Os 41 anos de idade nem de longe servem para classificar Tiago Nunes como inexperiente. Na elite nacional desde 2018, o novo técnico do Grêmio iniciou a carreira no futebol ainda em 2003 e, nos 18 anos de profissão, rodou o Brasil como poucos. Como preparador físico, auxiliar ou treinador, trabalhou em todas as regiões do país. O caminho antes da fama começou no interior gaúcho e teve paradas em Manaus, Lucas do Rio Verde e Brasília. A primeira taça como técnico foi erguida em Rio Branco, no Acre.
A primeira aparição de destaque foi pertinho da sua Santa Maria, onde nasceu e se formou em Educação Física pela UFSM. Era preparador físico do São Luiz de Ijuí que, em 2005, conquistou o título da Divisão de Acesso. O retorno ao Gauchão foi sem sustos, com a liderança isolada do quadrangular final que classificou também o Gaúcho, de Passo Fundo.
— Ele sempre foi um preparador bastante empenhado, gostava das coisas todas feitas da forma certa. O São Luiz estava passando por um momento difícil, e nós tínhamos de trabalhar. Ele estava bastante focado já naquele momento, dizia sempre: "Quero ser vencedor, quero trabalhar em time grande" — revela Jair Galvão, treinador do São Luiz em 2005.
Em 2009, veio o título de campeonato estadual pela Luverdense, clube formado cinco anos antes. O time treinado por Tarcísio Pugliese bateu o Araguaia nos pênaltis após dois empates e levou a taça. Gaúcho de Santo Ângelo, Helmute Lawisch foi o presidente responsável pela contratação do conterrâneo. Ficou sabendo do seu trabalho em uma viagem a Santa Maria, onde também estudou e se casou. O convite para ir ao Mato Grosso foi prontamente aceito pelo hoje treinador gremista.
— Ele já tinha uma postura de alguém que ia dar certo. A postura do Tiago sempre foi a de um cara muito centrado no trabalho — recorda o ex-dirigente.
Na Luverdense, Tiago foi ainda auxiliar técnico e, a partir do segundo semestre de 2010, assumiu como treinador. Lawisch relembra a transição como um processo natural e aponta a dedicação do novo técnico gremista como principal motivo para o crescimento profissional.
— Ele amadureceu aqui (no Mato Grosso). Estávamos colocando um clube no mapa do futebol brasileiro, e ele sempre teve uma postura séria, superinteligente e trabalhadora. Não é de graça que está fazendo essa carreira que tem hoje. Ele é muito dedicado, não fala sem pensar e tem muita liderança. Sempre mostrou ter todos os predicados para ser uma pessoa de sucesso — avalia.
Depois da Luverdense, Tiago rodou. Passou por Rio Branco (Acre), Nacional (Amazonas) e pelos gaúchos Riograndense, Bagé, União Frederiquense e São Paulo-RG. Ainda comandou o time sub-15 do próprio Grêmio e os sub-20 de Juventude e Ferroviária, de São Paulo. Mas foi em outra equipe do Interior que fez o trabalho que mudou sua carreira. Aos 37 anos, à frente do Veranópolis, era o técnico mais jovem do Gauchão de 2017.
Chegou ao VEC com a missão de manter o clube na elite gaúcha, mas conseguiu um quinto lugar na fase de grupos, onde teve a defesa menos vazada, com apenas oito gols sofridos em 11 jogos. Terminou eliminado nas quartas de final, após duas derrotas para o Grêmio de Renato Portaluppi.
— Eu trabalhei com o Tiago em 2016, no São Paulo de Rio Grande. No ano seguinte, recebi o convite do VEC para fazer a disputa do Gauchão e me perguntaram o que achava do nome do Tiago e de outro treinador. Na mesma hora, falei que tinham que investir nele, que era um técnico de alto nível, apesar de ainda não ter recebido uma oportunidade na primeira divisão — conta o meio-campista Athos, camisa 10 daquela equipe.
O veterano atleta de 40 anos, que defendeu o Próspera de Santa Catarina em 2020 e hoje está sem clube, considera o agora gremista um profissional com conceitos modernos.
— É um grande treinador, tem uma metodologia de trabalho muito atualizada. Implantou isso no São Paulo, queria que a equipe dele fosse protagonista. Ele trabalha muito a parte tática, o método de jogo dele é muito repetitivo. É um cara que gosta de trabalhar a repetição. Se tu vai fazer um cruzamento, não vai ser por nada, vai ser algo trabalhado durante a semana com códigos para os laterais ou atacantes de beirada já saberem onde colocar a bola. Ele estuda muito os adversários taticamente e vê as deficiências que podem ser exploradas e passa muito bem para os atletas.
Outra característica apontada por Athos é a dedicação no dia a dia de trabalho.
— O jogador que for profissional, que for um verdadeiro atleta de futebol, dedicado, não terá problema. Ele gosta de jogadores comprometidos com o trabalho. Nos dois lugares onde trabalhamos juntos, sempre colocou o clube antes de qualquer pessoa, fosse treinador ou jogador. Ele se se envolve 110% com o clube. Mesmo sem ter sido jogador, ele está há muito tempo no meio e sabe como funciona dentro do vestiário. É muito tranquilo de trabalhar — opina.
De Veranópolis, Tiago Nunes foi para o sub-23 do Athletico-PR, onde venceu o título estadual de 2018. Com a saída de Fernando Diniz no meio do ano, assumiu a equipe de forma interina e conseguiu o inédito troféu da Copa Sul-Americana. De contrato renovado para 2019, encantou o país com um time que jogava futebol envolvente e deixou pelo caminho Flamengo, Grêmio e Inter para ganhar a Copa do Brasil.
A experiência no Corinthians em 2020, apontada como principal desafio da carreira, foi encerrada sem conquistas após 28 jogos. Agora, Tiago volta ao Estado que conhece como poucos para tentar ser protagonista novamente no cenário nacional.