Geromel completará na próxima segunda-feira (16), contra o Ituano, o seu jogo de número 350 com a camisa do Grêmio. Uma trajetória que iniciou com dificuldades, mas que se fez presente nos principais momentos do clube nos últimos anos. Com nove títulos de expressão conquistados desde a sua chegada no final de 2013, o zagueiro de 36 anos é um dos titulares do time de Roger Machado na busca pelo retorno à elite do futebol brasileiro.
A história de Geromel se mistura com o início da era de conquistas do Grêmio na última década. O zagueiro chegou a Porto Alegre sob forte desconfiança, mas calou cada crítica que recebeu com suas atuações dentro de campo. O rendimento garantiu espaço até mesmo entre os convocados da Seleção para a Copa do Mundo de 2018. Agora, em 2022, está sendo aplicado em uma tarefa que se imaginava pouco provável até o final do ano passado: a disputa da Série B.
O rebaixamento bateu forte no zagueiro, que teve um ano de 2021 de poucos jogos e uma rotina de problemas físicos. Em janeiro, ainda pelo Brasileirão de 2020, Geromel sofreu lesão no ligamento do tornozelo esquerdo após disputar uma bola com Yuri Alberto e perdeu os três primeiros meses do ano.
Voltou a jogar em abril. Durante a luta contra o rebaixamento, perdeu metade de agosto, todos os jogos de setembro e só voltou em 31 de outubro, após se recuperar de uma fratura no pé sofrida em um treino. Por conta da suspensão, não esteve em campo no jogo que confirmou o rebaixamento sobre o Atlético-MG. Um ano de apenas 35 jogos e muitas decepções.
Mesmo longe dos gramados na rotina de treinos e jogos, Geromel se fez presente diariamente no CT Luiz Carvalho e sempre que possível no vestiário antes das partidas. Líder e uma das principais referências, tentou mobilizar os companheiros na luta contra a queda.
De São Paulo, Valmir Geromel tenta acompanhar a rotina do filho Pedro da forma mais presente possível. O futebol apresentou uma série de dificuldades para o jovem em seu início da carreira. Sem espaço na base dos clubes paulistas, buscou as primeiras oportunidades na Europa. Amargou as divisões inferiores de Portugal até chegar nas principais ligas do continente. Mas nenhum dos obstáculos marcou tanto quanto a queda do Grêmio no ano passado:
— O rebaixamento magoou muito ele. Sentiu muito mesmo. Ele nos dizia que tentava conversar no vestiário para ajudar, mas muitas vezes via que ficava ainda mais difícil. Eram dois puxando para a frente, dois para um lado e dez empurrando para trás. Foi muito complicado para ele assimilar. Por isso, o empenho dele agora é em colocar o time novamente na Série A — revelou Valmir, que ao lado da mãe de Geromel, Eliane, estará em Itu acompanhando ao jogo do filho.
Dificuldades iniciais
O início de sua carreira no Tricolor foi bastante diferente do status atual do defensor. Marcou um gol contra em sua segunda partida, contra o São Luiz, e deixou de fazer parte da lista de relacionados para algumas partidas no início de 2014. E como é comum aos jogadores recém-chegados, virou alvo das brincadeiras dos companheiros no vestiário.
Um hábito seu virou motivo para risadas no grupo. A rotina era de que os jogadores deixassem as malas nos carros nos dias em que se iniciaria a concentração, mas Geromel costumava entrar com ela no vestiário. Sem estar relacionado, tinha que carregar novamente a mala para casa. Um dia, o zagueiro Rhodolfo tentou brincar com o companheiro.
— PG. Pô, os caras dão risada de ti com essa mala aí — disse, antes de ouvir a réplica de Geromel:
— Fiquei desde os 18 anos na Europa, já ganhei meu dinheiro e agora quero usufruir disso aqui com vocês — brincou.
