A ansiedade e os batimentos cardíacos acelerados começaram bem antes das 16h deste domingo (9), quando se iniciou o Gre-Nal 417, para as crianças que entraram com os jogadores até o centro do gramado do Beira-Rio. Há menos de uma semana esse ritual fez a Nação Colorada ganhar mais um integrante. Aos nove anos e por ter parte da família gremista — inclusive o irmão mais velho —, o garoto não conseguia definir bem qual o time do coração. O pai, colorado de raiz, se esmerou para oferecer o menu completo na noite estrelada: o menino veio especialmente de Passo Fundo para entrar com o time em campo; acompanhou a conquista sobre o Flamengo com toda a família e, ainda, comemorou a chegada ao topo da tabela. O pai não parava de sorrir, seus dois garotos ali, juntos, interação e sentimento no mundo real.
Nestes tempos em que, às vezes, irritados e impacientes precisamos trazer nossos filhos à tona, interrompendo o mergulho nos smartphones e no mundo virtual, compartilhar um programa como este em um estádio de futebol é golaço. Pesquisas apontam que o brasileiro passa, diariamente, 9 horas e 14 minutos navegando na Internet, independentemente do dispositivo. Em mais de 200 nações, é a terceira no pódio entre as que mais passam tempo "enredadas".
E para ver como os cenários são voláteis. Não faz tanto tempo assim, o futebol era acusado de ser o "ópio do povo", expressão emprestada de um raciocínio do filósofo e sociólogo Karl Marx relativo à religião. Hoje, levar os filhos ao Beira-Rio, à Arena _ e melhor ainda na ecumênica Torcida Mista —, em um ginásio de vôlei ou de basquete, ou a um parque e se esticar no gramado de um parque tem um significado que faz bem à alma, nos aproxima de quem a gente mais ama.
O próprio Inter e também o Grêmio têm sido exemplos de resiliência _ uma habilidade que todos nós precisamos em qualquer campo, seja no esporte, na política, na educação, na cultura. Não se dar por vencido diante das adversidades e ainda buscar se fortalecer com essas dificuldades são qualidades de quem é resiliente.
Ao pisar na grama daquele verde hipnótico do Beira-Rio, ao lado de um dos jogadores do Inter, o menino criou uma memória afetiva, vivida simultaneamente pelo pai. Esses laços a gente quer mesmo que fiquem enredados para sempre. Como um nó cego.