É dessas coisas que nem parecem vida real. Há quanto tempo olhamos para o centro-avante do Corinthians, do Flamengo e da seleção peruana e pensamos: "que jogador! Seria tão legal ter ele defendendo o Colorado em algum momento"? Pois ele chegou no domingo último. O dia dos pais vermelho veio com a confirmação da contratação de Paolo Guerrero para assumir o ataque do Inter. Parece negociação de video-game, mas está acontecendo de verdade.
O novo contratado é de relevância tamanha que, através da sua chegada, o nome do Sport Club Internacional passou a aparecer em lugares que há muito o escanteava. O anúncio foi destacado durante transmissão da Premier League. O vídeo da sua apresentação passou no intervalo do jogo do Flamengo. Todos os programas esportivos do centro do país no domingo dedicaram pelo menos um bloco a debater o Inter, mesmo que o colorado só vá entrar em campo na segunda-feira.
Guerrero recoloca o Inter no centro das atenções, no destaque dos noticiários. Com ele, o Inter volta a ser protagonista no cenário nacional e sulamericano. Encerra-se o caô, o papo segundino, a aura de "rebaixamento" e "reconstrução" que nos cercava. O Inter, para além do futebol consistente que vem apresentando, se recoloca como o clube gigante que é neste país e neste continente.
É o camisa nove que 98% dos clubes da América do Sul gostariam de contar, pela bola e pela dedicação que coloca em campo. Um atleta que teve destaque mundial no período da Copa, quando capitães e treinadores de diversas equipes mundialistas manifestaram seu apoio a Guerrero quando da sua absurda e insensata punição por ter tomado chá (hábito comum e cultural no seu país).
A cultura peruana, aliás, é outro fator pesado nessa transação. Não haveria nada mais legitimamente colorado do que trazer um centro-avante do Peru. A bandeira do país ostenta com orgulho vermelho e branco. Para eles, o rubro é referência ao povo Inca e à bandeira do reino de Castela, mistura que cria o país. Estamos trazendo um representante legítimo da cultura do continente mais lindo deste planeta. O nome ideal para protagonizar um projeto de reconquista dessa América tão querida.
E é esse o maior desafio de Guerrero. Se ele chega hoje, em 2018, com a possibilidade - embora distante - de nos auxiliar a reconquistar o país há quarenta anos distante, a maior meta futebolística para o jogador nestes longos três anos de contrato será colocar no museu do Inter mais uma taça da Libertadores. Só uma conquista desse tamanho será digna de todo o esforço e ansiedade que estamos construindo ao redor da sua chegada.
Não é Fifa, não é PES. Marcelo Medeiros e Roberto Melo posaram e apresentaram oficialmente Paolo Guerrero como jogador do Sport Club Internacional. Um representante legítimo do povo deste continente chegando para vestir a pesada camisa do clube do povo do Rio Grande do Sul. Poucas vezes se viu por aqui uma combinação tão grandiosa de fatores, um alinhamento tão gigantesco de astros.
É dessas coisas que nem parecem vida real.
Voltamos a ser protagonistas.
Acabou o caô.