Fábio é uma bandeira do Cruzeiro. Contra o Inter, o goleiro de 38 anos vai completar, de acordo com as estatísticas oficiais, 850 jogos em 15 temporadas com a camisa do clube mineiro. São cinco títulos nacionais, dois Brasileiros e três Copas do Brasil, e sete estaduais. Duas vezes eleito para a Bola de Prata e para a seleção do Brasileirão, números de uma máquina de vencer e de defender.
E pensar que, entre as tantas estatísticas positivas de Fábio, há uma desgraçadamente curiosa. Seu chefe é seu maior algoz. Rogério Ceni, outro a marcar uma era defendendo a meta, marcou seis de seus 131 gols na carreira justamente em cima do goleiro cruzeirense.
O ambiente entre os dois, porém, é ótimo. Frequentemente, podem ser vistos brincando um com outro, contemporâneos que praticamente são. Após o jogo contra o Vasco, no domingo (1º) o treinador divertiu-se ao comentar a atuação do comandado.
— No pênalti, eu não fiquei com medo, fiquei com medo quando ele pisou na bola. Na hora que ele puxou, deu o corte no centroavante, aquela me deu um pouquinho de medo, mas o pênalti já é uma coisa costumeira que o Fábio faça defesas — riu o técnico, ao lembrar de um lance já nos minutos finais, quando seu goleiro percebeu que um vascaíno entraria babando e resolveu aplicar-lhe um drible.
Rogério Ceni tem razão. Quando há pênalti contra o Cruzeiro, o ideal é a torcida adversária esperar um pouco antes de comemorar. Fábio já defendeu 28 cobranças nesse tempo de Cruzeiro.
E pensar que o goleiro quase teve sua história abreviada em Belo Horizonte. Na decisão do Campeonato Mineiro de 2007, Fábio virou vilão de uma goleada sofrida para o Atlético-MG. Até com certo grau de injustiça. Depois de levar o terceiro gol, ele ficou reclamando e saiu de sua área. Quando retornava para a meta, ainda de costas, não notou que o atacante Vanderlei avançava com a bola e marcou o quarto. O árbitro errou ao validar o lance, já que o atleta cruzeirense havia dado dois toques na bola.
Por ser o grande ídolo cruzeirense, foi o mais debochado pelos atleticanos. Só que até isso mostra seu peso. Dia desses, ao ser lembrado nas redes sociais do aniversário da data, respondeu: "Obrigado a todos! Como já disse em várias entrevistas, foi o único gol que tomei e que me trouxe a verdadeira alegria, Jesus!! Mudou meu mundo, minha vida pessoal e profissional, obrigado, Jesus! Então a essa meia dúzia que me deu os parabéns, vocês foram fundamentais para eu me tornar esse goleiro melhor!". Religioso, repete os nomes santos a cada microfone aberto.
Sua conexão com o Cruzeiro já vai para a segunda geração. Seu filho, Pablo, joga na categoria de base do clube e, adivinhe, também é goleiro. E, adivinhe, também é pegador de pênaltis. Na última semana, a família postou vídeos do menino fazendo defesas.
— Ele (Pablo) vive um momento especial, está se encontrando dia após dia com os amigos novos na categoria de base do Cruzeiro. Está vivenciando coisas novas que trazem alegria ao nosso coração. E postou as defesas de pênalti no treinamento, sempre legal essa interação com os amigos de clube, esperamos que ele possa vivenciar muitos e muitos anos assim e a gente vai aprendendo também — disse Fábio após o jogo de domingo.
E além de goleiro, religioso, cruzeirense e pai orgulhoso, apareceu na segunda-feira (2) uma nova faceta do ídolo. Mato-grossense altamente ligado a Minas Gerais, ele foi convidado pelo Solidariedade para concorrer a vice-prefeito de BH nas eleições de 2020, justamente quando termina seu contrato com o Cruzeiro e, possivelmente, sua carreira. Fábio, no entanto, usou as redes sociais para negar sua participação na política.
É nessa bandeira que o Cruzeiro deposita a confiança de chegar à terceira final seguida de Copa do Brasil. É essa estrela que o Inter precisará superar.