Luis Suárez está acostumado a ser o centro das atenções. É assim desde sua chegada em Porto Alegre, quando foi anunciado para quase 40 mil pessoas na Arena como jogador do Grêmio até o fim de 2024. Mas a noite desta quinta-feira (22) teve um elemento novo na relação com o uruguaio de 36 anos. O 3 a 1 s0bre o América-MG foi o primeiro jogo desde que foi tornado público a manifestação feita para a direção do clube do seu desejo de se aposentar por conta das dores em seu joelho direito. Uma noite de compromisso, companheirismo, atitude e gol. Exatamente o que ele prometeu na primeira vez em que esteve na Arena, vestindo a camisa tricolor.
Todos os olhares na zona mista da Arena se concentraram em apenas uma pessoa quando o ônibus com a delegação gremista chegou ao estádio. Último a descer do veículo, Suárez, de capuz na cabeça e mate na mão, entrou a passos rápidos no local. O deslocamento de 45 segundos foi sem aquele jeito tradicional de caminhar. Sem mancar, o jogador entrou no vestiário e se preparou para mais uma partida.
De chuteiras e uniforme, saiu e voltou ao vestiário após aquecimento no gramado. Ouviu o urro vindo das arquibancadas quando teve o nome citado no anúncio da escalação para o jogo contra o América-MG. Posicionado ao lado dos companheiros, antes da execução do hino nacional, fez o tradicional gesto dos três dedos em riste em direção aos camarotes da Arena. Uma homenagem para a esposa Sofia, a filha Delfina e os filhos Benjamin e Lautaro.
São momento sutis em que se percebe que há alguma coisa que incomoda Suárez em campo. Ele dá um pique e não esboça reação. Busca a tabela, troca um passe ou arrisca um chute e ninguém vê um tipo diferente de reação. Mas quando a bola está longe do uruguaio, sem a possibilidade de sua participação no lance, o camisa 9 puxa um pouco a perna direita e manca visivelmente. O que era discreto, fica exposto por conta de um adversário. Aos 19 minutos, uma trombada com Lucas Kal o levou ao chão.
Aos berros, levou a mão ao joelho direito, que sofre os efeitos da artrose. Esparramado no gramado, o uruguaio deixou claro o quanto sentia a pancada. O aplauso da torcida quando ele se ergueu serviu de motivação. Saiu caminhando levemente, ajustou a braçadeira de capitão e fez um sinal de positivo em direção ao banco de reservas.
Um minuto depois, se abaixou. Dobrou o joelho e voltou a buscar o ar lentamente. A puxada de perna ficou mais perceptível por alguns instantes. Minutos depois, Suárez mostrou estar recuperado. Após cruzamento, acertou a trave. Mais chocado do que dolorido, o uruguaio lamentou a chance perdida. Quando Avelar marcou o gol de cabeça para o América-MG, Suárez ergueu os braços para cobrar os companheiros. Foi ele quem levou a bola em direção ao grande círculo e recomeçou o jogo.
Incomodado com o placar adverso, tentou organizar o posicionamento dos companheiros durante os ataques. Ergueu as mãos e indicou a Cuibano onde o jovem deveria estar. Quando o companheiro acertou o movimento, o Grêmio empatou. Em uma disparada de Bitello, Suárez deu um passe que encontrou o jovem meio-campista na condição ideal para cruzar. A tentativa virou gol com a grande colaboração de Matheus Cavichioli. O gol foi de Bitello, mas os companheiros cercaram a Suárez e o abraçaram. Um gesto de reconhecimento pela genialidade na origem do lance.
Seu primeiro chute ao gol saiu aos 42 minutos. A tentativa buscava o ângulo esquerdo de Cavichioli, mas saiu mais alto do que o esperado. A torcida vibrou mesmo que a bola tenha passado longe.
Sem diminuir o ímpeto
A caminhada em direção ao vestiário ao final do primeiro tempo foi em ritmo tradicional. Passos lentos, com um pouco de favorecimento para a perna direita. A postura mais ofensiva do time no segundo tempo o deixou ainda mais solto em campo. Saía da área e buscava orientar a movimentação dos colegas como se fosse um maestro regendo sua orquestra. Como se fosse um meia, lançou Reinaldo no lado esquerdo. O cruzamento do lateral encontrou Villasanti e saiu a virada sobre os mineiros. Sem pressa, o uruguaio caminhou até o bolinho dos companheiros que comemoravam o gol.
A vantagem no placar não diminuí o ímpeto de Suárez. Quando ele deixa de receber uma bola que ele acha que deveria receber, o companheiro ouve a reclamação do centroavante. A fome de gol o mantém ligado na partida. E ele encontra sua recompensa.
Após marcar o seu gol em chute de perna esquerda, em uma infiltração rápida nas costas dos marcadores, o uruguaio corre em direção a bandeirinha e gira o dedo em frente ao rosto. Como se dissesse que é loucura ainda ser alvo de dúvidas.
O cansaço passou a tomar conta. Renato buscava uma resposta do jogador sobre suas condições. A demora para recompor sua posição no comando do ataque indicava que o fim de sua noite se aproximava. E do nada surgia fôlego para um pique de 30 metros, trombada no marcador e outra chance de gol.
Um drible rápido e outra arrancada furiosa o deixaram na frente de Cavichioli, mas o chute de esquerda parou na trave. A caminhada lenta de volta para sua posição teve o aplauso da torcida como música de fundo.
Aos 34, Renato resolveu dar fim à noite de Suárez. O técnico chamou André Henrique e indicou a troca. O uruguaio se abaixou e se apoiou nos joelhos. Caminhou vagarosamente até o círculo central. Tirou a braçadeira, chamou Bruno Alves e entregou a faixa ao companheiro. Tirou a faixa branca do punho, aplaudiu de volta o carinho recebido do torcedor e se dirigiu ao banco de reservas com os gritos de "Suárez, Suárez" ecoando no seu ouvido.
Um fim de uma noite agitada para o Pistolero.