O empresário Valmir Geromel, 59 anos, e a dona de casa Eliane Tonon, 57, guardam com orgulho na casa da família as relíquias da trajetória do filho mais velho. Entre as principais, estão a credencial da Copa do Mundo 2018 e a medalha de prata no Mundial de Clubes 2017, em Abu Dhabi. Porém, a carreira de Pedro Geromel, 33 anos, foi marcada por várias dificuldades desconhecidas do público. Antes de virar "Geromito", o defensor superou problemas de adaptação e também críticas que marcaram a sua chegada ao Grêmio, em dezembro de 2013.
Na manhã deste sábado (24), Valmir e Eliane receberam a reportagem de GaúchaZH na casa onde Pedro Geromel viveu dos quatro aos 17 anos, no bairro Vila Maria, na zona norte de São Paulo. Em uma conversa de uma hora e meia, o casal contou os bastidores de tudo que o filho passou até se tornar um dos maiores zagueiros da história do Grêmio.
O principal obstáculo não foi a desconfiança, nem as críticas e nem mesmo a famosa entrevista de um jornalista espanhol que definiu o zagueiro como "muy malo", em 2013. O problema maior era a dificuldade de adaptação ao futebol brasileiro. Acostumado a atuar com laterais defensivos na Europa, Pedro Geromel não conseguia cobrir os avanços dos laterais brasileiros.
– O Pedro me falava naquela época: "Pai, eu olho para o lado e pergunto: 'cadê os meus laterais? Eles estão todos lá na frente'". Isso não existia na Alemanha. Na Europa, quando o lateral-direito sobe, o lateral-esquerdo fica. E vice-versa. Aqui no Brasil, sobem os dois ao mesmo tempo. E o Pedro precisava aprender como compensar isso. Mas aos poucos ele foi se adaptando ao estilo de jogo brasileiro. E graças a Deus deu certo – relembra Valmir.
Para Pedro Geromel, vários técnicos contribuíram para a sua adaptação. Porém, Roger Machado foi o que mais lhe ensinou a cobrir as saídas intempestivas dos laterais brasileiros.
– O Pedro tece elogios muito grandes ao Roger, que o ajudou muito. O Roger deu para ele essa consistência tática. E também o Felipão, que, quando assumiu o Grêmio, deu a ele essa conotação de retaguarda segura _ completa Valmir.
Mas o atual técnico, Renato Portaluppi, não fica atrás nos elogios proferidos pelo zagueiro.
– Ele considera o Renato o melhor treinador que ele já teve o prazer de trabalhar. Ele me disse: "Pai, o Renato é uma pessoa que interpreta muito bem o momento e a realidade do vestiário". Por que é muito difícil administrar o ego de 25 pessoas. E o Renato tem isso muito sob controle – explica.
Entre as críticas que Pedro Geromel recebeu, teve uma em especial que ele teve dificuldade de compreender. Dono de uma técnica apurada, o zagueiro sempre teve a virtude de fazer o desarme de forma limpa, sem cometer falta. Porém, acabou sendo contestado por uma suposta falta de "virilidade".
– Essa foi uma cobrança que ele sofreu em Portugal e também em Porto Alegre. Ele me falava: "Pai, eu não preciso fazer falta. Eu preciso desarmar. E eu consigo desarmar sem fazer falta. Então, eu não entendo porque eles querem que eu faça falta, se não é necessário". E é assim que ele atua. Ele só faz a falta em casos extremos – conta Valmir.
A ligação de Geromel com o futebol começou quando criança no futsal, na base da Portuguesa e nos jogos da várzea, onde conheceu o amigo Elias, hoje volante do Atlético-MG. Ambos treinaram juntos na base do Palmeiras e cultivaram uma grande amizade.
– O futebol sempre fez parte da vida do Pedro. Não tínhamos essa expectativa (de ele virar jogador). Ele jogava porque ele amava jogar. Não esperávamos nenhum retorno. Mas aconteceu. Ele e o Elias iam sempre de ônibus treinar juntos no Palmeiras. Com frequência, eles paravam aqui em casa para almoçar – relembra a mãe Eliane.
Após quase dez anos na Europa, entre Portugal e Alemanha, Pedro Geromel chegou ao Grêmio, contratado pelo então diretor-executivo de futebol, Rui Costa. Após superar a desconfiança de torcida e imprensa, tornou-se titular absoluto da zaga, ganhou seis títulos, entre eles a Copa Libertadores 2017, virou capitão e se tornou um dos maiores zagueiros da história do clube. Além de referência da torcida, é um líder para os mais jovens do elenco gremista.
– O Pedro sempre procura orientar e dar o ombro amigo aos atletas. Ele e o Maicon têm um trabalho excepcional fora de campo. Pelas conversas que temos com eles, os jogadores têm um respeito muito grande pelas cobranças. E o Pedro cobra muito o profissionalismo. Ele é muito dedicado, sempre cita para eles o Zé Roberto como um exemplo de dedicação e comprometimento – comenta Valmir.
Na casa dos Geromel, há um vasto material com recordações da carreira do zagueiro. Na garagem, estão expostos na parede vários pôsteres e camisetas da Seleção Brasileira, do Grêmio e do Colônia-ALE. Em um armário, mais de dez pastas guardam centenas de recortes de jornais portugueses, alemães e gaúchos. Em meio aos papéis, está uma coluna do jornalista de GaúchaZH, David Coimbra, escrita em 1 de novembro de 2018, com o título: "Geromel é o melhor zagueiro que eu vi no futebol gaúcho".
Sob os cuidados de Valmir e Eliane, o acervo conta a história de como Pedro Geromel virou "Geromito".