Existe uma máxima que diz: "não é fácil chegar ao topo, mas ficar nele é ainda mais difícil". A frase, por mais batida que seja, serve para o momento do Inter. Depois de ser eliminado do Gauchão perdendo o terceiro Gre-Nal na temporada, poucos imaginariam a equipe de Eduardo Coudet na liderança do Campeonato Brasileiro. Mas, depois de vencer o Atlético-MG de Jorge Sampaoli, na quarta rodada, o time colorado cravou a estaca no ponto mais alto na tabela.
Com cinco vitórias nas seis primeiras rodadas, o Inter chegou até mesmo a criar uma "gordura" na liderança. Ou seja, abriu uma vantagem que lhe permitia perder pontos e manter-se no topo. Aí vieram os jogos contra Palmeiras, em São Paulo, e Bahia, em Porto Alegre, e essa folga esvaiu-se com dois empates sofridos nos acréscimos dessas partidas. Foram quatro pontos que o time deixou de ganhar em questão de minutos.
— Me dói porque não sofremos nada defensivamente. Dois erros nos custaram dois pontos — comentou Coudet no domingo (6), após o empate com o Bahia no Beira-Rio.
No meio da semana, depois do jogo contra o Palmeiras, o técnico já havia mostrado seu descontentamento com o resultado no Allianz Parque. Especialmente porque o Inter abriu o placar aos 46 minutos do segundo e cedeu o empate logo depois, aos 48.
A missão, daqui para a frente, será não desperdiçar mais pontos. Para isso, é preciso ficar alerta aos erros dos últimos jogos para que não se repitam. Então, o que será que o Inter leva de ensinamento destes empates para seguir líder do Brasileirão e, quem sabe, acabar com uma seca de 41 sem conquistar o campeonato nacional?
Cuidados na saída de bola
Uma das características dos times de Eduardo Coudet é a saída de bola pelo chão, com os zagueiros e um volante aproximando para a tão discutida "saída de três". A ordem básica é: não se livrar da bola, mas iniciar a construção do ataque desde os defensores. Esse foi o principal motivo, inclusive, para que Moledo perdesse a condição de titular.
No jogo contra o Bahia, porém, o garoto Zé Gabriel errou um passe que custou um gol adversário. A bola foi interceptada e sobrou para Rodriguinho marcar. Por isso, é preciso tomar cuidado para que este erro na transição ofensiva não se repita caso a equipe queira se manter na liderança.
— O que aconteceu com o Zé Gabriel poderia ter sido com qualquer um. Quando o treinador determina que se saia jogando pelo chão, o adversário tem essa possibilidade de pressionar a saída. O que é necessário, nestes casos, é o jogador saber quando dá para sair jogando e quando não dá. Nem sempre sair tocando vai ser a melhor alternativa, e o atleta precisa ter esse discernimento durante o jogo — ressalta o ex-lateral-direito Luiz Carlos Winck, hoje treinador de futebol.
Outro ponto importante é não queimar o jogador, especialmente um jovem que ainda tem pouca rodagem. No entendimento de Pinga, ex-zagueiro do Inter, é preciso que o grupo apoie Zé Gabriel para que o erro não se repita:
— Ele tem muito talento, mas é preciso ter personalidade também. Não dá para se abater. Neste momentos, é importante que jogadores mais experientes, como o Cuesta, que é seu companheiro de zaga, passem essa tranquilidade para o garoto.
Malandragem para não entregar
Nos dois últimos jogos, contra Palmeiras e Bahia, o Inter estava vencendo até os acréscimos e viu quatro pontos escaparem nos minutos finais. Na partida em São Paulo, Gustavo Gómez aproveitou uma bobeira de Moisés, que não afastou a bola, e cruzou na medida para Luiz Adriano marcar. No fim de semana, no Beira-Rio, Rodinei cometeu um pênalti desnecessário, que prejudicou a equipe. Mas, antes disso, o time já havia sofrido dois gols após os 45 minutos da etapa final: contra São José e Grêmio, pelo Gauchão.
Nas entrevistas após o empate com o Bahia, domingo, o atacante Thiago Galhardo e o técnico Eduardo Coudet frisaram a importância de a equipe ser malandra para conseguir segurar o resultado positivo. Para o ex-atacante colorado Fabiano, faltou experiência ao time para garantir a vitória nos dois jogos.
— Essa malandragem é algo natural, que o jogador aprende com o tempo. Não é maldade nenhuma, todos fazem. Quando se tem a vantagem por um gol nos minutos finais é preciso segurar a bola na frente, fazer uma falta para parar o jogo. Faltou essa bagagem ao Inter — destaca o ex-jogador.
Ainda que seja uma equipe que padece pouco defensivamente, dos 16 gols sofridos pelo Inter em 2020, 12 aconteceram no segundo tempo. Na avaliação de Luiz Carlos Winck, o time precisa manter o foco até o fim das partidas para não perder mais pontos na briga pelo título brasileiro.
— O campeonato é muito equilibrado. É difícil se manter na ponta de cima, por isso é preciso muita concentração a cada jogo. Não pode deixar os atletas relaxarem, e isso se faz no dia a dia, com muito trabalho. O Inter está no caminho certo, tem um time comprometido em campo, agora só precisa minimizar os erros para não deixar escapar outras vitórias — salienta o ex-lateral colorado.
Aproveitar as chances criadas
Para ser campeão, efetividade é uma palavra-chave. Até agora, o Inter tem o melhor ataque do Campeonato Brasileiro, com 13 gols marcados em oito jogos. Além disso, é um time que cria muita chances: foram 18 oportunidades claras para marcar, a segunda equipe que mais cria na competição, atrás apenas do Flamengo.
Mas, na "Hora H", é preciso matar o jogo, como se diz no jargão futebolístico. Contra o Bahia, o Inter teve chances para ampliar o marcador, quando vencia por 2 a 1, e desperdiçou as oportunidades. Uma com Peglow, aos 35 minutos do segundo tempo, e outra com Marcos Guilherme, após belo passe de Abel Hernández, já aos 45.
— Dentro do Beira-Rio, o Inter não pode pensar em empatar. Não foi um ponto ganho, foram dois perdidos. Então, quando surgem essas oportunidades de fazer o gol, tem que botar pra dentro. O time saiu perdendo e conseguiu virar, que é muito difícil. Não poderia ter dado essa bobeira — lamenta Pinga.
Nessas horas, por melhor que seja a fase artilheira de Thiago Galhardo, o Inter ainda sente falta de um parceiro à altura no ataque, como era Guerrero antes da lesão. Com a expectativa de poder contar com o uruguaio Abel Hernández para os próximos jogos e, logo ali na frente, com o argentino Leandro Fernández, a equipe tem tudo para crescer.
— Segurar a liderança não é fácil. Tem São Paulo, Flamengo, Atlético-MG, Palmeiras na cola. É muita pressão. Mas se o Inter quiser mesmo ser campeão brasileiro precisa matar o jogo. Com todo respeito ao Ceará (próximo adversário do Inter), mas o Inter precisa vencer na quinta-feira, senão, corre o risco de perder a liderança — conclui o ex-atacante Fabiano.