Vice-presidente eleito no Grêmio desde a última posse de Fábio Koff, em 2013, Marcos Herrmann voltou a sentar nesta terça-feira (20) em uma cadeira que deixou há 23 anos: a de vice de futebol. Ele ocupou o cargo entre 1997 e 1998, sob a gestão de Luiz Carlos Silveira Martins, o Cacalo. Ao lado do presidente Romildo Bolzan, Hermann repetiu em sua apresentação uma frase dita na primeira passagem pela função.
— Se eu quiser botar uma marca, é da taça no armário. Isso que eu gostaria de deixar de legado para o clube. Isso é um sonho, mas tem tantos outros clubes querendo — disse.
No passado, o discurso era parecido. Dizia, por exemplo, que preferia títulos vencidos com base na força do que um futebol bem jogado que não levasse a conquistas. Além do discurso, uma semelhança do Grêmio de 1998 com o atual é a reformulação de um elenco que foi vencedor nos anos anteriores. Do grupo campeão da Copa do Brasil contra o Flamengo no ano anterior, o Tricolor já havia perdido o meia Emerson, vendido ao Bayer Leverkusen, o atacante Paulo Nunes, que foi para o Benfica-POR, e o meia Carlos Miguel, negociado com o Sporting-POR. Teve de abrir mão ainda do lateral Arce, comprado pelo Palmeiras, e de Dinho, dispensado após sofrer com lesões. Era, portanto, a formação de um novo time.
— Para tentar manter o padrão, o Grêmio havia contratado (em 1997, após o título da Copa do Brasil) o Beto, na época a maior transição do futebol gaúcho. Chegaram também o Guilherme e o Sérgio Manoel com altos custos, mas nenhum deu o retorno. Como tinha gastado muito, 1998 foi de contratações sem muita grana — relembra o colunista de GZH Leonardo Oliveira, à época setorista do clube por Zero Hora.
Aquela equipe também tinha em comum o surgimento de jovens das categorias de base. Se hoje o time de Tiago Nunes terá nomes como Ferreira e Jean Pyerre, aquele tinha figuras como Ronaldinho e Tinga, este lançado por Hélio dos Anjos ainda em 1997. O treinador escolhido para começar o ano foi Sebastião Lazaroni.
— O Hermann fez uma análise de mercado, buscou nomes, tabulou virtudes de cada um. Teve um estudo para fazer a contratação, mas dentro de campo acabou não dando certo — recorda.
As coisas não deram certo mesmo para Lazaroni. A passagem do técnico pelo Estádio Olímpico durou poucos meses, e ele foi demitido após a eliminação para o Brasil-Pel nas quartas de final do Gauchão. Para o seu lugar, Herrmann apostou no ex-zagueiro Edinho, capitão gremista no título da Copa do Brasil de 1989.
A chegada de Edinho não foi suficiente para melhorar o rendimento time. Com o novo técnico, o Grêmio foi eliminado pelo Vasco nas quartas de final da Libertadores, começou com derrota na Copa Mercosul e estreou no Campeonato Brasileiro perdendo Gre-Nal no Beira-Rio. Após derrota de virada para o Atlético-MG, no Olímpico, pela segunda rodada do Brasileirão, a direção decidiu tomar outros rumos. Junto do treinador, saiu também o vice de futebol Marcos Herrmann, em uma passagem que durou cerca de nove meses.
— Ele é um sujeito extremamente cordato, supereducado, de finíssimo trato. Pegou um desafio de reconstrução e foi difícil. Era um grupo complicado, que tinha jogadores com problemas extracampo — aponta Oliveira.
Desta vez, Herrmann assume o cargo em meio a um processo já em andamento, com o Campeonato Gaúcho se aproximando do seu final, uma troca de técnico e a estreia na Copa Sul-Americana batendo à porta. Vinte e três anos depois, tentará ter sucesso em um desafio que já não lhe é novidade.