Esse é um dos exemplos de como o zagueiro se tornou um dos personagens mais queridos nos bastidores do Grêmio — e não apenas entre jogadores, comissão técnica e direção. O atual capitão da equipe só recebe elogios pela preocupação com o bem-estar geral no CT Luiz Carvalho.
Hoje no São Paulo, o diretor-executivo Rui Costa foi quem viabilizou a vinda do zagueiro, na época desengonçado e com cabelo engraçado. Apesar das dúvidas, o jogador mostrou em Porto Alegre que o dirigente tinha razão nas discussões sobre a contratação. Poucos imaginariam que o defensor que marcou um gol contra no seus primeiros jogos no Interior do RS teria destaque marcando Cristiano Ronaldo na final do Mundial de 2017.
— Uma vez o Edinho me disse que jogou em grandes times, mas jogar com o Geromel era muito fácil. Ele cantava o jogo o tempo todo. Naturalmente se dedica aos outros. No campo, no vestiário, no CT. Por isso conquistou tudo o que conseguiu — comentou Rui.
Técnico pela maior parte dos 350 jogos de Geromel, Renato Portaluppi foi quem mais conviveu com o zagueiro na Arena. E contou como o zagueiro virou seu homem de confiança.
"Geromel é um capitão na sua essência. Líder dentro e fora de campo. Da mesma forma que ele cobra muito dentro de campo, também orienta e tem um cuidado com os mais jovens"
RENATO PORTALUPPI
ex-técnico do Grêmio
— Mais do que merecido qualquer homenagem. Geromel é um capitão na sua essência. Líder dentro e fora de campo. Da mesma forma que ele cobra muito dentro de campo, também orienta e tem um cuidado com os mais jovens. Tem clube com jogador usando a braçadeira que não faz nada, mas o Geromel merece ser ídolo e receber todas as homenagens. Está sempre preocupado com o time. Conversava muito comigo, sempre procurava ajudar com soluções — elogiou Portaluppi.
Permanência encaminhada
O perfil discreto se confirma como realidade apenas na vida pessoal do jogador. Dentro do vestiário, nos treinos e também nos jogos, o zagueiro tem voz ativa. "Fala pelos cotovelos", dizem os companheiros de dia a dia. Muita conversa para cobrar, mas também para tentar proteger quem ainda está no início de carreira. Em contato com GZH, Geromel citou o título da Libertadores como o momento de maior orgulho em seus nove anos de Grêmio. Mas que o cuidado com os jovens é um dos pontos mais importantes para ele, que faz questão de passar adiante os ensinamentos que recebeu na carreira.
— Quando cheguei o Grêmio, estava 15 anos sem ser campeão. Ter conquistado os títulos e levar alegria aos torcedores é muito bom. O legado que quero deixar é de ter orgulho de vestir essa camiseta todos os jogos, de fazer o meu melhor sempre e de mostrar para os mais jovens que é possível ter sucesso sendo simples e íntegro —disse.
O zagueiro tem permanência encaminhada no Grêmio para 2023. O jogo contra o Ituano será o 15º consecutivo, maior sequência de partidas desde a sua chegada ao clube. Quem conhece o jogador não descarta que ele opte pela continuidade da carreira. E se possível, ainda com a camisa do Grêmio.
"O legado que quero deixar é de ter orgulho de vestir essa camiseta todos os jogos"
PEDRO GEROMEL
ZAGUEIRO DO GRÊMIO
— É um ano diferente, ele tem conseguido se recuperar (fisicamente). Comentou esses dias que tem muitos anos que não se sentia tão bem. Acredito que continua no ano que vem e aí vamos ver. Não acredito que ele saía do Grêmio. Tem gratidão por tudo que conseguiu — citou Valmir.
Para o torcedor gremista, a esperança é de que o pai de Geromel esteja certo e o zagueiro possa concluir a carreira em Porto Alegre. Com o clube de volta ao seu lugar, e talvez com mais uma conquista importante para coroar ainda mais o ídolo.