A Venezuela está na quarta posição das Eliminatórias para a Copa do Mundo após seis rodadas e, naquela brincadeira de “e se o campeonato acabasse hoje?”, estaria garantida no Mundial de 2026 — mesmo se não houvesse a mudança no regulamento da Copa e ampliação de vagas para a Conmebol, que agora classificará seis e terá um sétimo representante na repescagem. Além de uma geração promissora, a Vinotinto conta com o diferencial de Yeferson Soteldo, próximo de ser anunciado como novo reforço do Grêmio.
— É meu sonho. Sabemos que temos um bom time para chegar lá. Agora são sete vagas, mas queremos ir direto — revelou Soteldo em entrevista ao canal Cartoloucos.
Se depender do baixinho, a Venezuela estará na Copa do Mundo. Titular da seleção nas últimas três rodadas das Eliminatórias, ele só não fez chover na goleada por 3 a 0 sobre o Chile, quando fez o gol que abriu o placar e preparou a jogada para Salomón Rondón ampliar. No país da costa norte da América do Sul, ele é ídolo e conta com o carinho do povo que faz questão de estar próximo nas férias no país.
— É impressionante o apoio do povo venezuelano nestas férias, nas boas e nas más, mesmo com o descenso do Santos. Ele é referência da seleção, com uma massa de seguidores. Apoio que, espero, possa nos levar à Copa do Mundo — destaca Jair Pineda, jornalista do Noticias Express, da Venezuela.
Para alcançar esse status em seu país, porém, Soteldo teve de enfrentar obstáculos. O principal deles, sobrevier no bairro El Muertico (em português, O Mortinho), um dos mais pobres da região de Acarigua. Líder de dribles do último Brasileirão (média de 2,9 por partida), o atacante é grato ao futebol por ter escapado do caminho da violência, trilhado pelos seus amigos de infância.
— Se não fosse o futebol, eu teria terminado mal, talvez morto — disse Soteldo em entrevista ao portal La Tercera, em 2017.
Outra questão que o provável novo jogador do Grêmio teve de driblar foi o preconceito com o seu tamanho. São incontáveis as vezes que o atacante ouviu comentários de desconfiança sobre seus 1m60cm. Além disso, apelidos como Maçãzinha e Barney (dos Flinstones) tornaram-se comuns. Inspirado em Lionel Messi, seu ídolo, ele fez um tratamento de crescimento, ainda quando jogador do Zamora, e ganhou 13 centímetros.
"Pequeno gigante"
Aos 13 anos, Soteldo teve a oportunidade de atuar nas categorias de base do Caracas. Porém, o que atrapalhou sua permanência no maior clube no país foi uma má conduta, que é admitida por ele — estes problemas de indisciplina, aliás, seriam recorrentes na carreira.
Uma nova chance em seu país natal veio no Zamora, onde conseguiu se desenvolver e demonstrar que tinha capacidade de ser titular da equipe de Barinas num jogo contra o Boca Juniors, na Bombonera, pela Libertadores de 2015, quando tinha 16 anos. Daí em diante, a carreira só cresceu.
Em 2017, Soteldo virou o "Pequeno Gigante" atuando pelo Huachipato, do Chile (aquele que enfrentou o Grêmio na Libertadores de 2013). A rápida e destacada passagem, somada ao desempenho na seleção sub-20, vice-campeã mundial naquele ano, o levou para a Universidad de Chile, um dos principais times do país. E em Santiago, com bons jogos contra o Vasco na competição continental, chamou a atenção do mercado brasileiro.
Idas e vindas no Santos
Na Vila Belmiro, Soteldo não sentiu responsabilidade ao vestir a 10 de Pelé, rapidamente caiu nas graças da torcida e carinhosamente virou "Soteldinho". Ao lado de Marinho, foi destaque do Peixe comandado por Jorge Sampaoli que foi vice-campeão brasileiro e, no ano seguinte, finalista da Libertadores. Para Bruno Lima, jornalista que atua na cobertura do Santos para o portal Trivela, o atacante foi de um jogador fundamental na primeira passagem, para uma decepção na segunda.
— Ele sai do Santos para o Toronto, mas não vai bem. Depois, tem problemas extracampo no Tigres e volta por empréstimo. Chegou como um jogador completamente diferente. Foram muitas lesões e erros que prejudicaram o Santos no Brasileirão, como a expulsão contra o Grêmio — disse Bruno Lima.
Na temporada que terminou com o Santos rebaixado, o venezuelano esteve em campo em apenas 35 partidas (56%), com um gol e oito assistências. A trajetória também ficou marcada por um atrito com o técnico Paulo Turra, que lhe causou um afastamento do elenco profissional por um período.
Questionado sobre o comportamento de Soteldo, Rafael Dudamel, técnico da Venezuela sub-20 em 2017, contou ao La Tercera que o jogador precisava ser “protegido, amado e cercado”. Capacidades que Renato Portaluppi, técnico do Grêmio, já demonstrou ter com outros jogadores e que poderão ajudar o venezuelano na sua estadia em Porto Alegre.