Para o Inter, ser campeão terá significado especial. Se não tem tantas quebras de recordes ou marcas especiais e inéditas, o título gaúcho, ainda mais em cima do maior rival, será um fim definitivo no que se costumou chamar de "reconstrução" do clube após o período sombrio nas agruras da Série B e o retorno à elite com direito a vaga na Libertadores.
Claro que há recordes em jogo. Quarenta e cinco vezes campeão gaúcho, o clube ampliaria seu handicap, aumentando para nove troféus de vantagem sobre o Grêmio, o que igualaria a maior distância da história (nove também, em 2016). O título impediria que o clube ficasse três anos seguidos sem o Estadual, algo que ainda não ocorreu no século 21. E, óbvio, há também o carimbo de ter uma faixa dentro da casa do rival — dentro da rivalidade, algo como o último triunfo de Gauchão do Olímpico e a primeiro da Arena.
A conquista de oito anos atrás, aliás, foi uma das mais festejadas recentemente. A razão maior, segundo os envolvidos, foi a improbabilidade que acompanhou o título. O time de Paulo Roberto Falcão foi à final do Estadual ganhando o segundo turno nos pênaltis em cima do próprio Grêmio. Na primeira partida das finais, após ser eliminado na Libertadores em casa pelo Peñarol, perdeu por 3 a 2 no Beira-Rio.
O regulamento previa gol qualificado na final, e, na partida de volta, Lúcio abriu o placar para os mandantes. Então, Zé Roberto entrou no lugar de Juan Jesus, os colorados viraram o placar para 3 a 1, mas acabaram permitindo o gol de Borges, que levou a decisão para pênaltis. O Grêmio chegou a ter duas chances de ser campeão, mas Victor não defendeu as cobranças de Bolatti e Nei. Depois, Adilson parou em Renan, e Zé Roberto fez o gol final.
— Estávamos sendo massacrados naquela semana, pelo resultado do jogo de ida. Para piorar, saímos perdendo. Mas buscamos forças, acreditamos e viramos. Foi o Gre-Nal mais marcante para mim. Tive a responsabilidade de fazer o gol e consegui. Depois, lavamos a alma festejando porque só nós sabíamos o que estávamos passando. Um clube como o Inter nunca pode ser desprezado. Vejo algo parecido agora — aponta o lateral Nei.
Mas afora os marcos históricos, existe muito mais em disputa na noite da zona norte de Porto Alegre. Separando os personagens individualmente, encontra-se outros significados. O mais importante deles é o técnico Odair Hellmann. Com uma carreira praticamente recém-nascida como treinador, de menos de um ano e meio, ele luta por seu primeiro título sendo o comandante da equipe.
Entre os atletas, ser campeão gaúcho também pode ser especial para quem viveu todo o processo de sair do buraco da Segunda Divisão. Jogadores como Cuesta, Edenilson, D'Alessandro e Pottker aceitaram ir (no caso de D'Ael, voltar) para o Inter mesmo sabendo o que teriam pela frente. Outros, como Marcelo Lomba, Rodrigo Dourado e Nico López estavam inclusive no ano da queda.
— A maturidade que a nossa equipe vem adquirindo é importante. A gente consegue vitórias fora, tem um grupo maduro e que está conquistando confiança junto — destacou o volante Edenilson.
Fora de campo, além da torcida, para os dirigentes também está em disputa a marca de um trabalho. O presidente Marcelo Medeiros e o vice Roberto Melo assumiram o comando do clube no final de 2016. Montaram um grupo, contrataram e demitiram treinadores e trouxeram e dispensaram jogadores. Bancaram Odair e, agora, podem colher os frutos da aposta para além do terceiro lugar no Brasileirão do ano passado e a arrancada de 10 pontos em quatro rodadas na atual Libertadores.
— Com o clube organizado, é chegado o momento de uma segunda etapa deste percurso. Se lá atrás a angústia foi substituída por esperança, agora, vamos em busca da alegria proporcionada por novas conquistas — declarou Medeiros.
Essa direção perdeu a decisão que disputou, para o Novo Hamburgo em 2017. Por isso, o Gauchão, para o Inter, valerá tanto. Principalmente por acabar em Gre-Nal.