na competição, segundo levantamento do FootStats. Ele já interrompeu outros 39 ataques dos adversários entre interceptações e rebatidas, além de 16 faltas. A curiosidade é que um jogador tão combativo só levou um cartão amarelo até agora.
Números, porém, não bastam para explicar a identificação de Gabriel com o Inter em pouco mais de cinco meses. Anunciado em 10 de fevereiro vindo do Corinthians, o volante mostrou sua personalidade no dia seguinte à pior derrota da temporada.
Em 4 de março, ao chegar do Rio Grande do Norte, ele sentou-se à mesa com Cuesta e Mauricio para dar explicações pela eliminação da Copa do Brasil para o Globo. Mal tinha chegado e já estava se expondo no pior momento de 2022.
Oscilou entre titularidade e reserva quando havia ainda Rodrigo Dourado. No banco, seguiu trabalhando sem reclamar. E, com a saída do colega de função, fixou-se entre os titulares. Esse comportamento foi reconhecido por Mano Menezes. Diante do Flamengo, o treinador escolheu o camisa 23 para ser o capitão. E explicou:
— Passei a braçadeira para o Gabriel porque é um profissional exemplar. Já saiu do time, já voltou e não falou uma palavra.
Com a experiência dos 30 anos de idade e passagens por dois times campeões brasileiros (o Palmeiras de 2016 e o Corinthians de 2017), chegou para reforçar uma mentalidade vencedora no vestiário. Nos vídeos de bastidores, é comum vê-lo incentivar os companheiros, gritar palavras de motivação e até conversar com alguns individualmente.
Em campo, dedica-se bastante em um meio que nem sempre encontra um companheiro para ajudá-lo a marcar com a mesma força. Agora, até arrisca-se na frente: dia desses, contra o Athletico-PR, esteve perto de marcar seu primeiro gol, mas o chute carimbou a trave.
— Avisei isso em fevereiro, quando falamos sobre a chegada dele, lembra? Ele é aguerrido, chegador, mas não é violento a ponto de ser expulso. Apostamos um chopp que ia agradar os colorados, vão ter que pagar — recorda o jornalista Marcelo Alexandre Becker, do portal "Meu Timão", um dos que mais elogiaram a iniciativa do Inter em contratar Gabriel.
A dinâmica e a liderança de Gabriel são algumas das armas de Mano Menezes para manter o Inter na ponta de cima do Brasileirão e, principalmente, disputar o título da Sul-Americana.
Profissional do futebol há 12 anos, o jogador tem no currículo títulos estaduais com o Botafogo (Carioca de 2013), com o Corinthians (Paulista em 2017, 2018 e 2019), Copa do Brasil (Palmeiras em 2015) e os já citados Brasileirões. Falta título internacional. E também falta um título seu no Internacional. Identificação, garra e "mordidas" não serão problema.