Imagine um filme, uma série, uma novela ou uma peça de teatro que tem um forte protagonista. Ele sai para trabalhar em Portugal. O elenco fica desfalcado. Mas existe outro ator tão bom quanto, que assume o papel de figura central do espetáculo. Quando tudo parece voltar a se encaixar, este segundo personagem principal também é assediado pelos europeus. Depois de momentos de apreensão nos bastidores, vem a decisão: ele fica, pelo menos até o final da temporada.
Agora pense na conjuntura do Grêmio. A situação acima aplica-se perfeitamente ao drama vivido pelo clube nos últimos dias. A proposta do Porto por Pepê poderia ter tirado o segundo protagonista da equipe no ano, já que o primeiro, Everton, foi vendido ao Benfica, em agosto.
Nem mesmo os 15 milhões de euros (quase R$ 100 milhões) oferecidos pelo clube português conseguiram convencer a direção gremista a liberar o garoto que assumiu o papel de craque do time. Também, pudera, desde a saída de Cebolinha o jogador diferente do Grêmio passou a ser Pepê.
Foram 17 jogos após a despedida de Everton, com apenas cinco vitórias. O aproveitamento do time ficou em 45%. Mas, com Pepê, que marcou seis gols, o rendimento sobe para 51%. Tudo bem, o número ainda não é maravilhoso. Porém, sem ele, a queda é significativa: em seis jogos, foram duas derrotas, três empates e apenas uma vitória — 33% de aproveitamento.
Mais do que apenas gols, Pepê decidiu jogos e foi responsável direto por somar pontos para o Grêmio. Deu a assistência para Thaciano no empate com o Ceará, marcou no 1 a 1 com o Flamengo, abriu o placar na decisão do Estadual contra o Caxias, fez o gol da vitória tricolor no Gre-Nal 427, pela Libertadores, fez o primeiro no 2 a 0 sobre a Universidad Católica e balançou as redes novamente contra o Inter, no empate do fim de semana passado. Ou seja, ajudou a garantir um título, a somar pontos no Brasileirão e conquistar vitórias fundamentais no torneio sul-americano.
— Temos formado vários jogadores aqui no Grêmio. É um trabalho do profissional juntamente com a base. Ficamos felizes no momento em que a gente descobre um garoto. Foi assim com muitos jogadores e eles são vendidos. O último foi o Everton Cebolinha, e o Pepê já estava pedindo espaço. Começou a ganhar com a saída do Cebolinha e vem rendendo, nos ajudando bastante, fazendo gols — disse o técnico Renato Portaluppi após a vitória contra a Universidad Católica, com gols de Pepê e Rodrigues.
Mas o Porto não desistiu de contratar o jovem gremista. Ainda que tenha buscado, por empréstimo, o brasileiro Felipe Anderson, do West Ham-ING, o atacante paranaense de 23 anos, hoje craque do Grêmio, segue nos planos dos portugueses. Na próxima janela de transferências, em janeiro, o clube dos Dragões, com é conhecido, deve voltar à carga por Pepê. E, no ano que vem, o Tricolor admite negociá-lo.
— É uma situação normal. O clube sente quando perde um jogador desse nível, mas o retorno financeiro é importante. Mas, se for inteligente, dá para contratar e formar outros jogadores com esse dinheiro. O Pepê precisa bem orientado e seguir trabalhando para futuramente vir outra proposta, seja do Porto ou de outro grande europeu — destaca Luís Mário, atacante campeão da Copa do Brasil pelo Grêmio em 2001.
E será difícil segurá-lo. Ainda que tenha assinado novo contrato com o Grêmio até 2024 em agosto, com multa de quase R$ 1 bilhão, é difícil competir com o futebol europeu. De acordo com o colunista de GZH Eduardo Gabardo, na renovação Pepê recebeu R$ 400 mil e uma valorização salarial — passando de R$ 80 mil para R$ 150 mil. Uma das cláusulas do novo acordo prevê valorização caso o atleta atinja determinado número de partidas. Assim, o salário passaria a ser de R$ 250 mil mensais.
As cifras ainda são bem menores do que o jogador passaria a ganhar em Portugal, conforme a imprensa local. No Porto, os vencimentos mensais seriam de 100 mil euros (cerca de R$ 650 mil). Até mesmo por isso, o Grêmio pensa em valorizá-lo até o fim do ano para vender por um valor alto. Como tem 70% dos direitos econômicos do jogador, a tendência é de que receba mais por Pepê do que ganhou pelo Everton, já que possui uma fatia maior do passe do atleta.
Caso essa negociação se concretize no início de 2021, o jogador defenderia o Grêmio, ao menos, até a 28ª rodada do Brasileirão, a semifinal da Copa do Brasil (prevista para o final de dezembro) e as quartas de final da Libertadores (no início de dezembro). E o clube precisaria, novamente, buscar uma reposição internamente ou no mercado para a reta final das três competições que terminarão somente no ano que vem.
Grêmio desde a saída de Everton
- 17 jogos
- 5 vitórias
- 8 empates
- 4 derrotas
- 45,09% de aproveitamento
Com Pepê
- 11 jogos
- 4 vitórias
- 5 empates
- 2 derrota
- 51,51% de aproveitamento
Sem Pepê
- 6 jogos
- 1 vitórias
- 3 empates
- 2 derrota
- 33,33% de aproveitamento
Números de Pepê desde a saída de Cebolinha
- 11 jogos
- 6 gols
- 1 assistência
- 2º em chances criadas no Brasileirão (4 oportunidades)
- 5º principal driblador do Brasileirão (3 dribles por jogo)